(Autor: Professor Caviar)
É com muita vergonha, constrangimento e - por que não? - profunda indignação que reagimos à iniciativa do deputado federal Franco Cartafina (PP-MG), de Uberaba, que solicitou a inclusão de Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, no livro de "heróis e heroínas da pátria", guardado em Brasília.
Além da suposta caridade de Chico Xavier ser bastante duvidosa, ele deturpou gravemente o legado da Doutrina Espírita, usurpou os nomes dos mortos para provocar sensacionalismo, e sua pretensa ajuda ao próximo foi um artifício para se promover pessoalmente, além do fato de ser um artifício para abafar e blindar suas ações mais desonestas.
Chico Xavier era reacionário radical, defendia a precarização do trabalho sob o pretexto de "desapego à matéria e sacrifício a Deus" e foi um dos pioneiros da literatura fake, apresentando livros cujos créditos a autores mortos apresenta uma série interminável e grave de dúvidas, além de representar uma tarefa condenada severamente pela Codificação: a de enfeitar com "nomes ilustres" livros feitos para fins de mistificação religiosa.
Mas quem acha que Franco Cartafina é um primor de humanismo ao solicitar essa petição infeliz, devemos lembrar que ele é ligado ao agronegócio de Uberaba, por sua vez integrado ao poder dos grandes proprietários de terras desta cidade do Triângulo Mineiro. Além disso, o "generoso" Cartafina disse SIM na proposta de lei da grilagem de terras, a PL 2633/20, que favorece a concentração de terras e o aumento de poder dos latifundiários que dominam terras improdutivas.
Cartafina também é ligado ao Centrão, de uma facção simpatizante do bolsonarismo. Aliás, lembremos que o PP, partido do Cartafina, que só é Progressista no nome (agora ele se chama "Progressistas"), é um dos que se ofereceram para a filiação do atual presidente Jair Bolsonaro, que sancionou, com gosto, a petição que coloca Chico Xavier na lista dos pretensos heróis brasileiros do imaginário nacional.
Também ficamos muito tristes quando sabemos que a deputada petista Erika Kokay, relatora da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, aceitou essa petição, acreditando na suposta caridade de Chico Xavier, da qual se fala muito e da qual nenhuma prova existe, como uma versão invertida da corrupção do ex-presidente Lula, do partido de Érika, o PT, representando o Distrito Federal.
Ficamos entristecidos com isso porque Erika desconhece completamente que Chico Xavier sempre sentiu horror a tudo que fosse de esquerda, ele foi apoiador ferrenho da ditadura militar e do AI-5, a ponto de ser homenageado e condecorado pela Escola Superior de Guerra - alguém acreditaria que esse órgão, "cérebro" da ditadura, iria homenagear quem não fosse um colaborador decisivo desse projeto político? - e manifestou repulsa a qualquer hipótese de ver Lula governando o Brasil.
Mas aí é moleza Chico Xavier ter morrido em 2002 e não estar vivo para que os brasileiros vissem seu "agora herói da Pátria" apoiando Jair Bolsonaro e pedindo ao povo para não pedir o impeachment, evitando "transformar esse instrumento legislativo em brinquedo". Chico Xavier seria o primeiro a pedir para que "oremos em favor de Bolsonaro para ele prestar atenção no povo brasileiro". Vale lembrar que o reacionarismo de Chico Xavier faz o atual "espiritismo de direita" parecer fichinha.
O que nos preocupa é que esse título de "herói da Pátria", a exemplo da canonização de Madre Teresa de Calcutá, servirá para aumentar ainda mais o fanatismo religioso e a emotividade tóxica que representa essa idolatria a essas duas personalidades lamentáveis.
No entanto, temos que considerar, por outro lado, que esses títulos só servem para atender às paixões religiosas da Terra, tão perigosas e entorpecentes quanto as paixões das drogas, do sexo e do dinheiro, e, com isso, Chico Xavier só é considerado "herói" e Madre Teresa, "santa", conforme os devaneios terrenos dos seus seguidores e simpatizantes. Fora da orbe terrestre, os dois são considerados farsantes e a boa espiritualidade está muito aflita diante da obsessão popular que cerca essas duas figuras, o que prolonga a toxicidade emocional que tanto contamina multidões de incautos da fé cega.
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