
(Autor: Professor Caviar)
O "espiritismo" brasileiro é uma espécie de "Torre de Babel do bem". Todos pensam o que querem, fazem o que querem, desde que unidos a um igrejismo comum, construindo escadas de madeira para o Céu através de ações de mero Assistencialismo.
Com os comentários reacionários dados por Divaldo Franco, seguindo a linha antes expressa por Francisco Cândido Xavier, o consagrado Chico Xavier dos apoios entusiasmados à ditadura militar (apoios que eram convictos e verídicos e escapam a qualquer desmentimento pelo pensamento desejoso), houve uma repercussão negativa que causou preocupação no "meio espírita".
Um exemplo é o pseudo-progressista José Medrado, conterrâneo de Divaldo, ou seja, um pretenso médium baiano. Tentando defender a "liberdade doutrinária" do "espiritismo" aqui praticado, uma desculpa para que ninguém cumpra realmente a prometida e alardeada "fidelidade doutrinária" aos postulados originais, José Medrado tenta relativizar a opinião de Divaldo Franco favoráveis a Operação Lava Jato e a campanha de Jair Bolsonaro e contra Lula e a "ideologia de gênero" (como a sociedade conservadora conhece a causa LGBTQ).
O problema é que o "espiritismo" brasileiro, que tem em Chico Xavier sua "bússola", defende ideias ultraconservadoras e Chico já declarava ideias punitivistas em torno da homossexualidade, atribuindo a ela uma perturbação mental na reencarnação de um espírito num sexo oposto ao da encarnação anterior. Se percebermos as pautas de Chico Xavier, lançadas em seus livros "doutrinários", existem até mesmo a defesa da precarização do trabalho humano, incluindo a "livre negociação" trabalhista que mais favorece os patrões no seu "livre arbítrio", apesar de, agora, somente Deus ser considerado "árbitro" desses acordos.
José Medrado tenta negar o caráter conservador do "espiritismo" brasileiro, mas o faz em vão, porque as obras brasileiras dizem muito sobre esse moralismo retrógrado que está explícito a partir dos livros de Chico Xavier que servem de orientação doutrinária, mas também são carregados da ideologia direitista que o baiano da "Cidade da Luz" tenta renegar, no texto reproduzido abaixo, publicado ontem no jornal baiano A Tarde:
O Espiritismo não é hierarquizado
Por José Medrado - A Tarde, Salvador, 23 de outubro de 2019
Tem causado no meio espírita repercussão com controversas, as declarações do médium Divaldo Franco, no último fim de semana à revista Veja São Paulo, como vemos no site, com a manchete: “Médium de direita”. Ali afirmou, segundo as informações de Ana Carolina Soares, que “Bolsonaro representa uma esperança”, e continua “apesar de eu não aprovar o seu discurso a favor da tortura”. Com todo respeito que o companheiro de doutrina merece, mas entendemos que a exceção não deve ser pincelada apenas sob esta questão, à luz da doutrina espírita, mas muitas outras, como a apologia do armamento, bem como o enxovalhamento dos princípios da teoria de gênero, que mal-intencionadamente associou ao conceito de ideologia, a fim de deturpar a base conceitual do estudo acadêmico bem fundamentado. O consagrado médium baiano certamente já deve ter ouvido muito perto de si os dramas que estas mentes carregam, por quererem se autodeterminar na direção dos clamores de suas almas (espíritos em si não têm sexo), mas são levadas por questões de todas as vertentes a se reprimirem a sua natureza afetiva, gerando, não raro, quando não equacionadas suas lutas, distúrbios de adequação sérios. Não se usa do bom siso quem fala em induzir crianças à modificação de seu reconhecimento de gênero, não é o caso. Ainda na mesma matéria opina: que Moro “ao prender Lula deve ter cumprindo a lei”.
De logo, e não poderia ser diferente, estas são expressões do entendimento do líder Divaldo Franco, que influencia milhares, claro, mas não guarda a síntese do entendimento espírita, em seu universo. É Divaldo Franco falando o que pensa e cultiva Divaldo Franco. A doutrina espírita não é hierarquizada de forma alguma. Os profitentes somos os construtores dos nossos valores de saber e de sentir, na idealização do que nos inspiram a razão, a emoção e, claro, as conveniências, os interesses. Dessa forma, as posições do médium Divaldo Franco, assim como as minhas, são as nossas concepções. Representam os nossos valores de percepção e de conceitos, como no demais todos assim somos. No exercício da sua plena cidadania Divaldo opina, mas não forma juízo de valor doutrinário, como, naturalmente não o faço, in casu do espiritismo quem o fez foi Allan Kardec.
Admiração a pessoas, a posicionamentos é natural, até necessária, como referências de similitude de sentir, mas tudo será sempre de foro íntimo, pois cada um constrói o seu mundo perceptivo e, consequentemente, opinativo e de ação, viabilizando seus instrumentos de visão de mundo, suas aspirações e ideais. É a humanidade que somos, fazendo-nos pensar, falar e realizar o resultado deste produto de ser, e quase sempre permeado, repito, pelas conveniências e interesses.
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