(Autor: Professor Caviar)
Nos momentos de crise, os "espíritas", exímios malabaristas, confeiteiros e embelezadores de palavras, buscam sempre a palavra final, promovendo a confraternização do bom senso com o contrassenso, tratando a coerência e a incoerência como irmãos.
O livro Companheiro, de mensagens do jesuíta Emmanuel trazidas pelo suposto médium Francisco Cândido Xavier (publicado pela neoroustanguista editora IDE), revela uma mensagem igrejeira sobre a crise, na qual a simples solução é "dar as mãos" e "mostrar a luz aos outros". Pretensamente equilibrado e falsamente lógico, o texto igrejista de Emmanuel, "Tempo de Crise", é um recado simplório feito por palavras embelezadas sobre os momentos de crise.
É muito simplório falar que "somos irmãos", sem que possa resolver dignamente os conflitos. Para o "espiritismo", tanto faz resolver os conflitos na forma de que os que têm demais precisam manter seus benefícios e os que têm menos precisam aceitar suas desgraças. A "negociação" para "equilibrar" as coisas sempre é vista como uma maneira "justa" de regular necessidades e desejos, algo que para o discurso religioso parece ser fácil de acontecer, mas na realidade não é bem assim que ocorre.
O "espiritismo", cada vez mais voltado à Teologia do Sofrimento, por mais que seus ideólogos tentem dissimular essa postura, tanta pôr açúcar para tornar o discurso severo digestível. Isso mostra a incoerência de seus expositores, taxativos e rigorosos nas primeiras pregações, mas nas posteriores tentam adoçar o discurso para afastar a reputação de austeros.
Fica muito fácil dizer que "somos irmãos". Isso significa o quê? Que somos "iguais" a ponto de recursarmos a diversidade social dos dias atuais, pouco se importando na união forçada de pessoas com divergências extremas? O "espiritismo", tão deturpador, quer a fraternidade do bom senso com o contrassenso, e talvez os "espíritas" apelem para que os kardecianos autênticos aceitem os deturpadores - e, de preferência, lhes concedam a palavra final sobre tudo, porque os deturpadores são "mais irmãos" - e os ensinem apenas a expor a correta teoria espírita original, como se a acrobacia das palavras fizesse cicatrizar as feridas dos equívocos graves.
Os "espíritas", mais uma vez, demonstram que apoiam o governo Michel Temer e acham ótimo as reformas ultraconservadoras que ele propõe. Acham a reforma trabalhista ótima, porque, com menos salários e menos encargos, exercita-se a "abnegação". Acham ótima a flexibilização dos acordos trabalhistas, por verem nos acordos desiguais entre patrões e empregados, priorizando os interesses dos primeiros, um "diálogo entre irmãos". Acham a reforma previdenciária ótima, porque a aposentadoria chegará quando o trabalhador estiver "no outro lado", cabendo aqui perguntarmos quanto será o valor das aposentadorias convertido nos "bônus-hora" de Nosso Lar.
Teoriza-se demais o sentimento humano, sem observar a complexidade da vida. O "espiritismo", com base neste texto de Emmanuel e em ideias corroboradas por Chico Xavier, revela seu igrejismo insuperável, medieval e indiferente às transformações da sociedade, que vão muito além do mero acordo igrejista, dessa fraternidade de bancos de igreja que os "espíritas" acreditam reger toda a realidade concreta do mundo.
Severo, reacionário e ultraconservador em suas ideias, Emmanuel, assim como Chico, se os dois vivessem o Brasil de 2017, estariam defendendo completamente o governo Temer. Talvez Emmanuel e Chico até divergissem sobre o líder político que querem para suceder o presidente, porque Emmanuel preferiria Jair Bolsonaro, mas Chico, que acredita em alma gêmea e é um provinciano defensor das Minas Gerais, preferisse Aécio Neves.
A resolução das crises, à luz do deturpado "espiritismo" brasileiro, é uma coleção de "deixa pra lá" na qual o problema não é a regulação de necessidades, desejos, interesses e vontades, mas de acordos qualquer nota que, numa sociedade conservadora, sempre usam discursos de misericórdia e fraternidade para que os privilegiados abusivos cedam pouco de seus bens materiais e simbólicos, enquanto os desafortunados precisam aguentar suas desgraças com mais paciência do que já possuem, vendo portas se fecharem, janelas não se abrirem e o sofrimento lhes obrigar a sair pelo ralo e pelos canos de esgoto, para obter alguma vitória na vida.
Parece uma visão pessimista, mas os "espíritas", por trás de seu balé de lindas palavras, desvaloriza a vida material, um prazo pequeno para as pessoas aproveitarem seus potenciais, e pouco importa para a seita igrejista que encarnações se desperdicem em desgraças. A verdadeira fraternidade é desperdiçada pelo acúmulo de desgraças pesadas, enquanto os indultos à ganância dos privilegiados lhes fazem a vaidade repousar de maneira viciada, travando a evolução humana. Essa desigualdade tem sentido nulo, pois os "espíritas" sonham demais com o paraíso do além-túmulo, concebido conforme suas paixões materialistas ocultas.
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