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A complacência dos ateus ao "espiritismo" brasileiro e o mito da intolerância

(Autor: Professor Caviar)

É surreal o apoio de uma parcela de ateus ao "movimento espírita" e à suposta bondade dos "médiuns". Vendo a natureza deturpada e igrejeira do "espiritismo" brasileiro, isso se compara a de uma parcela de ovelhas sentindo simpatia pelos lobos, porque não há motivo para um ateu ficar admirando um "médium espírita".

O "espiritismo" brasileiro não sente a mesma recíproca. Richard Simonetti, conhecido escritor "espírita", havia comparado o ateísmo ao "assassinato da esperança". Ele segue uma abordagem própria do "movimento espírita", que vê o ateísmo como "anulação da fé" e, com isso, atribui à descrença em Deus uma sutil e potencial incitação ao suicídio, causa condenada pelos "espíritas" apesar de, contraditoriamente, eles pregarem a ideia de "combater o inimigo em si mesmo".

Aliás, os "espíritas" se contradizem quando apelam para defender a aceitação das desgraças e do prejuízo pelos sofredores. No primeiro momento, parecem taxativos: "aceite a desgraça que lhe é imposta, sem queixumes e orando em silêncio, abra mão até de suas necessidades fundamentais, ame o sofrimento como a um melhor amigo, e sacrifique sua individualidade servindo ao outro, mesmo que este seja seu algoz".

No segundo momento, porém, tentam adoçar o veneno que lançaram: "Não é assim que quisemos dizer. O sofrimento não é para ser amado, mas para criar na pessoa condições para aprender a vida, regular os desejos sem abrir mão deles. São apenas obstáculos a serem enfrentados, nada muito forte, e o indivíduo não precisa abrir mão de ser ele mesmo para superar dificuldades, e ele tem que ser o seu próprio amigo, cultivando o amor próprio necessário à superação dos momentos difíceis".

Quanta hipocrisia! E, no caso do ateísmo, a famosa frase de Divaldo Franco de que "preferir um ateu digno a um religioso indigno" é de um cínico oportunismo e não deve ser interpretado como um "caloroso acolhimento" aos que não creem em Deus. Muito pelo contrário. Há sutilezas por trás dessa "generosa e humilde" declaração de Divaldo, o mesmo que se revelou homofóbico e anti-petista num "congresso espírita" em Goiânia.

Primeiro, porque os "religiosos indignos" são aqueles que poderiam ser concorrentes em potencial. Os "médiuns espíritas" competem com neopentecostais no Olimpo da idolatria religiosa. Isso é explícito, a Globo "reinventou" Chico Xavier para concorrer com Edir Macedo e R. R. Soares.

Em contrapartida, os ateus são vistos pelo "movimento espírita" como os hereges do Catolicismo medieval. Os ateus são "hereges modernos" que os "espíritas" desejam converter, naquele esquema "sem querer querendo", sem aparente pretensão, mas com o mais habilidoso empenho.

CRÍTICOS DO "MOVIMENTO ESPÍRITA" NÃO FAZEM INTOLERÂNCIA RELIGIOSA, FAZEM INTOLERÂNCIA À MENTIRA

Quem critica o "movimento espírita" sabe que não está fazendo intolerância religiosa. Está fazendo, sim, intolerância à mentira e à desonestidade que marca essa religião. Se uma religião se desenvolve por práticas desonestas, ela não pode ser tolerada e isso coincide com a suposta intolerância de um movimento religioso, mas o motivo é claramente o outro.

O "espiritismo" brasileiro se desenvolve com psicografias fake que mais parecem mershandising religioso e destoam dos aspectos pessoais dos autores mortos alegados. Outra prática são os desvios doutrinários em relação aos ensinamentos originais de Allan Kardec, que reprovaria coisas como "almas gêmeas", "crianças-índigo", "reajustes espirituais", "colônias espirituais" e outras inverdades místicas e míticas que os "espíritas" brasileiros inventaram sem escrúpulos e ao arrepio da Ciência Espírita e da lógica e do bom senso em geral.

Quando se fala em intolerância religiosa no Brasil, a verdade é que ela atinge religiões praticadas por pessoas pobres ou por grupos étnicos não-dominantes. As religiões mais atingidas são as de origem muçulmana ou africana, como o islamismo, o candomblé e a umbanda. O "espiritismo" brasileiro tentou embarcar no vitimismo, passando a achar "positiva" a confusão com a umbanda, a "gostar", de forma surreal, da histórica confusão que fazia os "espíritas" sofrerem repressão policial há cem anos.

Todavia, apesar de sua roupagem de "despretensão" e "humildade", o "espiritismo" brasileiro sinaliza ser uma religião de elite, aristocrática e defensora de valores moralistas ultraconservadores, além de praticantes de um modelo de caridade que não traz efeitos profundos na sociedade e só fazem reduzir os efeitos drásticos da pobreza, menos para emancipar os pobres e mais para evitar com que os ricos fiquem marcados por um grave ônus social.

O "espiritismo" brasileiro é tolerado até demais. É mais blindado que o PSDB, o Poder Judiciário e similares (como o Ministério Público e a cúpula da Polícia Federal) e o mercado financeiro (cujo representante mais ostensivo é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles). Podemos dizer que é mais blindado do que esses três entes juntos.

A blindagem é tanta que, no caso do escritor Humberto de Campos, falecido há 84 anos, permite-se que uma "literatura paralela" envolvendo seu nome fosse livremente comercializada, constituída de obras claramente fake mas liberadas por causa de seu conteúdo religioso. No entanto, essas obras ditas "psicográficas" trazidas por Chico Xavier são claramente falsas, com um estilo muito diferente daquele que Humberto originalmente desenvolveu em vida.

Portanto, quando há ações e posturas severamente críticas ao "movimento espírita", em boa parte movidas por adeptos do Espiritismo original francês, não há ações de intolerância religiosa. O que existe é uma intolerância à mentira, à desonestidade, à fraude, à demagogia e à dissimulação, afinal o que não se tolera é a veiculação de mentiras e meias-verdades sob o pretexto da fé, da caridade, da paz e do pão dos mais necessitados. Tais pretextos só pioram ainda mais o trabalho da fraude e da mistificação.

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