(Autor: Rafael Bozzano, via e-mail)*
Vocês não notaram que os brasileiros estão dando dois pesos e duas medidas em relação a duas personalidades nacionais? Lula tratado como um bandido mafioso e Chico Xavier como a mais pura alma humana, às vezes tida como mais importante que Jesus Cristo?
Eu sempre achei um exagero nessas duas abordagens, e quero chamar a atenção ao fato de que, por trás disso, existe todo um jogo de aparências que faz as pessoas fazerem tais juízos de valor.
Primeiro, vamos ao Lula. Qual é a aparência dele? A do gordinho robusto, com rosto barbudo, voz bem grave, jeito enérgico de fazer discurso, e um comportamento aparentemente rude de quem teve origem nordestina e foi operário no ABC paulista.
E Chico Xavier? A do caipira ingênuo, submisso à moral e aos bons costumes, religioso exemplar, que orava e dava esmolas, era gentil com todos, obediente aos mais fortes, e que depois, frágil e doente, buscava acolher as pessoas andando com dificuldade.
São dois estereótipos, duas imagens e dois aparatos que despertam reações nas pessoas em que a emoção extrema é levada em conta, e que faz com que se façam juízos de valor infundados, sem muita razão, mas tidos como "verdade" porque são as aparências que dizem.
As pessoas deixam de raciocinar embora, num momento ou outro, venha sempre algum engraçadinho na Internet usando um argumento "racional", no esforço vão de ficar com a última palavra, com a verdade final para tudo.
Aí o que se vê é o pessoal usando falsas informações históricas para atacar Lula e fazendo todo um mimimi pretensamente ativista para endeusar Chico Xavier. Só que, por trás das aparências, os estereótipos são traídos pela própria essência dos fatos.
Lula é acusado de irregularidades muito mal explicadas. Sua suposta participação no esquema de corrupção da Petrobras, investigado na Operação Lava-Jato comandada por um atrapalhado e posudo Sérgio Moro, o juiz favorito da Rede Globo, é uma estória muito mal contada e parcialmente analisada.
Chico Xavier se envolveu comprovadamente em atividades ilícitas como a falsidade ideológica em pastiches literários, se apropriando de nomes ilustres da literatura, como Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Antero de Quental e, acima de tudo, Humberto de Campos, e outros relativamente esquecidos, como a Auta de Souza de vida brevíssima.
Chico apoiou fraudes de materialização, que mais pareciam brincadeira de criança com pessoas se cobrindo de lençol branco como se quisessem brincar de fantasma e, sobre a cabeça, se colavam fotos impressas de pessoas mortas.
É certo que no caso de Otília Diogo ela não recorreu às "cabeças de papel" das fotos mimeografadas, mas ela fez todo um espetáculo ilusionista que Chico Xavier acompanhou animadamente e assinou embaixo a pretexto de "autenticar" a farsa. E, o que é mais grave, fotos comprovam que Chico estava feliz, apoiando toda a brincadeira. Foi isso que fez Waldo Vieira romper com seu antigo ídolo e parceiro e criar uma outra seita.
FATOS COMPROVADOS DAS FRAUDES DE CHICO XAVIER
Tudo isso é comprovado por fatos, e uma comparação, por exemplo, entre as obras originais de Humberto de Campos e as obras "espirituais" que levam seu nome, há uma disparidade bastante grosseira de estilos. Parecem dois escritores diferentes que usam o mesmo nome. E são mesmo: o "espírito" escreve igualzinho ao Chico Xavier que conhecemos através de suas frases.
Enquanto isso, é a suposta bondade de Chico Xavier que é muito mal explicada tanto quanto a corrupção de Lula. Para onde foi o dinheiro que Chico recusou a ganhar da venda de livros? Ninguém sabe, mas essa fortuna enriqueceu os chefões da FEB, sobretudo o ex-presidente Antônio Wantuil de Freitas.
E as ações filantrópicas? As pessoas não conseguem precisar. Dizem que Chico "ajudou muita gente" e só. E parte da caridade era traiçoeira, mesmo: ele expôs as famílias de mortos ao sensacionalismo da imprensa, criou falsas mensagens mediúnicas que mais parecem aqueles trotes em que o sequestrador manda uma carta fingindo ser o sequestrado.
As demais caridades eram coisa paliativa, esmolas, tudo isso sem muito efeito de transformação. Almas anestesiadas, até bem alimentadas e razoavelmente instruídas, mas sob o preço do proselitismo igrejeiro da religião dita espírita. Eles não iriam deixar de influenciar as pessoas a crer nas mesmas bobagens neocatólicas que pregam. Dizem que não influenciam, mas na prática influenciam, sim.
Não estou querendo aqui dizer que Lula era perfeito ou fazer propaganda dele. Não sou um petista, mas vejo um exagero na campanha contra ele. Mas observo que Lula demonstra ser simpático e foi esforçado na sua tarefa de tentar melhorar o país, observando não só o patrimônio dos ricos, mas também a qualidade de vida do povo em geral.
A mídia nem quer ouvi-lo, os jornalistas da grande imprensa deixaram de se preocupar com o direito à informação, só trazem o ponto-de-vista dos anti-petistas, gente neurótica e rancorosa, esquecendo que, bem ou mal, o Governo Lula tentou melhorar a economia de nosso país e veio com reformas sociais, ainda que de forma limitada e frouxa.
Se Chico Xavier tivesse ajudado mesmo as pessoas, alguém imaginaria que Uberaba seria uma das cidades mais violentas do país? Que ninguém acuse sua população de ignorar Chico Xavier, porque ele é considerado uma das personalidades mais populares que viveram naquela cidade. Valoriza-se demais Chico Xavier, através de seu legado, e nem por isso Uberaba deixa de semear ódio e sede de sangue.
É preciso que as pessoas deixem de lado a emoção exaltada, seja o rancor político, seja o deslumbramento da fé religiosa, e passem a pensar um pouco mais das coisas, além de se informarem melhor e terem um pouco de cautela antes de criar ídolos ou algozes através das conveniências sociais.
Encarar tudo pelo jogo da aparência só trará desilusões fortes, e fará com que as fantasias populares criem injustiças que irão além dos clichês ideológicos em que tanto acreditam. A vida é bastante complexa para julgar o caráter de cada pessoa pela aparência.
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*NOTA de Professor Caviar: Recebemos este e-mail de alguém que lê muito este blog. Decidimos publicá-lo a pedido do autor. O texto passou por revisão ortográfica e teve subtítulo colocado por nossa equipe para facilitar a leitura. Mas a essência do conteúdo permanece inalterada.
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