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Que relação Tim Tones tem com Chico Xavier?


(Autor: Senhor dos Anéis)

Chico Anysio foi muito mais médium que Chico Xavier. Os personagens que o humorista cearense incorporava tinham personalidade muito forte e diferenciada, de tal maneira que ele deixou uma grande marca no seu talento por causa disso. Ao lado de Fernando Pessoa e David Bowie, Chico Anysio pode ser considerado um dos médiuns mais respeitáveis do mundo.

Sim, porque o suposto médium que é conhecido como Francisco Cândido Xavier até tentou "diversificar" seu talento, tentando criar leves diferenças nos heterônimos tomados emprestados de pessoas famosas, como Humberto de Campos, personagens históricos, como Emmanuel, pessoas comuns, como Irma de Castro Rocha, a Meimei, e Jair Presente, e nomes inventados, como André Luiz, com suas risíveis disputas de "quem foi quem" na última encarnação na Terra.

Mas não teve jeito. Esse Chico Xavier não teve jeito, seu estilo pessoal sempre se impunha em um nome ou em outro, seja para estragar a reputação da pouco conhecida poetisa potiguar Auta de Souza, que, coitada, "não voltou do além" com seu próprio estilo e, quando "voltou", manifestou rigorosamente a linguagem pessoal do "médium". Mas a pior vítima, o escritor maranhense Humberto de Campos, também sofreu, "perdendo" todo seu estilo e "retornando" totalmente diferente e desfigurado e "escrevendo" pior do que na Terra.

Se dermos crédito a tudo isso, então a individualidade humana não existe no mundo espiritual. Quando morremos, o "espiritismo" brasileiro nos ensina que nós nos transformamos em "zumbis do bem", em pessoas vestindo pijamas brancos que viram funcionários de uma gigantesca igreja que é a "colônia espiritual" e cuja única preocupação é transmitir um Catolicismo medieval muito mal disfarçado, sob a asséptica perspectiva da "paz e fraternidade em Jesus Cristo".

Muitos acabam acreditando, tolamente, que todo mundo que morre vira igrejeiro, que o mundo espiritual é um misto de paixões terrenas "limpadas" pela assepsia religiosa, separando um terreno para forças consideradas malignas, que é o "umbral", enquanto não se decide se a "colônia espiritual" é um paraíso ou um purgatório.

Essas impressões são feitas sem o menor pingo de fundamentação teórica nem científica, sem o menor embasamento conceitual. São feitas tão somente de maneira especulativa, levando em conta tão somente o prestígio religioso de Chico Xavier, que, apesar da suposta humildade e da pretensa caridade - que nunca passou de práticas de Assistencialismo glorificadas pelas paixões religiosas de seus seguidores - , sempre foi respaldado pelas elites conservadoras interessadas em não romper com profundidade as injustiças sociais.

"ALPINISMO MORAL"

Um personagem de Chico Anysio chama muito a atenção, o pastor evangélico Tim Tones, aparentemente um "líder pacifista" que falava "coisas bonitas" e que depois pedia para os fiéis recolherem seus dinheiros e colocarem nas sacolinhas dos seus colaboradores. "Pode correr a sacolinha" era o bordão que encerrava cada esquete com o personagem, que se tornou famoso sobretudo a partir dos anos 1980.

A inspiração do nome veio do macabro líder religioso Jim Jones, um lunático estadunidense que criou uma seita na qual estabeleceram várias propriedades com supostas ações de caridade envolvendo crianças e adultos carentes. Sob a alegação de se salvar do "fim do mundo", Jim Jones promoveu um suicídio coletivo por envenenamento, criando um episódio de lembrança muito triste entre as pessoas, gerando traumas irrecuperáveis em muitos e, da mesma forma, muita revolta.

O que chama a atenção é que Jim Jones, quando chegou ao Brasil e aqui viveu entre 1962 e 1963, se sentiu atraído por Belo Horizonte e Rio de Janeiro. 

Primeiro, porque Belo Horizonte tornou-se uma antena religiosa macabra, graças ao "espiritismo" desonesto de Chico Xavier que mais parece oferecer energias boas para seitas de elite reacionária como a Igreja Batista da Lagoinha, seita bolsomínion comandada pelo temperamental André Valadão e cujo maior astro é o assassino da atriz Daniella Perez, o hoje também pastor Guilherme de Pádua.

Segundo, porque o Rio de Janeiro foi a segunda cidade do "movimento espírita" e onde se puseram em prática os atos de deturpação, desde uma estranha mensagem "mediúnica" atribuída a Allan Kardec até as decisões arbitrárias do presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, o homem que moldou o mito de Chico Xavier (que, sabemos, teve sua hoje "tão adorada" imagem moldada pelo mesmo método de "fabricar santos" de Malcolm Muggeridge).

Devemos admitir que os arrivistas parecem atraídos por Chico Xavier, mesmo quando não sabem e até não sentem a menor simpatia por ele. Seja Jair Bolsonaro, Guilherme de Pádua, Fernando Collor, Mário Kertész, Aécio Neves, seja o "funk carioca". E que faz o Brasil se tornar um "paraíso" para espíritos inferiores e um atrativo para criminosos em fuga, como o nazista Josef Mengele e o ladrão Ronald Biggs.

Isso porque Chico Xavier, queiram ou não queiram, foi um arrivista que as conveniências do momento e o jogo de interesses fez transformar em "símbolo de paz e fraternidade", conforme o receituário que o "fabricante de santos", Malcolm Muggeridge, bolou para Madre Teresa de Calcutá, outra reacionária.

A sociedade reage com revolta a essa constatação, mas a verdade é que o Brasil tem essa perspectiva de "salvar" os arrivistas através do "alpinismo moral", uma forma apressada de aparente evolução espiritual, no qual a pessoa tem até um arrependimento superficial dos seus erros graves, mas quer pular as etapas evolutivas de assumir responsabilidades, no afã de querer "limpar" sua encarnação presente e salvar seus atributos materiais como suas condições sociais e econômicas.

Em outras palavras, o "alpinismo moral" é um processo no qual a pessoa que comete atrocidades quer parecer "legal" na mesma encarnação, fazendo um esforço desesperado de "limpar o nome sujo na praça", e o aparente bom mocismo contraído, que faz o criminoso de pouco tempo atrás parecer simpático e gentil, não consegue esconder vaidades nem orgulhos que tentam ser protegidos pela "evolução espiritual" artificialmente produzida.

É por isso que o Brasil virou um país da impunidade, um país mais próspero para quem é medíocre ou facínora, enquanto é um país difícil para quem é realmente diferenciado, tem inteligência mais refinada e quer dar uma contribuição acima do razoável para a sociedade.

No Brasil, morrem aos montes, de maneira prematura ou no auge de suas atividades, pessoas de grandioso valor. Mas criminosos parecem não morrer cedo, ou, se morrem, isso ocorre sob o silêncio absoluto da imprensa. Cientistas fogem do Brasil para trabalhar no exterior, mas, em contrapartida, o país torna-se atrativo para criminosos em fuga.

Durante anos, Belo Horizonte, na Minas Gerais de Chico Xavier, foi reduto de intenso feminicídio. Hoje a Goiás de João de Deus - "médium" acusado de crimes e blindado por Chico Xavier - disputa com o interior paulista (local a que se atribui como reencarnação de Emmanuel) a onda de feminicídios que dizima muitas futuras mães e transforma o fato de ser mulher, num país machista como o Brasil, em uma condição de risco.

É a Belo Horizonte em que Aécio Neves se torna um político "intocável", em que Guilherme de Pádua goza de uma reputação também "intocável", terra de Ângela Diniz cujo cadáver se desfaz sem que saibamos se Doca Street (em idade avançada demais para quem fumou em excesso e, no passado, consumiu cocaína, se embriagou e ainda perdeu um rim) já morreu ou não, apesar das mentiras da imprensa de que ele teria virado "influenciador digital" aos 80 anos, mesmo sem forças físicas nem psicológicas para aguentar haters.

TIM TONES

E que relação tem Tim Tones com Chico Xavier? E, antes disso, há alguma relação com Jim Jones? Embora o "espiritismo" brasileiro afirme condenar com veemência o suicídio, ele consente com as tragédias humanas em geral, através do mito dos "resgates espirituais", atribuindo, principalmente, as tragédias coletivas a um suposto "pagamento de dívidas morais do passado", alegação feita sem embasamento teórico nem fundamento científico, mas por mera especulação moralista.

Com isso, podemos afirmar que o "espiritismo", sim, parece permitir, mesmo de forma indireta, que as boas energias se voltem para quem comete crimes diversos e atos desonestos, já que o próprio Chico Xavier tem uma trajetória marcada por ações desonestas. Sua "mediunidade", por apresentar problemas graves - com efeitos que vão desde atingir a memória simbólica dos escritores falecidos até a espetacularização das tragédias familiares comuns - , pode ser considerada ato de desonestidade.

Por isso o "espiritismo" brasileiro, apesar da influência católica evidente, se distanciou do Catolicismo quando este se tornou mais progressista, pois sabemos que os "espíritas" seguem uma abordagem medieval da Igreja Católica (isso é evidente em Chico Xavier, assumido devoto da Igreja Católica Apostólica Romana, nome dado ao Catolicismo da Idade Média) e hoje a religião tida como "kardecista" se aproxima das causas conservadoras dos ex-rivais, os evangélicos neopentecostais.

Sim, porque, antes concorrentes na disputa de hegemonia política pós-católica, "espiritas" e neopentecostais parecem se irmanar, a ponto do "espiritismo" brasileiro ser cúmplice do golpe político de 2016. As pautas anti-aborto são ilustrativas disso. Os "espíritas" não costumam assumir publicamente suas posturas ideológicas, mas expressam ideias e procedimentos que condizem, sim, ao apoio a pautas e causas reacionárias.

E aí vemos o caráter simbólico de Tim Tones. Não seria uma paródia, também, de Chico Xavier? A peruca é diferente, talvez para evitar alguma associação, mas há os óculos escuros e o terno branco, o recado "pacifista" e "fraterno" e toda a esfera de "boas energias". Mas onde entra a questão da "sacolinha" neste caso, se ela é expressa, sob o rótulo do Espiritismo, apenas em práticas como as de José Medrado na "Cidade da Luz", em Salvador, Bahia?

Simples. Chico Xavier "doava" os lucros de seus livros "para a caridade". Isso nunca foi um voto de pobreza. Era uma estratégia para fugir das acusações de charlatanismo. Daí atuou em uma "produção industrial" de livros, com apelo religioso e sensacionalista, para vender muito, e passar o dinheiro para os dirigentes "espíritas" que controlam instituições assistencialistas. Estes, também apoiados pela alta sociedade, sustentavam Chico Xavier que, "gratuitamente", sobrevivia em discreto mas significativo conforto e na bem-aventurança, como se fosse um lorde inglês.

A "sacolinha" teria que ser implícita. E o personagem Tim Tones foi uma encomenda estratégica da direção da Globo para satirizar pastores evangélicos, numa época em que a emissora do Marinho promoveu Chico Xavier como um concorrente dos "pastores eletrônicos" (uma estratégia de uma emissora "laica" promover um ídolo religioso sob o verniz do "ecumenismo", evitando promover alguém com um claro aparato religioso, sobretudo católico).

O problema é que, com o caráter criativo de Chico Anysio, o discurso de "paz" e "luz", os óculos escuros e o terno branco causaram problemas. A peruca diferente pode não dar a impressão, mas a verdade é que o personagem Tim Tones durou até 1990, abrindo caminho para Edir Macedo e companhia se ascenderem.

Por sua vez, Chico Xavier abandonou os ternos brancos e fez uma lenta transição visual até ficar, nos últimos anos, careca, usando boné, óculos mais discretos e com um visual que lembra a versão live action do personagem Eustáquio (Eustace), o velho ranzinza do seriado de animação Coragem, O Cão Covarde (Courage The Cowardly Dog), um dos sucessos do Cartoon Network no passado.

Para quem pregava a aceitação dos infortúnios em silêncio e sem queixumes, podemos afirmar que a "sacolinha" de Chico Xavier era cobrada, sim, como o preço que todos os "espíritas" são obrigados a pagar para obter as "bênçãos futuras". Nesse sentido, o "espírito" de Tim Tones nos fala muito desse custo macabro que os adeptos de Chico Xavier, mesmo os mais devotos, têm, quando sofrem azar na vida, perdendo entes queridos em tragédias vindas do nada e sofrendo infortúnios sem controle.

Daí as más energias do "espiritismo", que agora parece encontrar a paz ao lado dos evangélicos neopentecostais embora, com sua demagogia, a religião dita "kardecista" adote um verniz progressista para atrair e iludir os incautos, caprichando no aparato de "caridade" que só serve como fachada: dentro das instituições "espíritas", os sofredores não são ajudados e têm que pagar e sofrer até obtiverem, não se sabe quando, as "bênçãos" prometidas. Isto é, se essas "bênçãos" vierem. Mas, antes, que venham as "sacolinhas" dos "resgates espirituais".

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