(Autor: Professor Caviar)
Notaram que o "espiritismo" virou a religião da mediocridade e de um certo nível de permissividade? A religião que traiu Allan Kardec tornou-se um vale-tudo doutrinário, em que vale a erosão de ideias para ser "espírita", bastando fazer peças com dramalhões moralistas ou corais cantando letras piegas sobre paz e fraternidade, desviando do foco dos postulados kardecianos originais.
A maioria das casas e eventos "espíritas" se tornaram redutos do mais gosmento igrejismo. Tudo virou um "segundo Catolicismo", o que é risível, pois, se já temos a Igreja Católica, por que outra Igreja Católica? É para os sacerdotes ("médiuns") não vestirem batinas e para os seguidores evitarem o senta-e-levanta das missas?
Quanta preguiça. E o que se observa entre os "espíritas" é que tudo virou um vale-tudo. Novelistas ruins reescrevem seus romances e inventam um suposto espírito como pretenso autor espiritual. Físicos frustrados e advogados ruins correm logo para serem palestrantes "espíritas" e faturar com livros doutrinários, na verdade obras de auto-ajuda mal-disfarçadas. Cientistas incompetentes e fãs de Astrologia e outros esoterismos criam um engodo teórico no qual misturam física quântica, psicologia, horóscopo e bola de cristal, ilustrando seus artigos com paisagens cósmicas ou formas humanoides como o rosto humano ou a anatomia do corpo humano.
Desde que Francisco Cândido Xavier deu seu mau exemplo, ele um católico ortodoxo de relativa paranormalidade que, em vez de ficar no seu Catolicismo sossegado, preferiu se intrometer no Espiritismo do qual nunca apreciou de verdade, o que vemos é o legado kardeciano ser empastelado, ridicularizado, desfigurado, e seus traidores fazendo beicinho, se dizendo "fiéis aos postulados espíritas originais" e ainda cobrando dos outros a fidalidade e o respeito que não têm.
Essas posturas fizeram os "espíritas" estarem abaixo dos neopentecostais, derivações da igreja evangélica marcadas por valores obscurantistas e um forte apelo midiático sensacionalista. Isso porque os neopentecostais podem ter os piores defeitos, como uma inclinação pelos retrocessos sociais, um reacionarismo profundo e preconceituoso e uma ambição de dominar o país e interferir na vida dos outros.
Mas os neopentecostais não têm o pior defeito dos "espíritas", que é a desonestidade doutrinária. Enquanto os "espíritas" adoram ilustrar suas páginas com a famosa foto de Kardec olhando sério, contraditoriamente eles o traem com apelos igrejeiros que deturpam de maneira bem grosseira a frase dita pelo pedagogo francês: "Fora da caridade não há salvação".
Foi o Codificador dizer essa frase e os "espíritas" passaram a matar aula, como se frequentassem o Catolicismo às escondidas. O igrejismo, marcado pela mística dos "médiuns", se torna tão extremo, gerando uma catarse emocional tão mórbida quanto exagerada, que causa nojo e faz com que o Espiritismo original nem de longe seja devidamente valorizado.
Nem mesmo a promessa e os artifícios de "aprender Kardec" convencem, até porque se tornam medidas de mero aparato. Afinal, de que adianta fazer uma exposição correta das ideias kardecianas se, depois, se esbalda num igrejismo, numa vaticanização deslumbrada, intensa, convicta e com muito entusiasmo?
Chico Xavier e Divaldo Franco prometeram "aprender Kardec", mas, depois disso, continuaram com seu igrejismo de raiz roustanguista, mantendo a deturpação no seu curso de trair o Espiritismo, coisa que deve ser vista como um grave problema e não como uma coisinha de nada, porque a vaticanização, praticada até por quem diz ser contra, como Alamar Régis Carvalho, é um desvio de foco dos ensinamentos espíritas originais, não um capricho de suposta afinidade com ideais cristãos.
É preciso que as pessoas saiam desse véu de luz, cor e fantasia e vejam o grave problema que o "espiritismo à brasileira" está fazendo, com traições doutrinárias vergonhosas, que deveriam ser alvo de reportagem investigativa e tudo. Não se pode ser complacente à deturpação do Espiritismo, se deixando levar por uma paisagem de Teletubbies ilustrando frases igrejistas, ou pelo apelo fácil de crianças pobres. Devemos seguir as lições de Kardec, que, ao aconselhar a crítica à deturpação, pediu para que ela se torne rígida em nome da coerência, da lógica, da ética e do bom senso.
Sem essas quatro qualidades, o pretexto do "amor" se torna vago, oco e até frágil, e o da "caridade", sem efeito. Mas a demagogia dos "espíritas", sobretudo "médiuns", de se dizerem "fiéis a Kardec" enquanto praticam o igrejismo que recusam a admitir, também tornou inútil o cumprimento da desesperada promessa de "aprender Kardec", mediante um sem-número de atitudes hipócritas e extremamente contraditórias. Até no quesito sinceridade os "espíritas" são medíocres, para não dizer incompetentes.
Comentários
Postar um comentário