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Símbolo da deturpação da Doutrina Espírita, "André Luiz" volta "condenando" a traição

(Autor: Professor Caviar)

Parece cômico, mas pode ser também trágico. O suposto médico de ficção André Luiz, "moldado" através de plágios em torno de uma obra de George Vale Owen e pelas sugestões de Waldo Vieira, informações colhidas pelo esperto Francisco Cândido Xavier, reaparece agora nas mãos de outro suposto médium, Antônio Baduy Filho, já que Chico Xavier faleceu há 14 anos.

Um livro publicado em dois volumes e que supostamente se dedica a analisar O Evangelho Segundo o Espiritismo, usando o título um tanto igrejeiro, Vivendo o Evangelho, revela uma hipocrisia aberrante relacionada ao "movimento espírita": a dos traidores que reprovam a traição.

Os "espíritas" brasileiros agem como Jean-Baptiste Roustaing mas tentam falar como Erasto. Praticam traição ao legado kardeciano mas se dizem "preocupados" com as traições à Doutrina Espírita. Isso soa como um ladrão que realiza um assalto e depois liga para a polícia dizendo que "alguém assaltou um estabelecimento".

Que o "espiritismo" é um rol de sujeira e podridão, é óbvio, embora poucos admitam isso, já que a maioria das pessoas é facilmente seduzida pelo balé de palavras e pela bondade de fachada que norteiam as práticas desta doutrina. Esquecem das raízes históricas pouco generosas que até hoje norteiam o "movimento espírita".

O "espiritismo" brasileiro foi fundado por dissidências católicas. Sua influência em relação ao Catolicismo jesuíta português, que prevaleceu no Brasil colonial, não pode ser subestimada nem ser vista como "saudável fruto de nossa religiosidade e da afinidade com os valores cristãos". É um processo perverso que faz com que uma nova embalagem (a suposta adaptação brasileira do legado de Allan Kardec) esconda um conteúdo ainda mais podre, que é o velho Catolicismo medieval português que não aceitou as transformações da Igreja Católica a partir do século XIX.

Desta forma, durante anos a obra Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, prevaleceu como norteadora do "movimento espírita" em detrimento da obra kardeciana. Os "místicos" (igrejistas) se sobressaíram sobre os "científicos" (seguidores fiéis ao pensamento kardeciano) e o "espiritismo" brasileiro se fundamentou em bases roustanguistas.

Só que Roustaing era como o deputado Eduardo Cunha nos Brasil de hoje. Um sujeito retrógrado de ideias conservadoras aproveitáveis por seus seguidores, mas alguém tão controverso que em dado momento precisa ser descartado. Diante da rejeição de importantes espíritas, como Deolindo Amorim (pai do jornalista Paulo Henrique Amorim), Carlos Imbassahy, José Herculano Pires (sobrinho do contador caipira Cornélio Pires) e, antes deles, Afonso Angeli Torteroli, o roustanguismo precisava ser dissimulado.

E aí veio a solução. Usou-se um caipira mineiro, um católico ortodoxo que desenvolvia paranormalidade e era um poeta mediano e leitor voraz de livros, chamado Francisco Cândido Xavier, e ele adaptou todos os postulados roustanguistas com habilidade incrível, de forma a fazer com que não se precisasse mais de Roustaing para nortear o "movimento espírita". Roustaing já estava adaptado à realidade brasileira através de Chico Xavier.

TENDÊNCIA DÚBIA

Daí que com o tempo o "movimento espírita" veio com a tendência dúbia, quando o roustanguismo passou a se tornar insustentável. Com Antônio Wantuil de Freitas saindo de cena, discípulos como Francisco Thiesen e Luciano dos Anjos acentuaram a crise, que incluiu até um projeto de uma deturpação ainda mais grosseira da obra kardeciana patrocinada pela FEESP, única federação regional contemplada pela cúpula centralizadora da FEB.

Foi apenas um conflito entre a FEB, centralizadora, e federações "espíritas" regionais, como em Minas Gerais e Bahia, que fez iniciar a fase dúbia. Era um faz-de-conta que prometia recuperar as bases originais de Allan Kardec, mas mantendo conceitos igrejistas, manobra que foi facilitada pelas traduções "catolicizadas" da obra kardeciana, já considerando Salvador Gentile bem mais do que Guillon Ribeiro.

E aí pronto. Roustaing, como Eduardo Cunha, poderia ser descartado como entulho velho, e seu legado adaptado e remodelado para se tornar "palatável". Fingia-se a retomada dos postulados originais da Doutrina Espírita, e deturpadores como Chico Xavier e Divaldo Franco passaram a ser promovidos como "discípulos respeitáveis de Allan Kardec", mesmo criando obras que contrariam de forma aberrante o pensamento do pedagogo francês.

O fator externo da ascensão dos "pastores eletrônicos", como Edir Macedo, mais tarde dono da Rede Record, fez a Rede Globo, depois da falência da TV Tupi, virar parceira da FEB para a blindagem dos ídolos "espíritas". Com isso, a Globo reinventou o mito de Chico Xavier e ainda fez fortalecer, com a ajudinha da TV Bahia e de outras mídias solidárias, mesmo não vinculadas formalmente às Organizações Globo, outros mitos como Divaldo Franco, José Medrado e João de Deus.

Isso fez crescer a tendência dúbia do "movimento espírita" e consagrar a postura contraditória de alegar a "fidelidade absoluta" e o "respeito rigoroso" ao pensamento de Allan Kardec e, por baixo dos panos, praticar igrejismo sob a desculpa de que é "uma saudável afinidade com os ensinamentos cristãos". Até a "bondade" e a "caridade" passavam a ser usadas como cúmplices desta farsa ideológica.

E aí temos um dos livros que ainda expressam o auge dessa fase, o Vivendo o Evangelho, que preferiu manter "André Luiz" como autor espiritual enquanto se aposentam do ofício os "reencarnados" Emmanuel e Joana de Angelis (codinome "trans" do Máscara de Ferro, o obsessor de Divaldo Franco).

Hoje tentam procurar o "Emmanuel reencarnado". Tentaram vê-lo num místico ripongo, mas ele se recusou a admitir tal "identidade". E, como seu projeto "educacional" tem muita afinidade com a Escola Sem Partido, a gente fica perguntando se Emmanuel reencarnou em Kim Kataguiri, Alexandre Frota, Flávio Bolsonaro ou o insosso ministro da Educação, José Mendonça Filho. Ou talvez fosse Fernando Holiday, que será vereador paulista no começo do próximo ano. Holiday alega "valores fraternos" no seu projeto de revogar o feriado do Dia da Consciência Negra na capital paulista.

Joana de Angelis ainda não foi "identificada" porque "acabou de renascer". E aí fica um "André Luiz" de plantão para seus livros pseudocientíficos, com o Vivendo o Evangelho Vols. I e II servindo como uma das últimas obras da fase dúbia, porque, seguindo a retomada ultraconservadora, já se fala num neoroustanguismo no "movimento espírita", fundamentado na Teologia do Sofrimento.

E aí "André Luiz" retorna sob outro "médium", expressando suposta preocupação com a traição à Doutrina Espírita. Uma postura bem hipócrita, porque o nome "André Luiz" está associado às piores traições feitas ao legado kardeciano, como a fantasiosa ideia das "cidades espirituais" (das quais Kardec consideraria, com certeza, desprovidas de fundamento lógico), que não bastasse a falta de consistência ainda foi concebida mediante devaneios materialistas do "espiritismo" igrejeiro, copiados do "paraíso" idealizado pelo Catolicismo medieval.

Vive-se uma fase de transição, em que a doutrina dúbia procura "passar o bastão" para os neoroustanguistas, criando um Kardec "limpamente catolicizado" por Salvador Gentile e os palestrantes "espíritas" fazendo mais apologias à Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica, quando apelam para os sofredores aguentarem desgraças com fé, esperançosos pelas "bênçãos futuras". 

É a desculpa do "viva o pior hoje para obter o melhor amanhã", que defende que se joguem encarnações inteiras no lixo em nome de supostos benefícios que ninguém tem a menor ideia do que se trata e se realmente serão benéficos e proveitosos, sobretudo pelas almas gravemente feridas pelo massacre existencial de desgraças que mais castigam que ensinam.

Vivendo o Evangelho torna-se, portanto, um documento final da hipocrisia "espírita", talvez um legado da tendência dúbia, que está há 40 anos no poder do "movimento espírita", do qual se tenta convencer que os deturpadores brasileiros da Doutrina Espírita são seus "melhores discípulos". É uma conversa para boi dormir em dois volumes, para que as pessoas possam dormir tranquilas para acordar no dia seguinte com Jean-Baptiste Roustaing redivivo em diferente contexto.

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