(Autor: Professor Caviar)
É bom jair se acostumando: Chico Xavier e Jair Bolsonaro são almas gêmeas, se é que existe essa ideia tão defendida pelo "espiritismo" brasileiro.
Os dois surgiram de maneira arrivista e conquistaram seus postos numa ascensão garantida pelas conveniências e representam valores extremamente conservadores.
Pouca gente imaginou que o mito (desculpem o trocadilho) de "bondade e amor" de Francisco Cândido Xavier foi desenvolvido durante a ditadura militar, sendo uma espécie de "água com açúcar" para evitar que a crise política se convertesse numa ampla mobilidade social. A figura "tranquilizadora" de Chico Xavier criava "zonas de conforto" de uma "caridade" que ajudava pouco, apenas aliviando a "dor" da pobreza sem combater a "doença" da miséria.
Imaginávamos que essa "caridade" era transformadora e progressista. Nos enganamos. Ela nem sequer mexia nos excessos das elites mais ricas, e não trazia qualidade de vida plena para as classes populares.
Imaginávamos Chico Xavier um ativista. Nos enganamos. Mas sua ideia era sempre aceitar as desgraças em silêncio. Ele mais parecia um "padre" dos sonhos de todo ditador, um "pacifista" padrão de regimes autoritários. "Sofrer sem demonstrar sofrimento", "aceitar o sofrimento em silêncio, sem queixumes". Isso sempre foi o "pensamento" de Chico Xavier.
Chico Xavier foi idealizado como "moderno", "progressista", foi moldado como se fosse o que ele nunca foi, alguém à frente do seu tempo. Antes ele fosse mais um reflexo de tempos anteriores, ele refletia o atraso mental de suas raízes sociais, de suas origens ainda saudosas do século XIX, uma rural Pedro Leopoldo ainda vivendo como se estivesse ainda no Segundo Império.
Com a vitória de Jair Bolsonaro, tornou-se impossível idealizar Chico Xavier como um "progressista", até porque isso soa hoje decadente aos olhos do senso comum. Além disso, a rede de apoios diretos e indiretos que envolvem o "espiritismo" brasileiro sinaliza o direitismo dessa religião que se afastou dos ensinamentos originais do Espiritismo original francês.
Alguns fatores sinalizam isso, de maneira bastante concreta:
1) O "movimento espírita" definiu as manifestações do "Fora Dilma" como o começo da "regeneração da humanidade". E apoiou abertamente as ações da Operação Lava Jato e do juiz Sérgio Moro, que chegou a ser exaltado como "enviado dos benfeitores espirituais".
2) Um dos famosos que mais divulgam o "espiritismo" brasileiro, o ator Carlos Vereza, que interpretou, no cinema, o médico Adolfo Bezerra de Menezes, sempre expressou seu conservadorismo extremo, declarando recentemente apoio a Jair Bolsonaro.
3) Divaldo Franco mostrou seu reacionarismo quando, numa entrevista realizada no evento "espírita" de Goiânia, manifestou opiniões homofóbicas e um evidente antipetismo e antimarxismo. As declarações chocaram os espíritas autênticos e derrubaram a ilusão de que Divaldo era "progressista".
No primeiro momento, restou ao "movimento espírita" um pretenso "Fla X Flu" ideológico contra Chico Xavier, na visão idealizadora de muitos. Alguns adeptos de Chico Xavier tentaram supor que o "médium" nunca teria dito tais declarações ofensivas que Divaldo Franco disse. Só que não.
Chico Xavier fez comentários horrorosos contra movimentos operário, camponês e sem-teto. Isso diante de um grande público, no programa Pinga Fogo da TV Tupi, com clara consciência de seus atos. Chico não disse para agradar o regime militar, para agradar a produção da TV Tupi ou estava sob a ação de um obsessor. A realidade é dura, Chico Xavier apoiou a ditadura. E isso foi lembrado quando, antes de Divaldo Franco dizer as suas visões reacionárias, o mediador da entrevista disse, numa daquelas ironias que dizem a verdade, a palavra "Pinga Fogo".
Hoje Jair Bolsonaro deu um discurso dizendo que fará um governo religioso, com Estado "cristão". Seu lema é "Brasil, acima de tudo, Deus acima de todos", e é perfeitamente idêntico ao lema de Chico Xavier, "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho". Será difícil os seguidores de Chico Xavier usarem os últimos esforços do pensamento desejoso e pescarem algum texto obscuro para fazer suas interpretações fantasiosas, botando em Chico um progressismo que ele nunca teve.
Além do mais, como os movimentos progressistas saíram derrotados nas eleições, cada vez mais se consolida, de maneira definitiva, a constatação de que Chico Xavier sempre foi um sujeito extremamente conservador. E ele, com toda a certeza, teria apoiado Jair Bolsonaro, pela identificação com o perfil religioso dele e as propostas conservadoras que o hoje presidente eleito trará para o país.
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