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Chico Xavier não previu ascensão de Jair Bolsonaro. Mas teria adorado a ideia


(Autor: Professor Caviar)

Recentemente, a imprensa desmentiu que o "médium" Francisco Cândido Xavier, em mensagem de 1952 atribuída ao "espírito" de André Luiz, que tenha previsto a ascensão de Jair Bolsonaro como candidato à Presidência da República.

Corretíssimo. A mesma mensagem já foi atribuída, em outras vezes, a Fernando Collor (apoiado pelo "médium" em 1989), a Aécio Neves (por quem o "médium" sentiu simpatia e sinalizava apoio, no final da vida) e Sérgio Moro (apoiado pelo "movimento espírita" como "enviado da espiritualidade superior).

Portanto, a imagem de "progressista" que muitos atribuem a Chico Xavier pode não ter influído para prever a vitória de Bolsonaro, por parecer "absurda" para tais predições. Mas, no entanto, Chico Xavier era uma figura conservadora, em toda a sua vida, que não raro apresentava opiniões bastante reacionárias. E isso se comprova facilmente nas ideias apresentadas por ele, que eventualmente usava os nomes dos mortos como artifício para tornar as ideias de Xavier "menos pessoais".

No entanto, Chico Xavier teria adorado a ideia de prever a vitória de Bolsonaro. Se vivo fosse, ele teria apoiado Jair Bolsonaro, reconhecendo apenas o aspecto desagradável que seus seguidores adotam "atitudes e procedimentos infelizes". Anti-petista de carteirinha, para desespero das esquerdas que ainda se sentem seduzidas pela imagem adocicada do "médium", Chico no entanto acharia "necessária" a vitória de Bolsonaro porque "os brasileiros precisam sofrer certos sacrifícios visando um futuro melhor".

Isso é chocante e imagina-se quanto o pensamento desejoso tenta fazer ginástica mental para desmentir tal "aberrante constatação", que deixa muitos chiquistas às lágrimas, feito crianças contrariadas. É muito mais cômodo jogar Chico Xavier "para a esquerda", combinando frases soltas e ideias sem nexo, mas que apresentam paradigmas agradáveis de "caridade", "fraternidade" e "paz". Falácias que consolam atraem mais adeptos do que informações verídicas que ferem as fantasias de muita gente.

As afinidades de Chico Xavier e Jair Bolsonaro foram tantas que o presidenciável foi favorecido quando, nas redes sociais, era comparado ao "médium". Os dois, arrivistas que, segundo a Astrologia, são ambiciosos nativos do signo de Áries, começaram de maneira semelhante, em incidentes oportunistas que causaram confusão e até revolta nos círculos sociais nos quais cada arrivista queria impressionar.

Sob o objetivo de pedir mais salários para os capitães do Exército, Jair Bolsonaro, em 1987, estabeleceu um plano de ataque terrorista em vários quartéis, que não provocaria vítimas, mas faria muito barulho. Ele foi denunciado e foi julgado pela Justiça Militar. Embora muitos generais ficassem irritados com a atitude do capitão, incluindo Jarbas Passarinho, ex-ministro da ditadura militar, Jair só recebeu uma sentença disciplinar: a aposentadoria precoce da reserva. A partir daí, ele iniciou sua carreira política e cresceu apoiado pelas forças sociais conservadoras.

Chico Xavier teve o mesmo processo. Ele criou um estranho livro de poemas fake que eram atribuídos a autores mortos, que ele dizia terem "ditado" do mundo espiritual. O factoide, o livro Parnaso de Além-Túmulo, era uma armação para impulsionar as vendas dos livros da FEB e enriquecer o presidente Antônio Wantuil de Freitas, depois uma espécie de "empresário" de Chico Xavier. O livro era tão estranho que os poemas e prosas destoavam dos aspectos pessoais dos autores alegados, apresentavam os pontos de vista pessoais de Chico Xavier e o livro, tido como "obra da espiritualidade superior", teve estranhas e profundas alterações editoriais por cinco vezes em 23 anos.

A obra causou muita confusão e os mais renomados literatos ficaram indignados com uma publicação medíocre que se passava por uma coletânea de poetas famosos, mas apresentava conteúdo abaixo de seus talentos. O escritor Humberto de Campos escreveu um artigo irônico de duas partes, no Diário Carioca, em 1932, dizendo "admitir" semelhanças entre as "psicografias" e os legados deixados em vida pelos autores alegados. Mas Humberto teria irritado Chico Xavier ao não recomendar que "escritores mortos concorressem com o ganha-pão dos autores vivos".

Isso fez com que, havendo o fato irônico da morte prematura do autor maranhense (maldição de Chico Xavier?), o "médium" passou a se apropriar do nome dele, por revanche, e começou a escrever, com Wantuil e a ajuda de editores da FEB e consultores literários e bíblicos (o conteúdo do "Humberto de Campos" fake era escancaradamente igrejeiro, contrariando o ateísmo do autor em vida), as pretensas "psicografias".

Mais confusão foi criada. E, o que é pior, fazendo com que os herdeiros de Humberto, sobretudo sua viúva, Catarina Vergolino de Campos, processassem Chico e a FEB. Um julgamento foi marcado para agosto de 1944, mas, no dia 23 daquele mês, o juiz João Frederico Mourão Russell, então um jurista bastante em evidência no Rio de Janeiro e que atuava na 7ª Vara Cível do então Distrito Federal, declarou o processo "improcedente", abrindo precedente para uma justiça seletiva e parcial que hoje tem em figuras como Sérgio Moro, Luís Roberto Barroso, Carmen Lúcia, Deltan Dallagnol Gilmar Mendes, Luiz Fux e João Pedro Gebran Neto como seus membros mais conhecidos.

Dessa forma, Chico Xavier foi beneficiado pelo empate técnico, e pela seletividade da Justiça que protege e inocenta privilegiados de todo tipo de status, o econômico, o político e o religioso, mesmo em crimes dignos de prova, como, no caso do "médium", o uso de falsidade ideológica e a atribuição oportunista do prestígio de um famoso falecido para levar vantagem promovendo sensacionalismo em nome de interesses comerciais, que é a venda de livros.

Mesmo o pedagogo francês Allan Kardec reprovaria com severa energia a iniciativa de Chico Xavier. E isso é fato. Afinal, é só ler a bibliografia kardeciana para entender o perigo que é haver oportunistas usando "nomes ilustres" para permitir desvios à lógica espírita original, carregando no igrejismo deslavado para seduzir os leitores e inserir neles conceitos moralistas retrógrados e ideias fantasiosas e desprovidas de fundamento científico a respeito do mundo espiritual.

Chico Xavier ainda cometeu um assédio moral de cunho religioso, embora com técnicas de sedução próprias do assédio sexual ou do assédio a crianças por parte de pedófilos ou sequestradores. Foi contra o filho do escritor, o produtor de televisão Humberto de Campos Filho (que, numa das fotos da Internet, aparece ao lado de Hebe Camargo), ao ver que a mãe, Catarina Vergolina, havia morrido, em 1951. O assédio ocorreu em 1957 e, oficialmente, é visto pelo "movimento espírita" como um "momento de reconciliação e perdão" da família de Humberto.

No entanto, é um caso grave de assédio moral, que inclui também o processo obsessivo da fascinação, condenado pela literatura kardeciana. Nesse episódio, Chico Xavier comanda uma doutrinária em Uberaba, abraça levianamente a vítima, o filho homônimo do autor maranhense, e sussurra nele um falsete hipnotizante, que desnorteia o dominado. Seduzida, a vítima é levada para acompanhar uma caravana de puro Assistencialismo, com ações espetacularizadas de "caridade" (de baixos resultados sociais) nas quais os pobres são apresentados sob o prisma da inferiorização social elitista. Humberto Filho, tomado de fascinação obsessiva, se rende aos domínios do "médium".

São processos arrivistas que a narrativa "limpa" da Rede Globo de Televisão, que "formatou" o Chico Xavier que hoje todos "conhecem" e adoram, em rendição total à fascinação obsessiva das imagens floridas e celestiais tendenciosamente vinculadas ao "médium", e que criaram um imaginário no qual a emoção cega e irrefletida exerce supremacia absoluta à razão, ao raciocínio investigativo e à busca aprofundada do Conhecimento. Chico seria reprovado, como espírita, pelo professor Kardec, sem a menor hesitação.

Reacionário, Chico Xavier sempre apelava para as pessoas ficassem em silêncio, não questionassem, não reclamassem e se conformassem com as desgraças da vida. Defendeu o golpe de 1964 e a ditadura militar até o fim. Nunca defendeu uma causa de esquerda e seu exemplo, postumamente, fez seus seguidores e herdeiros doutrinários nunca defenderem o PT e nunca se preocuparem sequer em visitar o ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, na prisão.

Seu perfil reacionário, seu arrivismo de confusões impunes, suas obras fake e seu estrelato encontram sintonia em Jair Bolsonaro. Chico e Jair são dois lados da mesma moeda, são a "luz" e a "sombra" de um mesmo imaginário coletivo. São duas forças complementares de um mesmo ideal ultraconservador que envolve vários setores conservadores da sociedade brasileira. Não por acaso, Chico Xavier viveu seu auge durante a ditadura militar e suas "cartas mediúnicas" eram um recado para as famílias se conformarem não só com os entes queridos, mas com os assassinatos diversos que ocorriam pela violência das ruas e nos bastidores da tortura militar.

A ideia de um "mundo melhor" da "vida futura" (mundo espiritual), idealizado sem o menor fundamento científico, era o gancho para Chico Xavier pregar o ultraconservadorismo social, pedindo aos desgraçados tanto a aceitação de seus infortúnios pesados quanto o consentimento com os abusos dos privilegiados, abrindo caminho para um quadro social que hoje é representado pelo bolsonarismo. As esquerdas deveriam romper com Chico Xavier e abandonar o pensamento desejoso movido pela fascinação obsessiva.

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