(Autor: Professor Caviar)
O Brasil continua surpreendendo com seus absurdos. A adoração extrema ao "médium" Francisco Cândido Xavier, por seus fanáticos seguidores que se amontoam sobretudo nas mídias sociais, mesmo aqueles que se dizem "kardecianos de verdade" (que até têm coragem de criticar a deturpação do "movimento espírita", mas ainda têm medo de desmascarar os deturpadores), revela equívocos gravíssimos que não é de hoje que são perfeitamente identificados pelos que sempre alertaram sobre os desvios que a sedução da fé pode causar.
Não bastasse a adoração a Chico Xavier ser uma demonstração de um desesperado apego a uma imagem de "velhinho bondoso" e uma obsessão em torno de um ídolo religioso, revelando um materialismo descomunal que deixaria até os stalinistas de queixo caído, ela também revela sentimentos de morbidez dignos dos mais baixos adoradores de imagens e de ritos sensualistas.
Sim, porque a adoração a Chico Xavier tem tudo de ruim: apego, obsessão, sensualismo. Curiosamente, defeitos que, em tese, eram condenados pelo "espiritismo" brasileiro e pelo próprio Xavier. No entanto, eles estão presentes no deslumbramento fácil de seus seguidores, na histeria extrema e extremamente submissa dos chiquistas.
O "canto da sereia" de Chico Xavier leva os críticos da deturpação espírita menos vigilantes à perdição. Num primeiro momento, eles são enérgicos, sobretudo quando das traduções de Guillon Ribeiro das obras de Allan Kardec, e defendem o respeito ao conteúdo original da obra do professor francês. Mas quando é para questionar Chico Xavier, se limitam apenas a dizer que ele apenas "catolicizou um pouco" e ficam nisso mesmo, complacentes.
Isso é preocupante e muitíssimo grave. E mostra que essa adoração a Chico Xavier e aos estereótipos de "amor e bondade" associados a ele, transformados em histeria e fanatismo, corrompe o próprio sentido de amor e bondade que se perde em clichês de uma caridade paliativa, que não transforma nem interfere nesse perverso sistema de desigualdades sociais que atinge multidões em todo o mundo.
CHICO, O "VELOCINO DE OURO" DO BRASIL DE HOJE
A adoração a Chico Xavier equivale aos ritos mais fúteis e levianos que os chamados pagãos faziam, adorando imagens, totens, mitos, estabelecendo rituais e cultos dos mais desnecessários e, no entanto, tidos como uma obrigação ferrenha, onde a adoração expressa sentimentos de vaidade e orgulho que a idolatria mais fútil e leviana expressa, na relação entre o objeto de adoração e seus adoradores.
É uma prática que remete ao mito grego do "velocino de ouro" que inspirou os astrólogos a trabalhar o mito do carneiro de Áries (curiosamente, Chico Xavier foi um nativo do signo solar de Áries, segundo a Astrologia), o que revela muito dos mitos e mistificações esotéricas que isso pôde inspirar.
Na Bíblia, o "velocino de ouro" é objeto de adoração dos pagãos que esperaram Moisés vir com seu receituário moral, conhecido pelos católicos e evangélicos como Os Dez Mandamentos, que o profeta do povo hebreu atribuiu à inspiração divina. Seria muito longo descrever os contextos de tal atribuição, e não é o foco deste texto.
A espera por Moisés tornou-se prolongada, por isso os hebreus decidiram dançar e praticar sensualismo cultuando uma estátua de ouro de um carneiro, o "velocino de ouro", dentro de um festejo fútil que, no contexto do Brasil de hoje, corresponderia a um misto de Carnaval da Bahia com "baile funk".
Quando Moisés desceu do Monte Sinai, visivelmente abatido - com exagero, traduções da Bíblia que hoje prevaleceram, malfeitas e deturpadoras, alegam que o profeta "envelheceu" - , ele se irritou quando viu as pessoas distraídas com suas volúpias e manifestando adoração a uma estátua, e diz a tradição que ele, enfurecido, jogou a tábua no chão e seguiu aborrecido com a caminhada.
Jesus também condenou o culto a imagens, a adoração fútil e o comércio ganancioso. Ele gostava de festas, mas não via algo positivo nas que sucumbem à sensualidade obsessiva e a leviandade, da mesma forma que hoje as pessoas sensatas não aprovariam noitadas que se resumem a orgias de drogas e pornografia.
Mesmo quando a adoração a Chico Xavier tem uma roupagem religiosa e não se volta, aparentemente, a orgias e cultos histéricos, se limitando à roupagem sóbria dos clichês religiosos, nota-se o sensualismo da própria imagem sedutora do "velhinho bondoso", que intimida muitos que tentam questionar o seu mito.
Sim, é uma sedução, afinal não há motivo para ficar complacente com um Chico Xavier que comete erros grosseiros e preocupantes como defender a Teologia do Sofrimento - ideologia que prega que os sofredores têm que aguentar suas desgraças sem reclamar, porque é um "caminho mais rápido para Deus" - e realizar pastiches literários.
Se alguém não tem coragem de questionar Chico Xavier, é porque foi seduzido e hipnotizado pelo seu mito, e foi movido pela imagem mórbida e pela abordagem voluptuosa do mito de "amor e bondade", como na lenda do canto da sereia, que faz pescadores perderem o rumo e se afogarem com seus navios à deriva.
A adoração a Chico Xavier seria condenada por Moisés e por Jesus. Aliás, o "espiritismo" brasileiro, tão afeito a bajular Jesus, ignora que ele reprovaria severamente suas práticas, como o culto mórbido a estereótipos religiosos e a imagens. Sem falar que o próprio Chico Xavier era adorador de imagens de santos, era um beato católico dos mais retrógrados (atenção, ateus brasileiros!).
Além do mais, que "bondade" serve de motivo para tanta adoração? As famílias que tiveram suas privacidades violadas pela exploração sensacionalista das tragédias pessoais? O propagandismo religioso das falsas psicografias? As frases adocicadas com recados moralistas, muitos deles ultraconservadores e voltados à Teologia do Sofrimento?
Outro aspecto que se nota é que a adoração nada tem de racional. Paixão pura. A ditadura do coração, a cegueira emocional manifesta numa frágil alegria que se transforma em fúria e ódio à menor contrariedade. Isso tem muito de volúpia, sensualismo, praticamente um êxtase pelo mito de um ídolo religioso.
Por isso Chico Xavier tornou-se o "velocino de ouro" do Brasil de hoje. Alvo da mais mórbida adoração. Algo que não é meritório nem saudável, até pelo fato dos seguidores de Chico Xavier reagirem em fúria quando contrariados.
O apego a um ídolo religioso revela-se um sentimento bastante doentio, sujeito ao mais cego fanatismo, e não há desculpas relacionadas à bondade que o podem justificar. Pelo contrário. Essa adoração a Chico Xavier demonstra que o sentido de bondade visto por muitas pessoas pode ser um sentido corrompido, superficial e falso, apenas um pretexto para o fanatismo e a adoração mórbida e sensualizada.
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