(Autor: Senhor dos Anéis)
Diante do processo de desidratação de Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, que fez seus seguidores investirem, agora, numa imagem "isenta" de um "endividado e imperfeito", e agora, desesperadamente, tentam relançar o mito do "bondoso médium" nas bancas de jornais.
Lembremos que as bancas de jornais se tornaram propagandistas informais do golpe político de 2016. A partir das revistas e jornais expostos, os cidadãos foram induzidos a uma narrativa que, em primeiro momento, desqualificou o Partido dos Trabalhadores e o ex-presidente Lula e pediu a saída da presidenta Dilma Rousseff. Em segundo momento, tentou convencer os brasileiros que o governo Michel Temer "não era aquela maravilha", mas "era necessário para pacificar o país e resolver a crise econômica".
Em terceiro momento, através de uma associação simbólica com as revistas sobre o nazi-fascismo, criaram um efeito copy cat que fez com que o fascismo à brasileira fosse o mote da campanha eleitoral de 2018. Tanto que o hoje governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, era um político inexpressivo que o pragmatismo dos cariocas fez ser eleito por causa do sobrenome alemão, que soava bonito para esse povo que prefere ver o futebol local vencer todas do que melhorar realmente de vida.
Pois essa natureza ultraconservadora da quase totalidade dos jornaleiros agora tem como tarefa tentar reabilitar Chico Xavier, relançando, pela enésima vez, a antiga edição de Superinteressante sobre o "médium". Espécie de "fanzine dos isentões", a Superinteressante, que já teve o indigesto Leandro Narloch, autor daqueles "guias politicamente incorretos" que deturparam a História, desenhou o mito de Chico Xavier com um verniz de pretensa imparcialidade.
É até irônico que um dos editores de Superinteressante, Alexandre De Santi, envolvido nessa narrativa pró-chiquista, faça parte do mesmo Intercept Brasil que investigou os bastidores corruptos da Operação Lava Jato. De Santi se esquece de que "dallagnolizou" diante de Chico Xavier, passando pano nas fraudes literárias que até Suely Caldas Schubert e Ana Loryn Soares, mesmo sem querer, acabaram revelando.
A narrativa forja um caráter supostamente objetivo da trajetória do "médium". Descreve os escândalos que ele causou nos meios literários, por conta do combo Parnaso de Além-Túmulo-Humberto de Campos, mas, à maneira da dupla dinâmica da Operação Lava Jato, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol (duas pessoas que o "bondoso médium", se estivesse vivo, apoiaria abertamente), passou pano nesse que é ao mesmo tempo ídolo e fã de Aécio Neves.
Sim, amigos. No final da vida, Chico Xavier recebeu Aécio Neves e, com uma conversa rápida, os dois manifestaram admiração mútua. Há uma interpretação leviana num texto de Chico Xavier, creditado ao fictício André Luiz, publicado em 1952.
Este texto muitos acham ter previsto tudo o que era líder liberal: Fernando Collor, Sérgio Moro, Aécio Neves, Jair Bolsonaro, Luciano Huck ou, quem sabe, o Tiririca. Mas o texto, que circula na Internet, não previu pessoa alguma. Nem mesmo o depois presidente da República, Juscelino Kubitschek, que por sinal sofreu uma maré de azar depois que homenageou o "médium" e a Federação "Espírita" Brasileira. O texto apenas manifestou o perfil de político sonhado por Chico Xavier.
No entanto, apesar disso, é correto afirmar que Chico Xavier apoiou Fernando Collor em 1992, tendo sido o "médium" um anti-petista por antecipação. Embora Carlos Baccelli, seguidor de Chico Xavier tenha se tornado "vidraça" nos meios "espíritas", é corretíssimo, pelo contexto das declarações, sua afirmação de que o chamado "carteiro de Deus" sentia horror a Lula (atenção esquerdas!!) e apoiaria Jair Bolsonaro em 2018.
Não é preciso esforço para considerar que, neste caso, Carlos Baccelli, por pior que seja, tem razão. É só ler os livros de Chico Xavier, deixando de lado as "autorias espirituais" porque tudo é pensamento pessoal do "médium". O leitor ficará surpreso ao ver nos livros de Chico Xavier um rigoroso receituário conservador, no qual existe até mesmo a defesa da precarização do trabalho, a condenação absoluta do aborto e, sobretudo, os conceitos moralistas da medieval Teologia do Sofrimento.
A pessoa está acostumada com aquela pequena seleção de memes de Chico Xavier que circulam nas redes sociais, que só mostram frases mais agradáveis. Mesmo as frases que pedem ao sofredor extremo ficar calado são as mais suaves, sobretudo quando promete recompensas futuras que ninguém tem a menor ideia do que será. Mas, nos livros de Chico Xavier, já se sabe o que ele tenta definir como "bênçãos futuras": mais sofrimento, servidão, infortúnios.
As bancas de jornais não exibem só a revista Superinteressante, que mostra um Chico Xavier ao pleno agrado dos "isentões" de plantão, sempre com mania de imparcialidade, neutralidade. Os "isentões" são os primeiros a responder textos na Internet, sempre com aquele discurso chato e insuportável do tipo "u não acredito que tal coisa seja totalmente boa ou aquela outra seja totalmente ruim". Gente chata, com mania de "equilíbrio", ainda que seja o "equilíbrio" da galinha com a raposa.
Os jornaleiros também mostram aquelas revistas pavorosas da editora Alto Astral, do astrólogo João Bidu, que ainda apostam naquela visão gosmenta e divinizada do "médium" que mais deturpou o Espiritismo. Quando vendem livros, há bancas que mostram exemplares velhos e usados da bibliografia de Chico Xavier, para completar essa campanha com apetite flanelista de passar o pano no "médium".
É claro que algumas bancas, no caso delas serem de propriedade de neopentecostais, querem se livrar de Chico Xavier e, por isso, precisam ganhar dinheiro vendendo o material relacionado a ele. Mas o certo é que, pelo menos no caso das revistas, haja a devida devolução e o ideal é que a maioria dos exemplares seja derretida e se transforme em papel reciclável, "limpo" das impressões que apresentavam a trajetória mitificada do deturpador mineiro.
Em todo caso, porém, há um desespero enorme em tentar manter a imagem adocicada que sustenta Chico Xavier desde os anos 1970, apenas havendo a concessão de minimizar a abordagem divinizada, criando uma imagem "gente como a gente" bem de acordo com o Brasil que elegeu Jair Bolsonaro porque gostou do seu jeito de "tiozão do pavê". Um Chico Xavier "com os pés no chão", definido agora não como "espírito de luz", mas como "endividado e imperfeito" e que "errou muito na vida".
Dessa maneira, os chiquistas tentam tirar os anéis para preservar os dedos. Mas é o mesmo fanatismo em torno daquele que arruinou o Espiritismo, rebaixando-o ao que muitas pessoas já começam a chamar de "espiritismo de chiqueiro", fazendo um trocadilho jocoso.
E nada como as bancas de jornais que, através da exibição simbólica de revistas e jornais, pediram a derrubada de Dilma Rousseff, promoveram o ódio a Lula e influíram na eleição de Jair Bolsonaro e num sem-número de subcelebridades de direita. Elas agora tentam reabilitar Chico Xavier e a abordagem "isentona" da Superinteressante cai sob medida nesse processo de continuar promovendo um mistificador que rende fortunas para os chefões da FEB.
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