(Autor: Professor Caviar)
Um artigo acadêmico, desses que existem aos montes no Brasil, criando uma cosmética da objetividade para dar a impressão de pretensa imparcialidade nas abordagens, foi tomado de muita fascinação obsessiva para tentar afirmar que Francisco Cândido Xavier, mesmo elogiando a ditadura militar, "não a apoiava".
Intitulado "Fluxos do Espiritismo Kardecista no Brasil: Dentro e fora do continuum meidúnico", de Ronaldo Terra, dissertação de Mestrado em Ciências Sociais da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), o texto até apresenta alguns pontos "polêmicos", mas chama a atenção pelo discurso mole do mestrando, que, na tentativa de blindar a imagem adocicada de Chico Xavier, negou que ele tenha apoiado a ditadura militar. Vejamos o trecho e depois continuemos a análise:
Outra manifestação favorável aos militares vem do kardecismo por intermédio do médium Chico Xavier. Considerado na década de 1970 como um fenômeno de popularidade, Chico impressionava a todos por ter publicado 107 livros que, segundo ele, eram frutos da psicografia. Além disso, as obras abordavam temas incomuns para a época, como o uso de anticoncepcionais, bebês de proveta e homossexualidade.
A participação do médium mineiro no programa Pinga-Fogo, da extinta TV Tupi de São Paulo, no dia 28 de julho de 1971, demonstra sua tendência sobre a política no país. (Marcel Souto) Maior relata que, ao ser sabatinado ao vivo por cinco entrevistadores, Chico Xavier prendeu a atenção de 75% dos telespectadores paulistas. Questionado pelo jornalista Reali Júnior sobre o possível conformismo dos espíritas em relação à injusta distribuição de renda no Brasil, o médium responde que “O espiritismo nos pede paciência para esperar os processos da evolução e as ações dos homens dignos que presidem os governos”.
No dia 12 de dezembro daquele mesmo ano, Chico Xavier volta ao auditório da TV Tupi para uma nova participação no programa Pinga-Fogo. Desta vez, a entrevista foi transmitida em rede nacional por um pool formado por quatro emissoras. Segundo Maior, na ocasião o médium defendeu a cirurgia plástica e a reencarnação, declarou seu respeito pela umbanda, descontraiu o público com suas histórias e ainda proferiu um discurso capaz de emocionar o próprio general Médici, então presidente do país:
– Precisamos honorificar a posição daqueles que nos governam e que vigiam os nossos destinos. Devemos pedir para que tenhamos a custódia das Forças Armadas até que possamos encontrar um caminho em que elas continuem nos auxiliando como sempre para que não descambemos para qualquer desfiladeiro de desordem. A oração e vigilância, preconizadas por Jesus, se estampam com clareza em nosso governo atual [...].
A declaração de simpatia pelo governo não termina no discurso. Ao final do programa, Chico contempla a plateia com um poema psicografado e assinado, simplesmente, por Castro Alves. Nele, uma nova homenagem: “Dos sonhos de Tiradentes / Que se alteiam sempre mais / Fizeste apóstolos, gênios/ Estadistas, generais”.
O reconhecimento não tardou, convidado pela Escola Superior de Guerra, Chico dá uma palestra aos alunos e, ao final, é homenageado com o hino da instituição cantado pelos cadetes. Enquanto sua atuação rendia comentários e protestos de religiosos e jornalistas, o médium usufruía do prestígio obtido. No dia 22 de setembro de 1972, recebeu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o título de Cidadão do Estado da Guanabara. Nesta data, estava entre os ilustres presentes, o almirante Silvio Heck.
O comportamento de Chico Xavier não representa a adesão total dos kardecistas ao regime militar. No entanto, é importante observarmos que o médium mineiro simboliza o sucesso e a expansão da doutrina no século XX. Seu carisma conquistou milhares de brasileiros, que sempre peregrinavam até Uberaba em busca de conforto espiritual e de mensagens de familiares falecidos, psicografadas por ele.
A projeção internacional do kardecismo e o reconhecimento do Brasil como país espírita, muito se deve ao trabalho de Chico Xavier. Ele é considerado nos meios espíritas como exemplo de vida e maior representante da doutrina depois de Allan Kardec.
Assim, podemos afirmar que sua conduta amistosa em relação aos militares jamais seria questionada pelos espíritas e que, ao homenagear a ditadura, ele evita qualquer tipo de censura, podendo exercer livremente suas atividades e divulgar os preceitos da doutrina. Da mesma forma, os “comandantes políticos” aproveitaram-se da situação para usufruir do crédito revelado por um homem com perfil de santo, capaz de atrair indivíduos dos mais diversos segmentos religiosos, o que desviava o foco do clero e suas críticas.
Aliás, se considerarmos os estudos de (Sandra Jaqueline)Stoll e (Bernardo Lewgoy) (autores pesquisados na tese), (...), compreenderemos que as atitudes complacentes de Chico Xavier com o exército brasileiro eram mais condizentes com o perfil católico de santidade assumido por ele do que propriamente uma estratégia em busca de legitimação ou um ato de colaboração com a ditadura militar, condição que não reverte o relacionamento amigável do médium com os militares.
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Ronaldo Terra, tomado de fascinação obsessiva por Chico Xavier, entra em profunda contradição, ao exaltar o "médium" na "projeção internacional do kardecismo", como se isso fosse ampliar o legado original de Allan Kardec. Em dado momento, ele, quando tenta desmentir que Chico Xavier estava apoiando a ditadura militar, usa como alegação o "perfil católico de santidade assumido por ele", atribuição que, se confrontada com o tipo "imperfeito" que hoje se fala dele - afinal ele era "santo" ou "médium imperfeito"? - , soa bastante risível.
Além do mais, o texto sempre se apoia nessa imagem adocicada e nos apelos do "bombardeio de amor" que o suposto médium, na verdade um dos piores e mais preocupantes deturpadores do legado espírita francês, inserindo neles um moralismo ultraconservador dentro do pacote religioso medieval, aponta muitas falhas de abordagem, sendo mais um aparato "científico" feito para garantir a idolatria obsessiva e o apego doentio ao mito de Chico Xavier.
Portanto, é mais um artigo que não traz o menor compromisso algum com o Conhecimento, sendo apenas mais um em que o simulacro de questionamento só serve para maquiar a tese, que mal consegue esconder seu caráter deslumbrado e que não passa de um artigo de devoção religiosa fantasiado de tese de pós-graduação, independente do autor ser ou não um sectário na sua admiração pessoal e perigosamente fascinada pelo "médium" igrejista.
Uma coisa tem que se deixar clara. Se Chico Xavier manifestou seu apoio à ditadura militar, conforme declarações ao programa Pinga Fogo, da TV Tupi, ele apoiou a ditadura militar. Ronaldo Terra tentou ser melindroso, ficou cheio de dedos para não ferir a imagem dócil de um ídolo religioso, e veio na tese aberrantemente delirante de que Chico Xavier "exaltou, mas não apoiou a ditadura". É aquela coisa cretina: "ele teve vontade de fazer, mas não teve a intenção de fazê-lo".
Pois se Chico Xavier apoiou a ditadura militar, ele apoiou a ditadura militar, ora! Deixe de ilusão, "mestre" Ronaldo! Chico Xavier era um ultraconservador dos mais rígidos! Está em sua formação social! E ele teria apoiado Jair Bolsonaro, apesar das restrições que ele faria aos seus seguidores, porque se identificava com o projeto político ultraconservador do ex-militar. Se Djavan, Luíza Brunet e Bernardinho apoiaram a candidatura de Bolsonaro, quanto mais um "médium" beato das antigas...
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