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As esquerdas progressistas e sua falha ao acolher a "caridade" paternalista da direita


(Autor: Professor Caviar)


Confundir servidão com serviço. Infelizmente, as esquerdas brasileiras caem na armadilha dos "pobres sorridentes", num processo em que as classes populares são domesticadas pelo poder dominante e explorador, que impõe um paradigma de "caridade" que traz efeitos extremamente baixos, de qualidade medíocre e que só servem mesmo para glorificar o suposto benfeitor.

Confusas, as esquerdas sucumbem a esse embuste, e hoje mesmo tivemos um excelente portal de mídia alternativa, o Brasil 247, colocando, na capa de seu programa no canal do YouTube, "Paz e Bem", uma foto de Madre Teresa de Calcutá alimentando uma criança, uma atitude paternalista que, objetivamente, nada nos diz sobre a bondade humana.

Madre Teresa apenas usou a "caridade" como truque de marketing. O que ela fazia era o "holocausto do bem", jogava um monte de gente pobre e doente, a pretexto de assisti-los, nas casas de sua organização Missionárias da Caridade. Deixava-os em condições degradantes, entre as quais a falta de higiene, a colocação de doentes graves expostos uns aos outros, propiciando o contágio, eram colocados em colchões desconfortáveis, eram remediados apenas com paracetamol e aspirina, as seringas usadas eram reutilizadas e lavadas apenas com água de torneira (com razoáveis níveis de contaminação de germes, sendo desaconselhada para beber) e ainda eram mal alimentados.

Nesse "holocausto do bem" - que deveria nivelar Madre Teresa não a um "símbolo de bondade humana", mas à tirania genocida de Adolf Hitler - , estimou-se que, numa época, 29 mil pessoas morreram por conta dessas condições degradantes. Madre Teresa, com seu "bondoso" e "suave" sadismo, comemorou e disse que eles agora estão "sob os cuidados de Deus".

É lamentável, extremamente lamentável, que setores das esquerdas no Brasil prestem alguma consideração a Madre Teresa de Calcutá. E isso se percebermos que ela também era reacionária, condenava o aborto, passou pano para os empresários da Union Carbide diante da tragédia em Bhopal, na Índia, um vazamento de gás que matou e afetou a saúde de milhares de pessoas em 1984. "Perdoe, perdoe", apenas disse Madre Teresa.

É mais ou menos se Francisco Cândido Xavier tivesse passado pano para os empresários da Vale diante das tragédias de Mariana e Brumadinho, ambas na sua Minas Gerais. Será que ele diria "Misericórdia, misericórdia e somente rezemos a Deus por esse infortúnio"?

Vamos chamar a atenção sobre o equívoco que as esquerdas fazem ao cultuar Madre Teresa de Calcutá, a julgar pelos dois divulgadores de sua pessoa, um de seus aspectos positivos, outro de seus aspectos negativos:

1) MALCOLM MUGGERIDGE - Quando fez o documentário Algo Bonito Para Deus (Something Beautiful For God), há 50 anos, em 1969, o britânico Muggeridge já era notável ativista católico conservador, com acusações, ainda não oficialmente confirmadas, de que ele era colaborador da CIA (Central Intelligence Agency), agência de informação do governo dos EUA.

2) CHRISTOPHER HITCHENS - Ele havia sido trotskista na juventude e, quando lançou o livro A Intocável Madre Teresa de Calcutá (The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), em 1995, e, um ano antes, o documentário Anjo do Inferno (Hell's Angel), ele ainda estava nos seus últimos arroubos progressistas, pois fontes na imprensa consideram que a guinada conservadora de Hitchens teria sido a partir de 2001, durante o episódio do atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro daquele ano.

É assustador que as esquerdas deem ouvidos a Malcolm Muggeridge, um direitista convicto - que também havia sido esquerdista, mas essa fase foi abandonada ainda mais cedo - , sem questionar o mito adocicado de Madre Teresa. Enquanto isso, poucos esquerdistas conseguem ver sentido nas denúncias de Hitchens e de outra figura progressista, Aroup Chatterjee, que acompanhou os trabalhos das Missionárias de Caridade.

Que não sejamos polarizadores, é verdade. Mas vamos tomar muito cuidado. Cultuar religiosos reacionários, como Chico Xavier, Divaldo Franco e Madre Teresa de Calcutá faz as esquerdas brasileiras caírem no ridículo, porque esses religiosos simbolizam um paradigma de "caridade" que nada tem de progressista.

A "caridade" que os três e similares representam é, na verdade, o Assistencialismo, uma "caridade" que apenas "alivia a dor" dos pobres, sem no entanto desenvolver a "cura" da pobreza. O Assistencialismo é acusado de ser um mecanismo de dominação das pessoas pobres, além de que nunca ofereceu risco algum aos privilégios excessivos dos mais ricos. O Assistencialismo é paternalista, e não deve ser confundido com Assistência Social, esta sim uma ação que ameaça os privilégios das elites, e que os "espíritas" dizem praticar mas nunca fazem.

Chico Xavier, Divaldo Franco e Madre Teresa manifestaram ideias de direita, e, além disso, seus valores envolvem a submissão hierárquica e a servidão (trabalho difícil e exaustivo), pautas rejeitadas pelos esquerdistas. Madre Teresa foi homenageada em 1985 pelo mesmo Ronald Reagan que financiava o banho de sangue que matou forças progressistas e ativistas humanitários em vários países da América Central. Como é que as esquerdas dão consideração a esses religiosos tão retrógrados?

É claro que a polarização é um risco de radicalismos extremos. É evidente que isso criaria um "muro da vergonha" ideológico de efeitos nefastos para a humanidade. Mas as esquerdas cometem o erro de, sob a tentativa de sair da bolha ideológica, buscar os aliados errados, em pessoas que simbolizam um falso discurso humanitário que apenas apresenta apelos profundos de suposta beleza e pretensa simplicidade. Enquanto continuarem agindo assim, a única "paz e bem" que as esquerdas têm que promover é aceitar ver Luciano Huck governando o Brasil e impondo uma agenda neoliberal. Com mais neoliberalismo, vamos ver se é maravilhoso "sermos simples servos".

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