(Autor: Professor Caviar)
Num país sem grandes filósofos - no sentido daqueles cuja linha de pensamento atravessa séculos, como Sócrates, Platão, Hegel etc - , como o Brasil, Francisco Cândido Xavier é erroneamente creditado como tal, assim como Divaldo Franco.
Diante do hábito dos brasileiros médios pensarem a "filosofia" como uma coleção de frases bonitinhas "de lições de vida" - algo qualquer nota, que vai desde recados de insubordinação à opressão política à subordinação à desgraça resultante dessa mesma opressão (ahn?!) - , fica fácil criar uma multidão de "filósofos" com tão pouca coisa.
E aí vemos as frases de Chico Xavier que, prestando muito bem atenção, não têm sombra sequer da beleza a que se atribui. Algumas frases são toscas, rudimentares, de pseudo-conselhos que nem há a menor necessidade de serem dados. Em muitos casos, são daqueles pretensos conselhos que pessoas chatas dão só para dizer que pensam alguma coisa, e mais atrapalham que ajudam. Vejamos uma declaração do beato católico de Pedro Leopoldo:
"A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.
A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...
Tudo bem!
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum...
é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos.
Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos".
Note-se aqui uma grande contradição. No primeiro parágrafo, se observa que Chico Xavier admite que as pessoas podem até serem obrigadas a "acreditar mais ou menos no futuro". No terceiro parágrafo, porém, o "médium" disse que não se pode "acreditar mais ou menos".
Como assim? O próprio Chico Xavier, autoproclamado um "mensageiro da vida futura", um beato que valorizava a fé acima de tudo, "admitir" que "acreditemos mais ou menos no futuro"? Que "filosofia" é essa que se contradiz tanto e traz mais confusão do que verdade?
Já era suficiente o caráter medíocre dessas frases "mais ou menos" lançada pelo "mestre mais ou menos" que propagava um espiritismo "mais ou menos". Pois não se trata de outra coisa senão um conselho para que nós tenhamos uma "grandeza mais ou menos" para assim aceitar as "coisas mais ou menos" com alguma "grandeza".
Essas frases nem de longe trazem uma solução para a vida, sendo apenas um exemplo suave da Teologia do Sofrimento, colocando as circunstâncias "mais ou menos" no lugar da tempestade das desgraças.
As frases são uma grande perda de tempo, mas, como Chico Xavier virou um ídolo religioso blindado pela Rede Globo e moldado com base no que o britânico Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá, que era obrigada também a ser dublê de "filósofa", então Chico Xavier tinha que seguir o mesmo receituário, bancando o "pensador" num país marcado pela alarmante ignorância.
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