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O inicial deslumbramento de Agrippino Grieco em relação a Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar)

O escritor e crítico literário Agrippino Grieco (1888-1973) foi um dos nomes envolvidos na polêmica da suposta psicografia de Francisco Cândido Xavier. O "movimento espírita" o credita como se fosse um dos que "confirmaram" essa prática, mas na verdade ele estava neutro, ainda que sentisse impressões inicialmente positivas.

A reportagem a ser reproduzida abaixo, do carioca Diário de Notícias, de 21 de setembro de 1939, mostra um Agrippino bastante deslumbrado, em 1939, com impressões ligeiras sobre as supostas psicografias. Ele superestimou as semelhanças apresentadas entre as obras trazidas por Chico Xavier e os autores alegados correspondentes, pois, embora seja um conhecedor de literatura, não se disponibilizou de obras originais para comparação com as ditas "espirituais".

Agrippino se desiludiria cinco anos depois, mas aqui ele aparece ainda muito impressionado. No entanto, ele não havia sido taxativo, apenas expressando suas impressões iniciais, afirmando que era incapaz de fazer um estudo especializado a respeito. Mesmo o deslumbramento, portanto, é insuficiente para atestar a "autenticidade" das obras de Chico Xavier.

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DEBATE PÚBLICO SOBRE O ESPIRITISMO

A mensagem de Humberto de Campos apreciada por Agrippino Grieco

O CONHECIDO CRÍTICO LITERÁRIO CONFESSA ATURDIDO COM O FENÔMENO ESPÍRITA

Do Diário da Noite - Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1939.

A mensagem do saudoso escritor Humberto de Campos, psicografada em Belo Horizonte por Chico Xavier, o médium famoso de Pedro Leopoldo, causou sensação.

Agrippino Grieco, o conhecido crítico literário, testemunha do fato, não escondeu o seu espanto diante do que lhe foi dado assistir. Na ocasião, tivemos oportunidade de, ligeiramente, registrar suas impressões transmitidas, então, à imprensa mineira.

Aguardávamos que o literato regressasse a esta capital, após a "tournée" intelectual que realizou por várias cidades do interior, para ouvi-lo sobre o estranho comunicando do além, que testemunhara.

FALA-NOS AGRIPPINO GRIECO

Uma das caraterísticas principais da personalidade do festejado crítico nacional é a coragem intelectual e moral com que se lança à apreciação de tudo. Por isso, ontem, quando o encontramos, ao ser abordado não vacilou assim, se expressando inicialmente:

- Pouco tenho a acrescentar ao que os "Diários Associados" divulgaram, aliás numa reportagem brilhante e variada, sobre o meu encontro póstumo com a literatura de Humberto de Campos.
Estava eu em Belo Horizonte e, por mero acidente, cabei indo assistir a uma sessão espírita. Aí falaram em levar-me à estação de Pedro Leopoldo para ver trabalhar o médium Chico Xavier. Mas, já havendo tantas complicações no plano terrestre, quis furtar-me a outras tantas do plano astral, e lá não fui. Resultado: Chico Xavier resolveu ir a Belo Horizonte.

O CRÍTICO INSPECIONA O "MÉDIUM"

E prossegue:

- Na noite marcada para o nosso encontro, fui em vez de ir ao sítio aprazado, jantar tranquilamente num restaurante onde não costumava fazer refeições e onde não sei como conseguiram descobrir-me. Mas o caso é que me descobriram junto a um frango com ervilhas e me conduziram à agre - fui. Resultado: Chico Xavier reaguardava.
Salão repleto, uma das grandes noites do kardecismo local... Aboletei-me à mesa da diretoria, junto ao Chico, que não me deu, assim inspecionado sumariamente, a impressão de nenhuma inteligência fora do comum. Um mestiço magro, meão de altura, com os cabelos bastante crespos e uma ligeira mancha esbranquiçada num dos olhos.

ESCREVEU COM UMA CELERIDADE ESPANTOSA

A seguir, o sr. Grieco descreve sem esconder a grande impressão que o domina ainda o fenômeno que presenciou:

Nisto, o orientador dos trabalhos pedia-me que rubricasse vinte folhas de papel, destinadas à escrita do médium. Tratava-se de afastar qualquer suspeita de substituição de texto. Rubriquei-as e Xico Xavier, com uma celeridade vertiginosa, deixando correr o lápis com uma agilidade que não teria o mais desenvoltos dos rasistas de cartório, foi enchendo tudo aquilo. À proporção que uma folha se completava, sempre em grafia bem legível, ia eu verificando o que ali fixara o lápis do Chico.
Primeiro, um soneto atribuído a Augusto dos Anjos. A seguir, percebi que estavam em jogo, bem patentes, a linguagem e o meneio de ideias peculiares a Humberto de Campos. Dirão tratar-se de um "à-la maniére de", como os de Paul Reboux e Charles Muller.

FIQUEI ATURDIDO!

Por fim, apreciando o texto das comunicações, diz concluindo:

- Será uma interpretação digna de respeito. Quanto a mim, não podendo aceitar sem maior exame a certeza de um "pastiche", de uma paródia, tive, como crítico literário que há trinta anos estuda a mecânica dos estilos, a sensação instantânea de percorrer um manuscrito inédito retirado do espólio do memorialista glorioso.
Eram em tudo os processos de Humberto de Campos, a sua amenidade, a sua vontade de parecer austero, o seu tom entre ligeiro e conselheiral. Alusões à Grécia e ao Egito, à Acrópole, a Tiresias, ao voo de Ísis muito ao agrado do autor dos "Carvalhos e Roseiras". Uma referência a Sainte-Beuve, crítico predileto de nós ambos, mestre de gosto e clareza que Humberto não se cansava de exaltar em suas palestras, que não me canso de exaltar em minhas palestras. Conjunto bem articulado. Uma crônica, em suma que, dada a ler a qualquer leitor de mediana instrução, lhe arrancaria este comentário: "É Humberto puro!".
Fiquei naturalmente aturdido...
Depois disso já muitos dias decorreram e não sei como elucidar o caso. Fenômeno nervoso? Intervenção extra-humana? Faltam-me estudos especializados para concluir. Além do mais, recebi educação católica e sou um entusiasta dos gênios e heróis que tanto prestígio asseguram à religião que produziu um Santo Antônio de Pádua e um Bossuet. Meu livro "São Francisco de Assis e a Poesia Cristã" aí se encontra a testemunhar quanto venero a ética e a estética da Igreja. Mas, repito-o com a maior lealdade - a mensagem subscrita por Humberto de Campos profundamente me impressionou...

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