(Autor: Professor Caviar)
Francisco Cândido Xavier é o pioneiro da literatura fake, e as sucessivas blindagens que recebeu, de início pela habilidade publicitária do presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, e, depois, pela TV Tupi e, nos últimos 40 anos, pela Rede Globo de Televisão, apenas deixaram isso escondido sob o tapete da memória curta da maioria dos brasileiros.
Com uma narrativa típica de novela da Rede Globo, mas adaptando o roteiro tendencioso que o católico ultraconservador inglês, Malcolm Muggeridge, fez para promover a igualmente duvidosa Madre Teresa de Calcutá, se acostumou a ver Chico Xavier sob uma imagem adocicada, idealizada, de pretenso filantropo, associado a uma "caridade" que rendeu mais adoração e beatitude do que resultados sociais concretos.
O Brasil de modo nenhum atingiu, por essa suposta filantropia, níveis altos de desenvolvimento humano, porque as ações eram meramente paliativas e feitas por terceiros. Os "médiuns" levam fama, mas eles, em si, não praticaram nem praticam caridade: a ação caridosa é sempre feita por outras pessoas. As "formigas" trabalham, a "cigarra" leva o prestígio.
Soa doloroso desconstruir a imagem de Chico Xavier que teve um começo arrivista. Sua suposta psicografia aponta fortes indícios de trabalho fake, tanto os livros que levam os nomes de autores mortos, quanto as chamadas "cartas dos entes queridos". Há disparidades evidentes de estilos e detalhes pessoais em relação aos supostos autores mortos, irregularidade que era disfarçada pelo mershandising religioso. Por conta dessa manobra que encobre falsas psicografias, os mortos acabam sendo usados como se fossem "garotos propagandas" da religiosidade cristã, dando a falsa impressão de que o mundo espiritual é uma grande igreja.
O "espiritismo" brasileiro tenta abafar as coisas e enrola a opinião pública alegando que as supostas psicografias dependem de "critérios mais objetivos" para se atestar se são autênticas ou não. Isso é brincar com a desinformação das pessoas, porque esses critérios nunca são trabalhados pelos próprios membros do "movimento espírita", entre palestrantes, jornalistas, "médiuns" e acadêmicos associados, que preferem essa manobra "rocambolesca" para esconder falsidades alegando supostos critérios surreais. Eles não querem admitir que uma simples leitura comparativa e o confronto de aspectos pessoais (como a caligrafia) poderia derrubar muitas obras tidas como psicografadas, mas com fortes indícios de serem fake.
O nome de Humberto de Campos é considerado o caso mais grave da suposta psicografia de Chico Xavier. O estilo do autor maranhense raramente aparece na obra dita "mediúnica", e nota-se diferenças aberrantes desta com a obra original do autor. Humberto, originalmente, tinha uma escrita ágil, com linguagem impecável, culta mas acessível, constantemente descontraída. A obra "espiritual" apresenta outros aspectos: textos prolixos, linguagem cheia de vícios (como o cacófato - "chama Maria" e "que cada"), linguagem forçadamente culta e de leitura pesada e com texto deprimente.
É #FAKE QUE CHICO XAVIER DESCOBRIU VIDA EM MARTE
Chico Xavier teve a triste façanha de rebaixar um membro da Academia Brasileira de Letras a um "repórter" de seu "jornalismo mediúnico". Neste sentido, o "médium" mineiro abriu precedentes para as fake news conforme são feitas no Brasil, criando o risível episódio de Humberto ter "viajado até Marte" para descrever "descobertas" que, na verdade, correspondiam a conhecimentos trazidos pelo cientista estadunidense Percival Lowell bem antes de Chico nascer.
As atribuições a Chico Xavier se referem a dois livros: Cartas de uma Morta, de 1935, atribuído ao espírito da mãe dele, Maria João de Deus, e Novas Mensagens, atribuído (ainda mais levianamente) ao nome de Humberto de Campos, livro lançado em 1939.
Que fake news não pode ser a "notícia" de que Chico Xavier e o seu "Humberto de Campos" deram ao dizer que "descobriram vida em Marte" antes que as verdadeiras descobertas científicas de 2004 fissem divulgadas. E o factoide foi plantado pelo hoje falecido Gerson Monteiro, então diretor da Rádio Rio de Janeiro. Um idoso espalhando FAKE NEWS!!
Mesmo que muitas descobertas de Marte tenham sido comprovadas em 2004, através de imagens divulgadas pela NASA, o precedente nunca poderia ser a obra de Chico Xavier, lançada numa época em que a hipótese de ter havido vida em Marte era um assunto tão batido que virou tema até de ficção científica bem antes da segunda metade da década de 1930. Discutia-se essa hipótese até nos tempos em que Allan Kardec mal tinha acabado de morrer, através das ideias do seu amigo Camille Flamarion.
Humberto, que teve use nome creditado numa pseudo-psicografia intitulada Reportagens de Além-Túmulo (típico precedente para o recreio das fake news das redes sociais hoje em dia!), também foi usado em outra obra de fake news do além. No livro Estantes da Vida, de 1969, o pseudo-Humberto, escondido sob o pseudônimo "Irmão X", também está associado a uma suposta entrevista que se realizou com uma estranha Marilyn Monroe prisioneira de seu túmulo. É impossível admitir que Marilyn Monroe - uma atriz mais inteligente que se pode imaginar - , ao morrer prematuramente, tenha que se tornar prisioneira do seu túmulo, a exemplo do que a imprensa sensacionalista dos EUA faz, ultimamente, com Brittany Murphy. Quando morrem, os espíritos desse nível nunca se interessariam em ficar "morando" em seus caixões, eles aliás fogem desses lugares.
A obra de Chico Xavier tem muitos indícios de aspectos fake, que podem ser tranquilamente questionados, com farta apresentação de provas. Além disso, o próprio pedagogo Allan Kardec também recomendou previamente sobre aspectos negativos da atividade dita mediúnica, que apresentam equivalência na obra de Xavier.
Com isso, nota-se que Chico Xavier encontrou, ultimamente, um excelente ambiente de sintonia nas redes sociais, justamente entre o público que aprecia fake news. Se o reacionarismo ideológico de Chico Xavier é comprovável na sua famosa entrevista no Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971, colocando-o em afinidades energéticas com Jair Bolsonaro (vibratoriamente favorecido com tal associação), suas obras fake condicionaram energias que favoreceram o crescimento das páginas de notícias falsas que se multiplicam na Internet e nas redes sociais. O "pai dos fakes" encontra sua afinidade maior com seus "filhos" das fake news e dos usuários fake nas redes sociais. Faz parte do espetáculo.
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