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A positividade tóxica de Chico Xavier

 (Autor: Senhor dos Anéis)

A atriz Rita Guedes, numa atitude equivocada, postou na semana passada uma frase "positiva" de Francisco Cândido Xavier, como se quisesse animar as redes sociais com um recado "animador" em tempos de tragédia da Covid-19.

A frase, banal e sem muita importância, de Chico Xavier, quer dizer apenas isso: "Deixe um sinal de alegria onde passe". Uma frase idiota, superficial, porque não considera que para ser alegre é necessário certas condições, pois na vida não dá para se alegrar sem motivo. Sem falar que as frases de Chico Xavier são sempre um horror, com trocadilhos baratos e um moralismo retrógrado que só caem bem nos brasileiros por causa do complexo de vira-lata, essa doença que contamina mais o Brasil do que a Covid.

Para piorar, a frase reflete um fenômeno muito negativo, a positividade tóxica, que é aquela mania de forçar a própria pessoa ou os outros a serem felizes mesmo no sofrimento. É aquele mito de "extrair alegria da dor", que é a ideia que sintetiza muito bem a positividade tóxica, esse desejo de alegria forçada que não resolve de forma alguma os problemas vividos pelos seres humanos.

Sem perceber, Rita Guedes caiu no mesmo erro da cantora de axé-music Cláudia Leitte, que, quando apareceu no programa Altas Horas, disse que, se os brasileiros deixassem de se preocupar com a pandemia, a pandemia desapareceria. É exatamente essa a falácia moral de Chico Xavier: a ilusão de que, ao aceitar e se conformar com a própria desgraça, a desgraça desapareceria.

Esqueçam metáforas e não venham os chiquistas apresentar contextos que não existem, até porque eles consideram as frases ditas por Chico Xavier, independente dos nomes dos mortos a quem elas falsamente se atribuem, são "universais" e "acima dos tempos e de qualquer contexto da humanidade".

Chico Xavier era adepto da Teologia do Sofrimento, e lendo os livros do "médium" se confirma isso. Descondideremos os "autores espirituais", porque foi ele (às vezes com Wantuil de Freitas, Porto Carreiro, Manuel Quintão ou Waldo Vieira) que escreveu os livros, e mesmo que se considere uma suposta autenticidade dos "autores do além", é de conhecimento dos chiquistas que o "médium" concordava com tudo o que eles diziam, no caso dele não ter sido o autor dessas mensagens.

Precisamos desenhar, sobretudo para as esquerdas deslumbradas - iludidas com as pregações confusas de Franklin Félix, Carla Pavão e Ana Cláudia Laurindo, chiquistas de "esquerda" - , que o pensamento de Chico Xavier é o suprassumo do obscurantismo medieval, a mais fiel demonstração do pensamento de direita manifesto por um religioso? Apesar de certas excentricidades, Chico Xavier foi um católico tão ortodoxo quanto o reacionário Gustavo Corção.

Chico Xavier era sádico, defendendo que a pessoa que sofresse uma desgraça horrível deva aguentar esse sofrimento calada, sem reclamar da vida, fingindo que está tudo bem e sem sequer gritar por socorro, para não atrapalhar a felicidade dos outros. Para tristeza dos chiquistas, Chico Xavier disse isso em suas palavras, mesmo que as obras "mediúnicas" levem o crédito dos "autores mortos", o que sabemos não passa de uma atribuição fake.

A ideia de Chico Xavier era que a pessoa aguentasse o pior dos sofrimentos calada, apenas orando para Deus, e esperando que o arbítrio divino decida, não se sabe quando (pode ser até mesmo duas encarnações depois, num prazo estimado em cerca de 150 anos), conceda a graça do livramento e da libertação.

Chico Xavier, diferente da imagem de "fada-madrinha" que goza nas redes sociais, era machista, racista - em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (título semelhante ao lema bolsonarista "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos"), chamou os negros de "selvagens" e os índios de "ingênuos" - e defendia o trabalho servil, com caraterísticas análogas à escravidão, principalmente o trabalho exaustivo, o abuso dos patrões e as perdas salariais.

Diante disso, o "médium" era tão sádico que defendia que o sofredor ficasse alegre. Ele expressava a positividade tóxica, tão tóxica quanto a emotividade daqueles que cultuam a imagem do "bondoso médium". Aquela alegria forçada, a paz sem voz sustentada pelo silêncio dos sofredores, os problemas postos debaixo do tapete e todo mundo fingindo que está tudo bem, escondendo conflitos, abafando revoltas, deixando a indignação presa na garganta, até que ela cresça como um câncer devastador.

A talentosa Rita Guedes não pensou na positividade tóxica da frase de Chico Xavier? Em postagens anteriores, a atriz manifestou sua indignação contra o assassinato da designer Kathlen Romeu, por uma abusiva operação policial em Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro? Será que Rita teria coragem de "dar um sinal de alegria" para os parentes traumatizados e revoltados com uma morte tão prematura e criminosamente motivada?

Será que vamos dizer, para o sofredor extremo, para ele sorrir, olhar os passarinhos, ver o curso de um riacho? Ou investir na falácia de que "Deus é sempre amigo, o sofredor é que é o inimigo de si mesmo"? Se a gente agir de qualquer dessas formas, estaríamos cometendo um homicídio culposo, porque são declarações assim de positividade tóxica que incitam mais ao suicídio, não adiantando ao pregador "espírita" condenar o ato de tirar a própria vida, pois isso mais o estimula do que reprova.

Daí que reabilitar Chico Xavier, que nunca foi além de um "Jair Bolsonaro do Cristianismo" ou de um "Olavo de Carvalho sob efeito de calmantes", é inútil para a melhoria de vida das pessoas. Até porque é fácil quem está bem de vida cultuar Chico Xavier, mas o "médium" não tem serventia alguma para quem é mais pobre e tem mais sofrimento na vida. O "médium dos pés descalços" dialogava mais com aqueles que calçavam sapatos importados comprados em lojas careiras.

As ideias de Chico Xavier são de um medievalismo tão radical, de um ultraconservadorismo que as igrejas neopentecostais não conseguem ter (perto do "espiritismo" brasileiro, a Igreja Universal do Reino de Deus parece uma comunidade hippie), que se existe alguém que considera o "médium" uma personalidade "moderna e futurista", e, lamentavelmente, existem muitos assim, é porque os brasileiros parecem estar vivendo, ainda, no século II, mesmo com smartphone e outras modernices. 

Não é por acaso que boa parte dos livros mais vendidos no Brasil são de aventuras de ficção situadas na Idade Média.

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