(Autor: Professor Caviar)
O arrivismo é um grande mal que está em evidência e mantém prestígio no Brasil. Ele consiste na ascensão social obtida de maneira inconveniente, através de erros e confusão, na qual se projeta um oportunista que, só depois que conseguiu o que teve, procura bancar o certinho e, na aparência, fazer as coisas direitinho.
Falamos isso porque o arrivismo está em moda através do fenômeno eleitoral de Jair Bolsonaro, que desafia a lógica e o bom senso. Evidentemente, o Brasil tornou-se um laboratório de situações surreais, que somente imaginávamos na ficção de Luís Buñuel e Franz Kafka ou nas pinturas de Salvador Dali, e só mesmo analisando as coisas por trás da aparência simples dos fatos para entender certos absurdos.
Bolsonaro só fez sua campanha baseada em incidentes negativos, na falta de ideias relevantes para o Brasil, não demonstrou confiabilidade para administrar o país, é grosseiro e defende valores sociais retrógrados e suas propostas são abertamente antipopulares. No entanto, ele tornou-se favorito nas pesquisas e sua ascensão sem freio foi artificialmente calculada pelo lobby entre empresários solidários e a grande mídia e os institutos de pesquisa associados.
Ele é um exemplo de arrivismo, que, infelizmente, é o que mais fascina um setor da sociedade, pois é uma combinação maluca de confusões, ambição, coitadismo e jogo de cintura que transformam o erro em fórmula para o sucesso. As pessoas não conquistam seus espaços através de qualidades positivas, mas pela confusão que provocam e pela habilidade de driblar as adversidades provocadas por cada incidente.
Os "espíritas" andam muito assustados quando se tornam mais fortes as comparações do "médium" Francisco Cândido Xavier com Jair Bolsonaro, mas elas também mostram provas cada vez mais evidentes de tal aproximação. Até a forma de como cada um se ascendeu é comum: Chico Xavier se ascendeu provocando muita confusão ao se encanar de produzir literatura fake (com a ajuda de terceiros, incluindo editores da FEB e consultores literários) supostamente psicográfica, o que provocou revolta nos meios literários e, levada para os tribunais, resultou em impunidade.
Jair Bolsonaro também se ascendeu causando confusão. Sob a intenção de pressionar as Forças Armadas a conceder aumento salarial para capitães, o então membro do posto militar planejou um atentado a bomba que seria dado em diversos quartéis no Rio de Janeiro, em 1987. O episódio causou revolta nos altos comandos do Exército e nas demais forças armadas. Bolsonaro foi julgado pela justiça militar e recebeu apenas uma punição disciplinar: foi posto para a reserva, praticamente como militar aposentado.
Num quadro onde a Educação é precária, os meios de Comunicação, motivados por interesses comerciais alheios a princípios éticos - só os intervalos comerciais veiculados no Brasil já apresentaram indícios de racismo, machismo, misoginia e até apologia ao femincídio (como um comercial da Semp Toshiba exibido nos anos 1990) - , influenciam negativamente na formação de valores, moralmente esquizofrênicos ou psicóticos ao depender do caso, não só os jovens mas também adultos e mesmo os chamados "coroas" e os idosos, se inclinam em admirar o aventureirismo rasteiro dos arrivistas.
Seus "heróis" não são aqueles que possuem personalidade íntegra e conquistam os espaços honestamente, mas são os que desafiam a ordem social (seja ela desqualificada ou não), causando confusões e conflitos diversos, e geralmente saindo de fininho ajudado por algum "pistolão" ou pela sorte das circunstâncias. Conquistando altas posições na sociedade após nela "saltar de pára-quedas", o arrivista se sossega e passa a bancar o "correto", dentro do seu respectivo contexto.
Outro arrivista, o empresário e locutor de rádio Mário Kertèsz, da Rádio Metrópole FM, de Salvador, que tem o "médium" José Medrado como seu contratado, também é um filhote da ditadura militar que armou um esquema de corrupção para desviar dinheiro público, quando Kertèsz era prefeito da capital baiana. O esquema teve um parceiro, que compartilhou a grana que foi desviada para uma empresa "fantasma". De sua parte, Kertèsz adquiriu várias ações em veículos da mídia baiana e foi nomeado por Antônio Carlos Magalhães como "interventor" do esquerdista Jornal da Bahia, contribuindo para enfraquecer e extinguir o periódico. Kertèsz também é conhecido pelas suas manobras para exercer controle e domínio nas esquerdas baianas, procurando se apropriar dos movimentos sociais locais.
Na música, é notório também que a chamada "música do povão", com seus cantores e grupos que fazem sucesso entre o grande público através de sua canastrice musical, na medida em que consolidam seu sucesso, tentam, como todo arrivista, forjar as aparências que os tentem colocar, sem méritos naturais, no primeiro time da MPB, depois de enfraquecer e desmoralizar o nosso rico legado musical.
Há muitos e muitos exemplos. Dos empresários que se tornam milionários através de um acúmulo nada honesto de capital a feminicidas que matam suas mulheres e depois, deixando a cadeia, posam de "genros que todo pai gostaria de dar a suas filhas". O arrivista é um misto de aventureiro e encrenqueiro que acha que pode obter vantagens maiores e estabilizar-se nelas por muito tempo.
O apreço da sociedade brasileira aos arrivistas combina falta de senso crítico, inclinação ao sensacionalismo, defesa de valores conservadores, complacência aos medíocres e relativização ou deturpação de valores éticos e ideais progressistas. Em muitos casos, a sociedade transforma o arrivista num pretenso "salvador da Pátria", vendo nele a personificação do herói mercenário que estão acostumados a ver nos filmes de Hollywood produzidos nas últimas quatro décadas.
Chico Xavier e Jair Bolsonaro chamam a atenção por eles serem mitos desenvolvidos através de uma lógica televisiva. Chico é o "velho bondoso" das novelas da Rede Globo combinado a um pretenso filantropo de programa de auditório. Jair é o justiceiro de filme de violência, ou então o herói dos jogos eletrônicos que os jovens das periferias tanto usavam nos anos 1990. Isso significa que as pessoas andam muito presas na mídia, seja a Rede Globo, a revista Veja, a Record TV, ou as páginas e canais de fake news nas redes sociais, o que diz muito sobre a popularização dos arrivistas através da confusa visão moral trazida pelo poder midiático. Com isso, as pessoas acabam distorcendo seus valores dando consideração, até mesmo obsessiva e exagerada, a quem, na verdade, não possui valor algum nem traz serventia para nossa sociedade. O Brasil, na mão dos arrivistas, corre muito perigo de ser destruído.
Comentários
Postar um comentário