(Autor: Professor Caviar)
A embalagem é a mesma. Sugere apreciação da pobreza, espírito de generosidade, prática de caridade e busca do progresso humano. Mas o conteúdo é completamente diferente, trazendo diferenças abismantes e irreconciliáveis.
Isto é a oposição entre Francisco Cândido Xavier e Luís Inácio Lula da Silva. As duas figuras são antagônicas, em que pese a "mesma embalagem". O "médium", embora associado a tamanhas virtudes, está em desvantagem, pois o conteúdo de suas ideias e pregações sempre teve uma essência ultraconservadora, que poucos de seus seguidores conseguem perceber ou admitir.
Só o fato da Justiça dos homens ter dado tratamento desigual a um e outro deve ser levado em conta. Chico Xavier virou réu, em 1944, num processo judicial movido pelos herdeiros de Humberto de Campos, por conta de supostas psicografias que levaram seu nome. A Justiça brasileira tinha em mãos uma possibilidade de condenar Chico Xavier, porque as provas de fraude eram muito grandes, bastando uma simples leitura comparativa para saber que o estilo de Humberto de Campos produzido em vida nem de longe aparece na "obra espiritual", de qualidade bastante inferior e com um estilo completamente diferente da obra publicada em vida.
Apesar disso, Chico Xavier foi posto na impunidade, pois o processo terminou em empate jurídico, pois o juiz suplente da 8ª Vara Criminal do Distrito Federal, João Frederico Mourão Russell, julgou a ação judicial "improcedente" e ainda cobrou custos advocatícios à viúva de Humberto, dona Catarina Vergolino de Campos. João Frederico, com isso, teve conduta comparável ao dos "juristas" tendenciosos da atualidade, como Sérgio Moro, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Carmen Lúcia.
Ainda assim, foi a mesma seletividade da Justiça que inocentou Chico Xavier e condenou Lula, com uma inversão de critérios. Ao primeiro, a farsa da "psicografia" que usurpou a memória do autor maranhense tinha provas irrefutáveis, já mencionadas por autores literários sérios e pelo jornalista Attila Paes Barreto, em seu seminal livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, lançado naquele ano.
Já ao segundo, havia carência de provas que incriminassem Lula, e a condenação à prisão do ex-presidente da República, que completa um ano hoje, se deu por conta de rumores a respeito da acusação de Lula ter sido dono de um apartamento triplex numa área nobre do Guarujá, apesar do referido imóvel ter aparência mais modesta do que se supõe. Ainda assim, o ex-presidente nunca quis ser dono do imóvel, que se manteve sob propriedade da empreiteira OAS.
FOTOS QUE CONTRASTAM
As imagens que ilustram a postagem mostram o contraste dos tratamentos que Chico Xavier dava aos pobres e os de Lula. Na foto de Chico Xavier, pobres enfileirados e deprimidos se dirigiam a beijar a mão do "médium", em relação de submissão hierárquica. Na de Lula, uma idosa encosta a sua testa na do ex-presidente, ambos sorrindo alegremente e expressando uma relação de cumplicidade, dando um banho de solidariedade que inexistiu na imagem ritualística de pessoas cumprimentando Chico Xavier.
Chico Xavier sempre foi um arauto do pensamento conservador brasileiro. No auge de sua popularidade, a década de 1970, o "médium" que era blindado pela ditadura militar - que Chico apoiou com muito gosto - era um equivalente daquele período ao que Olavo de Carvalho corresponde aos dias atuais. Um "guru" ultraconservador, retrógrado, de ideias medievais e tido como místico e pretenso sábio.
É chocante para muitos, que se apoiam na imagem adocicada que a mídia hegemônica trabalhou com muita insistência, reconhecer o lado reacionário que Chico Xavier teve em toda sua vida. Ele foi ultraconservador em 1971, mas isso vem de suas raízes sociais e de sua formação pessoal, e, além disso, ele não mudou de postura com a redemocratização, até porque, pelo seu próprio conservadorismo, não tinha saúde, disposição nem interesse para se transformar num suposto libertário, a partir dos 75 anos (idade que o "médium" tinha em 1985).
Mas suas ideias confirmam seu ultraconservadorismo. Defesa do trabalho exaustivo, da submissão hierárquica, da "cura gay" - Chico Xavier pedia "respeito aos homossexuais", mas atribuía às escolhas deles um "estado de confusão mental" e pedia "ensinar sobre a missão humana na encarnação sob uma condição sexual "determinada pelas leis de Deus" - , da Escola Sem Partido, tudo isso está presente em Chico Xavier. Não é fake news, é só ler os livros e abrir mão de pensamentos desejosos.
Tudo isso é o oposto a Lula. É doloroso, para muitos, que Chico Xavier seja revelado como um reacionário, um conservador extremo. As pessoas, iludidas pela imagem adocicada do "médium" com a cabeça "flutuando" pelo céu azul, ainda usam o malabarismo do pensamento desejoso para relativizar o reacionarismo, com alegações agradáveis, porém confusas e sem a menor coerência com a realidade.
A verdade é que Chico Xavier foi conservador extremo, desde quando lançou suas primeiras obras em revistas de 1930 - quando ele assinou pelo próprio punho poemas que interesses levianos depois botaram no crédito de "autores espirituais" - até quando ele deu sua última respiração em 2002. Isso pode ser confirmado pelos fatos, pelas palavras do "médium", pelos seus atos.
Nem a suposta caridade de Chico Xavier deve ser vista como pretexto para um hipotético progressismo, até porque a forma filantrópica que o "médium" apoiava nunca foi nos limites do Assistencialismo, que não fazia os pobres superarem suas condições sociais enquanto não ameaçava os privilégios abusivos dos mais ricos. Era, portanto, uma "caridade" fajuta.
Além do mais, a ideia de Chico Xavier, calcada na Teologia do Sofrimento, de que as pessoas tinham que aguentar desgraças sem queixumes, era uma anti-caridade, porque simplesmente se recusava a ajudar os outros, na medida em que tentava convencer os desgraçados a continuar sofrendo, em vez de dar a mão para essas pessoas superarem tais desgraças. Só isso derruba de vez a falácia, vinda de uma religião elitista como o "espiritismo" brasileiro, de que "Chico Xavier praticou caridade".
Neste caso, temos que convir. Muitos chamam a Bolsa Família de Lula de Assistencialismo, mas ela impulsionou famílias a melhorar a qualidade de vida e trouxe progressos em todo o país. Enquanto isso, a "caridade" de Chico Xavier, que muitos chamam de "Assistência Social", não conseguiu tirar sequer uma única cidade, Uberaba, da pobreza - Pedro Leopoldo, então, nem se fala - , e a fez até perder pontos no Índice do Desenvolvimento Humano da ONU. Isso já derrotou o "médium" em relação à tentativa de "ajudar o próximo".
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