(Autor: Professor Caviar)
Diante da crise provocada pela deturpação da Doutrina Espírita, seus ídolos e dirigentes sempre apelaram para o "discurso da fraternidade", tão bem construído que chega a convencer até mesmo os mais céticos.
As palavras parecem maravilhosas: "Vamos deixar as discordâncias para lá. É certo que nós (leia-se deturpadores) erramos no entendimento errado da obra de Allan Kardec, e pedimos sua compreensão e misericórdia. Vamos nos unir na fraternidade, comprometidos com os ensinamentos de Jesus Cristo".
Ad Passiones puro. O discurso falacioso acaba protegendo sempre os deturpadores. Nos últimos 42 anos, pelo menos, o que se vê é um engodo no qual, na aparência, coexistem conceitos igrejistas com outros cientificistas, uma falsa diversidade que emporcalha o legado trabalhoso de Kardec, que com seu próprio dinheiro se sacrificou para depois sua obra ser reduzida a uma bagunça em que qualquer um faz o que quer com seu trabalho.
E tudo isso começou quando o exemplo de Francisco Cândido Xavier destruiu aquele sentido original da atividade de médium, inserindo nela o culto à personalidade e uma imagem espetacularizada e sensacionalista que virou alvo de adorações mórbidas, muito diferente dos médiuns que estiveram a serviço de Allan Kardec.
O maior agravante é que os médiuns do tempo de Kardec eram aristocratas, porém com uma humildade muitíssimo maior do que a dos seus supostos similares brasileiros, que vivem o culto à personalidade e bancam os dublês de pensadores e filantropos, iludindo as pessoas e deixando elas distraídas com um sentimento mórbido e obsessivo de adoração cega e intransigente, que beira ao fanatismo.
Como se não fosse suficiente essa distorção do conceito de médium, que no Brasil não faz jus à palavra - que tem sentido de intermediário - , há a deturpação do conteúdo do Espiritismo, que se reduz a um igrejismo que, aos poucos, faz o legado de Kardec virar pó, substituído por uma versão mais alucinada e esotérica do velho Catolicismo jesuíta que vigorou durante os primeiros séculos do Brasil colonial.
É uma trajetória de muitos erros, gravíssimos, e uma deturpação que os "espíritas" tentam dizer que é acidental, embora em outras situações ache "natural" a catolicização, por causa da "afinidade com os ensinamentos do Cristo", e por isso sempre que soa o sinal de alarme o "movimento espírita" tenta apelar para a "fraternidade" e a "união", ou seja, a "união das galinhas em torno da raposa".
Isso porque o discurso de "fraternidade e união" tem como objetivo consentir sempre com a deturpação espírita e induzir as pessoas a aceitar o engodo doutrinário, que trata confusão como se fosse "diversidade" e contradição como se fosse "equilíbrio".
A ideia de "esquecer as discórdias" parece bonita em tese, mas na prática isso significa aceitar que os deturpadores mantenham as rédeas do "movimento espírita", já que eles é que são os maiores favorecidos por essa aparente misericórdia.
Praticamente uma boa parte dos contestadores da deturpação espírita entrega ouro a bandido ao fazer qualquer ressalva em prol dos deturpadores, sobretudo quando atribuem o Assistencialismo que eles fazem como "bondade plena". Qualquer vírgula escrita em favor dos deturpadores lhes dá vantagens estratosféricas, é como se deixasse a raposa descansar num canto do galinheiro.
As pessoas acabam se tornando vítimas e até reféns das paixões religiosas. Têm medo do conflito que pode botar instituições religiosas a perder. São as mesmas pessoas que aceitam outras tragédias e outras perdas, e todavia se incomodam quando um pingo no "i" é usado contra um "médium espírita".
A sociedade é complexa e não é todo discurso "pela fraternidade" que é positivo e saudável. Há interesses muito mesquinhos que promovem uma "confraternização de cima", na qual os interesses dominantes sempre ficam em primeiro lugar.
O discurso da "fraternidade espírita" é só uma desculpa para se manter todo o engodo doutrinário que, em verdade, não somente envergonharia Allan Kardec como o deixaria bastante preocupado, se soubesse o quanto os "espíritas" brasileiros fazem o que querem com seu legado, sem o menor escrúpulo de não só contradizerem os postulados espíritas originais como cometer contradições entre si mesmos, causando discordâncias internas mesmo entre os igrejeiros do "movimento espírita".
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