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Confirmado: 'Parnaso de Além-Túmulo' é uma FARSA

(Autor: Professor Caviar)

Sabemos que este texto é muito doloroso e causará tristeza e indignação a muita gente. Mas deixemos as paixões religiosas e toda a verborragia pseudo-lógica que tenta justificá-las a qualquer preço e paremos para pensar.

Constatamos que o livro Parnaso de Além-Túmulo é uma grande farsa, porque a obra mostra aspectos muito estranhos para que se atribua a ela possível autenticidade. A tese de farsa não é um exagero e nem é teoria conspiratória, e se deve por argumentos bastante lógicos e coerentes, feitos mediante cuidadosa investigação.

Desconfia-se que a Federação "Espírita" Brasileira tivesse alguma animosidade com a Academia Brasileira de Letras. Fotos antigas de dirigentes da FEB mostram poses grupais semelhantes às dos "imortais" da ABL. Podemos dizer, até por ironia, que a FEB queria ser mais "imortal" do que os membros da ABL, num trocadilho irônico à tese da imortalidade da alma. Mas, no fundo, é uma grande ciumeira intelectual, pois a FEB virou um clube de pretensos literatos, pedantes e falidos.

Portanto, só nos falta saber qual dirigente da FEB teria se candidatado a uma cadeira da ABL, sem sucesso, e resolveu fazer uma revanche, transformando o grupo febiano num arremedo de academia literária. Será Manuel Quintão? Ou Antônio Wantuil de Freitas? Ou algum outro qualquer? A desconfiança existe, e aponta para uma tese provável, mas faltam informações a respeito.

Por enquanto, enquanto não se sabe a raiz de toda essa revanche literária que envolveu as produções de Parnaso de Além-Túmulo e a "série Humberto de Campos / Irmão X", levianas apropriações da FEB de grandes nomes literários, vamos às irregularidades evidentemente comprovadas pelo livro poético que Francisco Cândido Xavier lançou em 1932, com a colaboração de editores e redatores da FEB:

1) É DIFÍCIL REUNIR ESPÍRITOS DE TANTOS ESCRITORES

A vida pessoal já tem um exemplo claríssimo de como é difícil chamar espíritos de diferentes procedências para um mesmo evento, um mesmo encontro. Notemos que, num período longo após o fim de um ano letivo escolar, é dificílimo reunir todo mundo para um reencontro.

Suponhamos que trinta anos se passaram após o fim de um ano letivo de uma turma da oitava série. É possível reunir todos os, digamos, quarenta alunos de uma turma? Não. Se desses quarenta, se reunirem quinze, já está bom demais. Boa parte deles está ocupada nos seus compromissos pessoais e, eventualmente, algum dos colegas pode ter morrido.

Da mesma forma, é impossível reunir todos os escritores mortos para um mesmo evento, e a situação ainda se torna mais difícil, se verificarmos que são escritores de diferentes procedências. Escolher espíritos para um evento "mediúnico" não é possível, porque a "mediunidade" não é como um restaurante a quilo para a gente escolher um "espírito" aqui e outro ali e jogá-lo numa obra "psicográfica".

Os espíritos partem para bem longe, preocupados com seus afazeres. Eles, além disso, desconfiam dos chamados de oportunistas, que mesmo sob motivação religiosa, os chamam para tarefas bastante tendenciosas. Os espíritos, em verdade, não atendem a esse chamado, indo a seu lugar espíritos zombeteiros que acabam intuindo os "médiuns" a criarem obras de suas mentes e usarem os nomes dos mortos que recusaram a atender tais chamados.

2) ESPÍRITOS PODEM TER LARGADO SUAS PROFISSÕES

Que grande decepção não podem ter os "médiuns" que, acreditando que TODOS os pintores continuarão pintores e TODOS os escritores continuarão escritores etc, veem que isso não é mais do que grande ilusão? De repente o escritor que morre abandona sua tarefa ou simplesmente diz que está indisposto a exercê-la, ao voltar ao mundo espiritual. Além disso, desconhecemos a verdadeira natureza do mundo espiritual, que, segundo Allan Kardec, não tem a menor analogia com a vida material aqui na Terra.

3) PERSONALIDADES EXCÊNTRICAS OU DIFÍCEIS NÃO TOPARIAM PARTICIPAR

Muitos dos grandes artistas são de personalidade difícil ou excêntrica, que os faz não terem o menor interesse em participar em "coletivos mediúnicos". Em muitos casos, esses artistas não são bem compreendidos em vida e não será o retorno à "pátria espiritual" que irá lhes fazer receptíveis diante de tantos incômodos recebidos. Não dá para o "médium" puxar um artista excêntrico pela orelha e forçá-lo a participar de um "evento mediúnico", mesmo sob a desculpa da "caridade".

Se, por exemplo, houver "pintura mediúnica" supostamente de autoria de Vincent Van Gogh, esqueça. É mentira das mais grosseiras. Ele tinha um temperamento difícil, sua arte não foi reconhecida em vida, e qualquer "psicografia" que evocasse uma suposta pintura sua é uma armadilha oportunista que só serve para atrair a credulidade de pessoas leigas em pintura, que desconhecem nuances e contextos diferenciados referentes à vida e obra dos supostos pintores alegados.

4) OS ESTILOS DOS SUPOSTOS AUTORES SÃO AQUÉM DO QUE ELES FIZERAM EM VIDA

As obras de Parnaso de Além-Túmulo, numa leitura apressada, pode "lembrar muito bem" as obras originais dos supostos autores deixadas em vida. Mas com um pouco mais de atenção e um conhecimento literário mais aprofundado, se verificará que a primeira impressão é muito falsa, até porque movida pela emoção e pela ansiedade.

Muitos dos poemas e prosas contidos no livro de Chico Xavier soam paródicos, como no caso de autores mais manjados, como Castro Alves, Casimiro de Abreu e Cruz e Souza. Em outros, o estilo desaparece, como em Olavo Bilac, do qual falta-lhe a métrica poética e a musicalidade dos versos, além da temática usada na "psicografia" soar medíocre em relação aos temas trabalhados pelo poeta parnasiano. No caso de Auta de Souza, então, o estilo dela desaparece, porque no seu lugar está o estilo pessoal do próprio "médium" Chico Xavier, conhecido através de seus famosos depoimentos.

5) VÁRIOS POEMAS FORAM PUBLICADOS, ANTES, COMO DE AUTORIA PESSOAL DE CHICO XAVIER

O Reformador, periódico da FEB, em edição de junho de 2002 - comemorativa dos 70 anos de Parnaso de Além-Túmulo e publicada antes da morte de Chico Xavier - , mostrou poemas que, inicialmente, tiveram como crédito o nome "F. Xavier": "Os Felizes", "Cristo de Deus", "Crê" e "Sobre a Dor". Uma desculpa esfarrapada foi trazida para tentar explicar (em vão) que os poemas, de 1930 e 1931, eram atribuídos a outros "espíritos": João de Deus (Nogueira Ramos, poeta português) ("Os Felizes"), Antero de Quental ("Cristo de Deus" e "Crê") e Cruz e Souza ("Sobre a Dor"). Os poemas, no entanto, mostram o estilo pessoal de Chico Xavier. Vamos à "explicação" infundada da FEB, que, além de não trazer o menor esclarecimento, ainda apela para o vitimismo da "via crucis":

"Parece-nos que esses quatro sonetos de grandes Espíritos, os quais foram publicados como de autoria de F. Xavier, bastam para demonstrar a verdade acima afirmada: de que o nosso amado irmão não foi, não é, nem pretendeu ser poeta, e só por excessivo entusiasmo de seus íntimos apareceu na imprensa como autor de versos. Sua missão é muito maior que a de um grande poeta, e, depois de decorridos quarenta anos, qualquer dúvida que ainda subsista entre os nossos adversários ocorre, unicamente, pelo espírito de má-fé. Para esses céticos, tudo é fraude, desonestidade, mistificação, percepção extra-senso-rial, etc., etc., embora os fatos contrariem aberrantemente todas essas insinuações da intolerância e do falso saber. Como há mais de cem anos caluniam as meninas Fox, sem o menor escrúpulo, compreende--se que esta é a via-crucis natural e normal dos grandes médiuns".

6) O BRASIL NÃO ESTAVA RECEPTIVO PARA TEMAS COMO MEDIUNIDADE

A lógica diz que uma novidade só será introduzida se houver gente preparada para entendê-la. Na França do Século XIX, os fenômenos paranormais eram uma novidade muito incipiente que Allan Kardec foi o primeiro a sistematizá-las com correção. Mesmo assim, o assunto era muito novo e mesmo os seguidores do pedagogo francês não deram conta do recado depois que ele morreu, assimilando suas descobertas de maneira equivocada e vulnerável a licenças mistificadoras trazidas pelo roustanguismo.

Se na França, nos EUA e na Grã-Bretanha, esses fenômenos ainda careciam de melhor entendimento, um país mais atrasado como o Brasil simplesmente está em situação ainda pior, desconhecendo o tema da paranormalidade praticamente por completo. E, infelizmente, até hoje não chegamos ao estágio da França de 1857, mas, o que é mais grave, rebaixamos as poucas descobertas entendidas da paranormalidade ao recreio das "tábuas Ouija", invertendo o que ocorreu na França, quando Kardec usou esse passatempo das "mesas girantes" para estabelecer estudos científicos. No Brasil, ocorreu o contrário: usam-se os estudos científicos de Kardec para criar o recreio das "tábuas Ouija", vide as orgias que são as "sessões mediúnicas" como o das "cartas dos entes queridos" de Chico Xavier.

7) PARNASO DE ALÉM-TÚMULO FOI REMENDADO CINCO VEZES EM VINTE E CINCO ANOS

Um dado estranho é que Parnaso de Além-Túmulo sofreu várias reparações editoriais. Isso vai contra sua natureza de livro de "mensagens espiritualistas", que, em tese, foram trazidas pelos "benfeitores espirituais". Afinal, supõe-se que se trata de uma obra "abençoada", que não caberia reparo editorial algum.

No entanto, a obra foi remendada cinco vezes. No total, seis edições. Além da original, de 1932, tivemos edições em 1935, 1939, 1944, 1945 e 1955. Poemas eram acrescidos. Poemas eram suprimidos. Outros, consertados em versos e reparados em métricas. Tudo isso muito, muito estranho.

Além disso, se essas reparações tivessem sido necessárias, nada seria publicado se o resultado final não fosse realizado. Não se enganaria o público lançando um produto que, depois, teria que ser refeito. Isso é subestimar a inteligência do público leitor. Mas o pior é que muita gente com algum nível de esclarecimento caiu nessa farsa e aceitou, com resignação bovina, esse artifício de remendar o livro várias vezes, num considerável espaço de tempo.

8) ALLAN KARDEC DESACONSELHAVA OBRAS QUE EVOCASSEM NOMES ILUSTRES, POIS, SALVO RARAS EXCEÇÕES, ELAS ENVOLVEM SENSACIONALISMO E MISTIFICAÇÃO

Isso está em O Livro dos Médiuns. O uso de nomes ilustres para impressionar as pessoas e fazê-las aceitarem ideias mistificadoras era abertamente reprovado pelo pedagogo francês, neste e em outras de suas obras. Era um aviso prévio, persistente, mas que o Brasil ignorou por completo.

Devíamos desconfiar de como um caipira pitoresco e risível, que era Francisco Cândido Xavier, iria mesmo acolher espíritos de grandes literatos. Isso nem era para considerar provável. Não havia razão alguma para haver essa sintonia, pois Chico Xavier, como leitor e admirador de escritores diversos, era um fã como qualquer outro, não um predestinado a ser porta-voz dos autores que ele lia.

Pegamos carona nessa ilusão, sem perguntarmos por quê - afinal, as paixões religiosas permitem esses arroubos de irracionalidade sob o pretexto da fé - , e permitimos que essa obra de sensacionalismo barato, Parnaso de Além-Túmulo, ainda mais com um nome antiquado pois o Parnasianismo já estava fora de moda no Brasil, projetasse um arrivista que foi Chico Xavier, um sujeito que foi favorecido sucessivamente pelas conveniências do momento e quis ser tratado como um semi-deus, enquanto nós, mortais, só queríamos um pouco de evolução moral e somos brindados com desgraças que nos caem como avalanches mortais.

CONCLUSÃO

Diante de tantos motivos lógicos e comprovados, como alguém pode ter coragem de supor autenticidade ou algo próximo disso a um embuste como Parnaso de Além-Túmulo? Os argumentos acima descritos não foram feitos por raiva ou algum chilique de intolerância, até porque somos tolerantes à fé religiosa, mas somos intolerantes à mentira e à enganação, mesmo que elas se sustentem sob a máscara da religião. E, lamentavelmente, Parnaso de Além-Túmulo, que já é o primeiro dos inúmeros problemas, de extrema gravidade, na trajetória de Chico Xavier, apresenta claramente estranhezas que a lógica confirma e somente o obscurantismo pode legitimar obras desse nível bastante lamentável.

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