(Autor: Equipe Dossiê Espírita)
O filho adotivo de Francisco Cândido Xavier, Eurípedes Higino, acusou de "intolerância religiosa" o ato de vandalismo contra o busto do "médium", situado no seu mausoléu em Uberaba, na região do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais.
O busto sofreu um segundo ataque, dois anos depois do anterior, e o vidro foi quebrado com marcas de pancadas, ato ocorrido na manhã de ontem. Uma vendedora de flores telefonou para Eurípedes para comunicar a ocorrência.
"Desagradável. Isso foi maldade, vandalismo. Não acredito que iriam roubar, não. Imagine como a gente fica quando algo assim acontece. Mesmo que fosse um ser humano qualquer, já ficaríamos tristes; agora imagina sendo com o meu pai, Chico Xavier, que nunca mexeu com ninguém e é referência de caridade e bondade", disse Eurípedes, que cuida do mausoléu.
Ele acredita ter sido um ato de intolerância religiosa, algo que não procede. O "espiritismo" brasileiro é uma das religiões mais toleradas de todo o Brasil. O que pode ter sido foi um ato de vandalismo comum que atinge estátuas relacionadas com pessoas famosas, qualquer uma que fosse. Se a estátua fosse, por exemplo, de Tancredo Neves, o ato teria sido rigorosamente o mesmo.
É possível que o vandalismo tenha partido de alguém ao mesmo tempo miserável e usuário de drogas, que passa pelo lugar eventualmente. O vandalismo pode ser um ato de alguém com impulso para apedrejar ou destruir símbolos municipais, independente de crença religiosa ou plano ideológico.
Se houvesse, por exemplo uma estátua em homenagem ao ex-presidente Lula, o ato de vandalismo também teria sido rigorosamente o mesmo, sem tirar nem pôr.
Quem sofre intolerância religiosa, no Brasil, na verdade são crenças relacionadas aos povos muçulmano e afro-brasileiro. O "espiritismo" não está no mapa da intolerância religiosa, e sofre uma grande blindagem social, sendo sobretudo o movimento religioso blindado pelas Organizações Globo e por setores conservadores e elitistas da sociedade.
AS FRAUDES DE CHICO XAVIER
Condenamos o ato de vandalismo, por ser uma grande desordem social. Mas temos que discordar de Eurípedes Higino não só na sua declaração sobre intolerância religiosa mas também na sua alegação de que Chico Xavier "nunca mexeu com ninguém".
Sim, Chico Xavier mexeu com muita gente, e da pior forma. Ele começou usurpando os mortos, na obra poética Parnaso de Além-Túmulo, de 1932, que pode ser considerada um dos pioneiros em publicação de textos fake, que hoje são comuns na Internet, impulsionando sobretudo as páginas de fake news, de notícias mentirosas e geralmente de caráter bastante conservador e de extrema-direita.
Isso não é uma declaração rancorosa ou intolerante. É só fazer uma leitura cuidadosa no conteúdo de Parnaso de Além-Túmulo, que chama a atenção pela estranheza com que se alterou em sucessivas edições, trocando autores e reparando textos.
Os poemas atribuídos a personalidades mortas destoam severamente dos estilos originais dos mesmos. Autores como Olavo Bilac e Auta de Souza estão associados a poemas que nem de longe seguem seu estilo, e reproduzem, tão somente, o pensamento pessoal de Chico Xavier, algo que é condenável, por mais que as mensagens sugiram conteúdo "positivo" e "moralmente relevante".
A denúncia do livro foi aliás um dos dois "fogos amigos" que desqualificaram o trabalho de Chico Xavier. E desmentem a veracidade dos atos de Chico, revelando, mesmo por acidente e da parte de seus apoiadores, aquilo que se atribui a "acusações violentas" de opositores do anti-médium mineiro.
Um "fogo amigo" foi dado pela "médium" e amiga de Chico, Suely Caldas Schubert, no seu livro Testemunhos de Chico Xavier, originalmente de 1986. Foi divulgada uma carta na qual Chico agradece o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, e um dos membros do conselho editorial, Luiz da Costa Porto Carreiro Neto, pelas revisões feitas para a sexta e última edição de Parnaso, porque Chico "não tinha tempo disponível" para analisar o conteúdo da obra.
Isso confirma que o livro era uma fraude feita por Chico, Wantuil e por redatores e editores que já trabalhavam com um periódico da federação, O Reformador. E comprovou as acusações de Alceu Amoroso Lima, um católico conservador que, tempos depois, passou a dianteira de Chico quando passou a se opor à ditadura militar, defendida com muita convicção pelo "médium" em 1971, como comprovam as declarações para o programa Pinga Fogo, da TV Tupi, na época.
O segundo "fogo amigo" foi dado durante as fraudes da suposta materializadora Otília Diogo, nos anos 1960. Oficialmente, diz-se que Chico Xavier foi "enganado" pela "médium", posteriormente desmascarada em 1970, quando foi apreendido material para a farsa da Irma Josefa e outros personagens, entre fantasias e outros objetos.
O fotógrafo Nedyr Mendes da Rocha registrou os bastidores da "materialização", e mostra Chico Xavier com pose de atento, conversando animadamente com demais pessoas, demonstrando estar a par de tudo e revelando entusiasmo e atenção. Isso desmente a tese de que o "médium" foi enganado, porque fotos mostram que Chico já sabia de toda a farsa e dava o maior apoio. O episódio resultou no rompimento de Waldo Vieira, antigo discípulo de Chico, com seu antigo ídolo e parceiro.
Chico também é conhecido por usurpar o prestígio de Humberto de Campos. O "médium" mexeu com o autor maranhense, sim, este que fez um comentário sobre Parnaso dotado de suave ironia (o autor e ensaísta não aprovava a concorrência de mortos e vivos na literatura brasileira), algo que não agradou Chico, que teria se "vingado" depois que Humberto morreu, usurpando seu nome através de um suposto sonho em que o escritor de O Brasil Anedótico teria se encontrado com o "médium".
Chico foi beneficiado pela seletividade da Justiça - hoje conhecida pelas atuações de gente como Gilmar Mendes e Sérgio Moro - e sofreu impunidade no processo dos herdeiros de Humberto de Campos. Isso porque a obra supostamente espiritual revela-se explicitamente distante do estilo original do autor maranhense, algo facilmente comprovável com uma leitura comparativa.
Segundo especialistas e de acordo com nossas próprias pesquisas, o estilo original de Humberto de Campos era culto mas informal, de narrativa ágil e fluente, com temas laicos e uma linguagem descontraída. Era um escritor parnasiano quase modernista, de textos impecáveis mesmo quando investia no humor cáustico sob o codinome de Conselheiro XX ("conselheiro vinte").
Já os livros "espirituais" atribuídos a Humberto ou Irmão X ("irmão X") revelam estilo bem diferente. A escrita, rebuscada e prolixa, a narrativa mais pesada, o conteúdo moralista e de forte apelo igrejeiro, a linguagem mais tristonha. A disparidade é tanta que, se há indício de plágio, ela remete mais ao Velho Testamento do que à própria obra original do autor maranhense.
TRAIDOR E VÍTIMA
EURÍPEDES HIGINO ENTRE AS MAQUETES DO TRAIDOR E DA VÍTIMA, RESPECTIVAMENTE CHICO XAVIER E ALLAN KARDEC.
EURÍPEDES HIGINO ENTRE AS MAQUETES DO TRAIDOR E DA VÍTIMA, RESPECTIVAMENTE CHICO XAVIER E ALLAN KARDEC.
Mas a pessoa com que Chico Xavier mexeu de maneira mais deplorável foi Allan Kardec. Isso é muito mais do que explícito, e o "médium" mineiro simplesmente arruinou o legado do pedagogo francês, que foi um trabalho quase solitário, penoso e pago com o próprio dinheiro.
É até uma constrangedor ver que Eurípedes Higino - ele mesmo envolvido com denúncias de corrupção - posar ao lado das maquetes de Chico e de Kardec, o traidor e a vítima, quando se sabe que a obra de Xavier representa abertamente um insulto aos postulados espíritas originais, pois as ideias do "médium" têm muito mais a ver com o velho Catolicismo jesuíta medieval, trazido pelo espírito de Emmanuel, evocado por ele.
Isso não é invenção. Análises comparativas sobre os livros de Kardec e os livros de Xavier mostram uma clara disparidade de conteúdo e grave contraste de ideias, algo que não pode ser visto como um acidente ou uma falta de aprendizado. Chico Xavier deturpou o Espiritismo com muita consciência do que estava fazendo, e fez isso durante muitos anos, com grande repercussão e grande alcance público e com mais de 400 livros. Não se faz algo sem querer desta forma.
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