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Não há resgate coletivo. E isso o cotidiano nos explica com facilidade

(Autor: Professor Caviar)

Na madrugada de ontem, numa serra na Colômbia, um trágico acidente ceifou quase todos os ocupantes de um avião que levava a equipe catarinense Associação Chapecoense de Futebol, time conhecido como Chapecoense ou, simplesmente, Chape.

No acidente, inicialmente 75 pessoas faleceram. A maioria dos jogadores do Chapecoense, parte da tripulação boliviana que estava no avião, jornalistas e dirigentes esportivos. Apenas seis pessoas foram resgatadas com vida. O famoso zagueiro Neto foi resgatado com vida, e está sob cuidados médicos.

A tragédia comoveu o mundo inteiro e revelou um sonho interrompido de um time em ascensão. Consta-se que o Chapecoense era melhor do que muito time festejado que vence fácil qualquer torneio, e seu time era considerado de grande entrosamento. Com a perda de muitos desses jogadores, o time terá que recomeçar a temporada de 2017 do zero, provavelmente aproveitando jogadores juvenis.

Sob a ótica "espírita", fala-se que o acidente é mais um episódio daquilo que acreditam ser "resgate coletivo". Segundo essa tese, difundida a partir de Chico Xavier, um grupo de pessoas envolvido em uma tragédia estaria cumprindo uma "missão" de "depuração da alma", com diversas vidas sendo ceifadas mediante um "mesmo motivo".

A tese é extremamente absurda e já gerou um juízo de valor perverso, da parte do próprio Chico Xavier. Ele, no livro Cartas e Crônicas, de 1966, atribuído a um suposto espírito Humberto de Campos mal disfarçado de Irmão X, a uma tragédia circense ocorrida em 17 de dezembro de 1961, em Niterói, numa área onde hoje se constrói um "mergulhão" (túnel subterrâneo com ligações com a superfície).

Sabe-se que naquele dia houve um espetáculo do Gran Circo Norte-Americano, com uma surpreendente presença do público, em boa parte infantil. Só que, dias antes de ocorrer essa temporada, naquele fim de semana de dezembro de 1961, um ex-funcionário avulso, contratado apenas para a montagem da estrutura do circo, Adilson Marcelino Alves, apelidado de Dequinha, brigou com um dos donos do circo e, resolvendo se vingar, chamou dois comparsas e bolou um plano de incêndio no local, que matou centenas de vítimas.

E o que o "bondoso" Chico Xavier fez? Escreveu no livro que as vítimas da tragédia circense teriam sido "cidadãos romanos" da Gália que, vivendo no século II de nossa era, "sentiam prazer de ver hereges sendo incendiados na arena circense". Sem apontar provas e atribuindo responsabilidade a Humberto de Campos, Chico Xavier realizou seu mais cruel juízo de valor contra pessoas humildes, com o agravante de que o "médium" sempre pregou para que "ninguém julgasse quem quer que fosse". "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço", diz o ditado popular.

Esse juízo de valor traz a alegação de "resgate espiritual", coisa absurda porque nem todas as pessoas que compartilham uma mesma situação são íntimas entre si ou têm sempre uma mesma missão de deupuração espiritual mediante um mesmo incidente. O absurdo dessa tese "espírita" pode ser facilmente explicado pelo cotidiano simples em que vivemos.

Nas filas de banco, nos corredores de hospitais, nas filas do açougue, é muito difícil que todos sejam íntimos entre si para que pudessem estar ligados a um mesmo destino. Nas liquidações de lojas, os fregueses não são "amigos de infância" (gíria para pessoas que possuem relação íntima e longa) só porque estão no mesmo estabelecimento comercial envolvidos com um mesmo estoque de produtos.

Uma mesma situação pode fazer se encontrarem pessoas díspares, cuja relação comum pode se limitar àquele momento. Não é porque estão juntas numa ocasião que elas têm uma mesma missão e, se caso uma tragédia ocorra, isso não significa que todas as vítimas tenham uma sina em comum.

O mito do "resgate coletivo" mostra o equívoco moralista e místico dos "espíritas". que copiaram esse mito da Igreja Católica e tem uma conotação um tanto pejorativa, na qual o povo é visto como "gado", e se o "gado" é abatido de uma só vez, significa que todos os "bois" são iguais na sina e na missão a que supostamente são atribuídos.

No caso do Chapecoense, também não houve "resgate coletivo". Pode haver uma proximidade social das vítimas, o coleguismo dos jogadores, as relações com a imprensa esportiva. Mas em toda tragédia cada indivíduo é um indivíduo, não existem "missões" ou "reajustes" de ordem coletiva. É como na saída de uma escola, em que uma mesma turma se dispersa em caminhos bastante diferentes.

Portanto, a tese do "resgate coletivo" é uma visão reacionária. E que fez Chico Xavier cometer a sua pior crueldade, fazendo julgamento de valor contra gente humilde - logo o "médium", tão associado à sua suposta humildade! - , acusando-a, sem provas, de ter sido "sanguinária" em outra vida, e ainda por cima botar a acusação maligna sob a responsabilidade de um escritor falecido como Humberto de Campos, mesmo disfarçado com um pseudônimo (Irmão X, mas para os "espíritas" é o "mesmo escritor maranhense"). É muita crueldade feita por um "médium" que muitos pensam ser "puro".

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