(Autor: Professor Caviar)
Com toda a sinceridade. Você se sente feliz quando, querendo falar, uma outra pessoa lhe diz para ficar calado? Você não se sentiu irritado quando, ao querer tanto falar, o outro lhe grita para ficar em silêncio?
Pois é muito estranho ver que o "médium" Francisco Cândido Xavier, em seus arroubos de pseudofilósofo, queira tanto pregar o silêncio como "voz dos sábios", algo que fascina seus seguidores que não têm ideia da armadilha que isso significa.
Vejam algumas frases que Chico Xavier lançou sobre a "doce virtude do silêncio", para ver como "é bom demais para ser verdade" um "filósofo" (como os incautos tão tolamente veem Chico Xavier) dizer que é bom ficar calado, e o que mostra o aspecto hilário do "espiritismo" brasileiro, que se diz "racional" e "amigo da Ciência", condenar tanto o ato de raciocinar ("não questione, apenas acredite, ame e ore") quanto o de falar ("o silêncio é a voz da sabedoria"):
"Quando tudo suporta em silêncio - calúnia, agressões, injúrias - conquista uma autoridade moral que faz calar os opositores e transforma aversão em admiração".
"Se o momento é de crise, não te perturbes, segue... Serve e ora, esperando que suceda o melhor. Queixas, gritos e mágoas são golpes em ti mesmo. Silencia e abençoa, a verdade tem voz".
"A calúnia é isolada no algodão do silêncio".
"Devemos efetivar campanhas de silêncio contra as chamadas fofocas, cultivando orações e pensamentos caridosos e otimistas, em favor da nossa união e da nossa paz, em geral".
"O silêncio ajuda sempre:
Quando ouvimos palavras infelizes,
Quando alguém está irritado.
Quando a maledicência nos procura.
Quando a ofensa nos golpeia.
Quando alguém se encoleriza.
Quando a crítica nos fere.
Quando escutamos a calúnia.
Quando a ignorância nos acusa.
Quando o orgulho nos humilha.
Quando a vaidade nos provoca.
O silêncio é a gentileza do perdão
que se cala e espera o tempo".
(atribuído a Meimei)
"Emmanuel sempre me disse: quando você não tiver uma palavra que auxilie, procure não abrir a boca..."
"Cale-se, diante do escárnio e da ofensa, sustentando o silêncio edificante, capaz de ambientar-lhe a palavra fraterna em momento oportuno"
(atribuído a André Luiz)
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Por que tanta ênfase no silêncio? Por que Chico Xavier queria tanto que as pessoas ficassem caladas? O discurso parece lindo, fala-se em "calar-se diante da calúnia e da maledicência", mas é bom tomar muito cuidado sobre o que o "movimento espírita" considera "calúnia" e "maledicência".
É só verificar os escândalos causados pelo "movimento espírita", graças à sua inicial recusa em seguir com rigor os ensinamentos de Allan Kardec. As investigações quanto a irregularidades diversas do "movimento espírita", mesmo dentro do processo, sereno e imparcial, de questionamentos e análises, apenas no sentido de verificar a lógica e o bom senso.
Pois a reação, indignada mas certíssima, dos críticos literários mais conceituados, que, com muito conhecimento de causa, notavam aberrantes falhas em Parnaso de Além-Túmulo e na obra supostamente atribuída a Humberto de Campos, verificando disparantes em relação ao que os autores espirituais deixaram em vida, era vista pelos "espíritas" como "calúnia".
Tudo que se opusesse ao que os "espíritas" defendiam e acreditavam era considerado "calunioso", "maledicente", "ofensivo" e "campanha perversa contra os homens de bem e o trabalho do amor", fosse que fosse o propósito. É preferível aceitar mil mentiras favoráveis ao "espiritismo" brasileiro do que aceitar uma única verdade que, de forma evidente, derrube tais mentiras.
Chico Xavier começou fazendo plágios e pastiches literários. Participou de fraudes de materialização e falsas psicofonias. Assinava atestados para tentar autenticar falsos processos de materialização (das "cabeças de papel" e do algodão se passando por "hectoplasma") e participou animadamente dos bastidores da farsa da ilusionista Otília Diogo.
Além disso, Chico Xavier tinha colaboradores que apelavam para o recurso da "leitura fria", variante do processo de manipulação da mente humana - do qual se destaca a hipnose - , que consiste em uma entrevista em tom intimista feita com o objetivo de colher do entrevistado informações mais sutis e observar em seus gestos e declarações informações ainda mais complexas.
Era através da "leitura fria" que se dissimulavam as "cartas mediúnicas", farsa "filantrópica" que Chico Xavier armou para lotar "centros espíritas" no Brasil e que fez prolongar as dores das famílias, prolongando as tragédias dos entes queridos através da superexposição feita pela exploração midiática.
Essas "cartas" tinham quase sempre a mesma mensagem igrejista, o mesmo apelo de fé religiosa, e "falavam" como nas frases de Chico Xavier, além de mostrar apenas a caligrafia dele. Os "aspectos pessoais" dos supostos autores falecidos eram apenas um gancho para garantir verossimilhança, mas estava claro que, apesar disso, as mensagens sempre tinham o estilo e a grafia do "médium".
São todas essas fraudes - sobretudo a que se apropriou, da forma mais aberrantemente leviana, do prestígio do escritor e acadêmico Humberto de Campos - que fazem com que Chico Xavier, que quase foi derrubado pelo sobrinho Amauri Xavier Pena, que prometia fazer uma devassa no "movimento espírita" e, por isso, os "espíritas" fizeram um "linchamento moral" no rapaz, que depois morreu de maneira misteriosa, a defender o "silêncio" como "voz da sabedoria".
Não se trata do uso válido do silêncio, seja por motivo de sobrevivência - para evitar represálias, mal-entendidos ou inimizades - nem de garantir o sossego do repouso - como nas altas horas da noite - , mas da "divinização" do silêncio, como uma "santa censura", como se a gente não tivesse que ficar calado conforme o contexto, mas porque "temos que ficar calados mesmo".
A gente fica pensando se as recomendações de Allan Kardec nos seus livros, denunciando a deturpação da Doutrina Espírita, alertando sobre obras prolixas e rebuscadas que, contendo "mensagens boas", escondem toda uma campanha de mistificação, também teria sido "calunioso" e "maledicente".
E Erasto, que falava dos "inimigos internos" da Doutrina Espírita como se já tivesse prevendo as acensões de Chico Xavier e Divaldo Franco, também seria "calunioso" e teria feito uma "campanha de perseguição aos tarefeiros da bondade, da caridade e da fraternidade"?
O que Chico Xavier queria, ao evocar tanto a "salvação pelo silêncio", é tão somente "salvar sua pele", ante os muitos questionamentos sobre suas atividades, que revelam irregularidades diversas e tão grandes que, se o Brasil fosse realmente sério, nunca teria levado a sério um farsante como o anti-médium mineiro.
Em países mais sérios, dotados de verdadeiros esclarecimentos, Chico Xavier seria visto como um charlatão e assim seria tratado, sem a complacência debiloide de quem ainda se seduz com aparatos de bondade e humildade tão estereotipados.
O Brasil precisa sair da prisão da fé que define o simples ato de raciocinar e questionar como "calúnia" e "maledicência". Para a fé, só vale o que favorece a própria fé, ainda que coloque fantasias e incoerências acima da lógica e do bom senso.
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