(Autor: Professor Caviar)
Brasil, coração do mundo? Rio de Janeiro, vanguarda do Brasil? O triste episódio do estupro de uma menina por mais de 30 homens mostra o quanto o país anda retrógrado, muito distante das perspectivas de Chico Xavier e Divaldo Franco de que estaríamos na "era de regeneração".
Sem poderem dizer se o Brasil teria essa regeneração hoje ou se prepararia para ela em 2019, 2052 ou 2057, eles foram incapazes de dizer se o Brasil superaria os males agora ou eles seriam superados depois. Não conseguem sequer dizer que teor de conflitos o Brasil sofreria. Nem o afastamento de Dilma Rosseff eles foram capazes de prever!...
O "espiritismo", sabe-se, compartilha da ideia machista de que a vítima é a "culpada". E isso de maneira piorada, porque usa todo um discurso ideológico da "Lei de Causa e Efeito", que forja um motivo para a pessoa sofrer, dando a falsa ideia de que a pessoa "fez por merecer" tal desgraça.
O "espiritismo" é roustanguista. Herdou a essência do pensamento de Jean-Baptiste Roustaing, por mais que renegue esse autor. A Teologia do Sofrimento foi adaptada por Francisco Cândido Xavier a partir de premissas roustanguistas, como encarar a encarnação como um "sofrimento", uma "punição".
E aí o Chico Xavier que todos consideram "bondoso" e cujas fotos são montadas sob o fundo de jardins floridos e céus azuis lançou esses valores retrógrados com palavras "dóceis" que muitos acreditam ser "verdadeiras mensagens de amor". A histeria chiquista nos é muito conhecida, e gera fanáticos tão preocupantes quanto membros de torcidas organizadas de times de futebol.
Foram observadas alusões racistas e machistas em obras de Chico Xavier, ele um mestiço caipira de jeito levemente efeminado. Em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de 1938, negros e índios eram considerados "selvagens" e tratados como se fossem "desgraçados". Em O Consolador, de 1941, ditado por Emmanuel (mas evidentemente corroborado por Xavier), o feminismo é considerado "perigoso" e era defendida a solução da mulher permanecer "no lar e na prece".
Dito isso, o que se espera da visão "espírita" do estupro? Espera-se a reprovação do ato, porque não há como aprová-lo nem mesmo de forma relativa. 33 homens dopando e estuprando uma moça e se divertindo sadicamente com isso, com o apoio de outros internautas, é sempre deplorável.
No entanto, haverá aquela interpretação de que a moça "fez por merecer", porque "expia faltas passadas", teria sido talvez uma "cortesã que maltratou três dezenas de homens" e, por isso, estaria realizando os tais "reajustes espirituais" ou "resgates morais".
Além disso, o "espiritismo" que prega a Teologia do Sofrimento e se fundamenta no Catolicismo medieval português, do qual é herdeiro doutrinário apenas atualizado conforme o contexto, nunca fez para melhorar as condições sociais existentes no Brasil e, por ser uma doutrina confusa, dissimulada e contraditória, atrai energias negativas como um efeito natural dos vícios doutrinários.
O Rio de Janeiro tem o "Correio Espírita" e a Rádio Rio de Janeiro e, na crença dos "espíritas", a "colônia Nosso Lar" flutuando sobre a ex-Cidade Maravilhosa. O Brasil tem Chico Xavier e Divaldo Franco como ídolos religiosos máximos, tão imunes quanto o encrenqueiro Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal. Podem fazer das "suas", que nunca são punidos nem perdem a credibilidade.
Jacarepaguá tem o "maravilhoso" centro Lar Frei Luiz, onde um "médium" foi estranhamente assassinado, dias após receberem uma estranha mensagem atribuída à cantora Cássia Eller (mensagem que risivelmente cita dragões cuspindo fogo no mundo espiritual). Houve registro, em 1969, de "médiuns" aparentemente "incorporando" supostos espíritos de médicos árabes, usando fantasias carnavalescas. O "médium" que foi assassinado teria participado dessa "folia".
A religião "espiritualista" que bajula Allan Kardec e que vive uma fase "dúbia" fingindo fidelidade ao pedagogo francês e expressando preferência ao igrejismo de Chico e Divaldo, não oferece respostas a essa "cultura do estupro" que, em pleno século XXI, causa entusiasmo em muita gente.
Como religião materialista - já que o "espiritismo" sempre desaconselha as pessoas a intervirem na vida material, já que as dificuldades que elas sofrem são "designadas pelo Alto" - , o "espiritismo" simplesmente está alheio aos problemas mais complexos e delicados da humanidade. É constrangedor ver um "sábio" Divaldo Franco pedir aos brasileiros que "orassem" nos momentos de crise, algo bem parecido que um Silas Malafaia apelou para seus fiéis.
Essa indiferença se mostra quando os "espíritas" se limitam apenas a pedir "fraternidade" e "misericórdia". Não consegue ver as injustiças e os abusos que existem na sociedade, e a "bondade" que promovem é frouxa e sem efeitos definitivos. Se essa "bondade" funcionasse mesmo, o Brasil não estaria nesse cenário de desordem e retrocesso que vivemos nos últimos anos.
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