
(Autor: Professor Caviar)
Um dos jornalistas investigativos a blindar o "médium" Francisco Cândido Xavier, Saulo Gomes, morreu aos 91 anos em sua cada, em Ribeirão Preto, em decorrência a um infarto.
Ele havia sido um jornalista investigativo que recebeu um prêmio em 1958 como "rádio-repórter do ano" pela Revista do Rádio, e era considerado um dos destacados repórteres da Rádio Continental, hoje Rádio Capital, no Rio de Janeiro. Foi responsável pela cobertura do crime da "Fera da Penha" (apelido dado à Neyde Maria Maia Lopes, que matou a filha de um ex-amante, a menina Taninha, com 4 anos em 1960), e foi vítima de atentados duas vezes, por causa da reportagem. Saulo também conquistou grande audiência quando fez uma reportagem sobre o Maníaco do Parque (Francisco de Assis Pereira), preso acusado de seduzir e assassinar várias mulheres, em 1998.
Apesar desse currículo e do fato dele ter sido o primeiro jornalista a ter sua profissão proibida pelo governo militar, em 1964, Saulo Gomes deve ser lamentado pela sua adesão a Chico Xavier, a partir de 1968. A partir daí, Saulo despiu-se do seu habilidoso talento de repórter investigativo para vestir a camisa do propagandista.
Isso acontece. Muitas vezes, jornalistas deixam de lado o faro investigativo para fazer propaganda, quando os instintos pessoais falam mais alto do que a razão. Nomes como William Waack, Miriam Leitão e outros também tiveram seus momentos de jornalismo investigativo, até que o golpe político de 2015-2016 os fez propagandistas dos ventos conservadores em curso no Brasil (no caso de Miriam, até se arrefeceu, por ela ser uma opositora não-esquerdista do governo Bolsonaro).
E aí vemos que Saulo Gomes, que foi um dos entrevistadores de Chico Xavier no programa Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971, três anos após uma outra entrevista, esta particular, em Uberaba. A partir daí, passaram a ter uma profunda amizade, o que criou uma ilusão para nossos jornalistas investigativos que aceitam, com passividade bovina, a imagem mitológica que esconde o lado deturpador e reacionário do "bondoso médium".
Tendo sido ocupante da cadeira 28 da Academia Ribeirão-pretana de Letras, um dos últimos livros de Saulo Gomes foi justamente Nosso Chico - o jornalista é autor também do livro Pinga Fogo com Chico Xavier, de 2009, e As Mães de Chico Xavier, de 2010, que recebeu adaptação cinematográfica - , seu manifesto propagandístico sobre Chico Xavier, dentro daquela abordagem de, sob o aparato de conhecer a pessoa por trás de um mito, se conhece um mito por trás do mito. E assim nossos jornalistas investigativos ficam com medo de investigar as selvas trevosas por trás da floresta encantada da Fé...
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