Pular para o conteúdo principal

Chico Xavier, ilusionismo e hipnose

(Autor: Professor Caviar)

Um dado chama a atenção. Francisco Cândido Xavier foi uma das poucas pessoas que se envolvem em fraudes, farsas e mistificações, além de ter sido uma personalidade ultraconservadora, e no entanto ganha uma reputação de semi-deus, alvo de muito fanatismo e deslumbramento de seus seguidores.

É certo que Chico Xavier teve seu mito construído pela mídia. Primeiro, por iniciativa de Antônio Wantuil de Freitas, o "mentor" de Chico Xavier na Terra, sem um veículo de mídia definido, embora em certo momento se utilize a TV Tupi de São Paulo como um potencial veículo de propaganda. Segundo, já com Wantuil morto, por iniciativa de seus sucessores em parceria com a Rede Globo e com base no que o inglês Malcolm Muggeridge fez com Madre Teresa de Calcutá.

Todavia, observa-se a estranheza de como um caipira mineiro, da obscura cidade mineira de Pedro Leopoldo, pôde se ascender de forma tão vertiginosa a ponto de virar, mesmo postumamente, um mito difícil de ser superado, alvo não só de muito fanatismo mas também de muita condescendência.

De outro modo, será apenas o mito do "caipira bondoso e humilde", depois acrescido da imagem tardia do "velhinho frágil", que seduz grande parte dos brasileiros? O estereótipo de "amor", "bondade", "humildade" e "caridade", é um discurso construído pela mídia ou uma manifestação do inconsciente coletivo e da religiosidade, mesmo latente, da sociedade brasileira?

Com toda certeza, Chico Xavier é considerado a mais bem-sucedida estratégia de marketing feita para uma personalidade. Ele poderia muito bem ter se encerrado, no semi-esquecimento, como um católico antiquado que exercia alguma paranormalidade, mas ele foi trabalhado, para a posteridade, para ser um ídolo religioso e um semi-deus dotado das mais surreais qualidades.

Mas, por trás dos ingredientes que envolvem interesses do poder midiático e da expansão de seitas religiosas - como o "espiritismo" brasileiro que hoje renega no discurso o tão festejado legado de Jean-Baptiste Roustaing, mas mantém a essência de seu dogmatismo - e de aparentes tradições sócio-culturais de fé religiosa, há um outro ingrediente que se pode observar no mito de Chico Xavier: a influência do ilusionismo circense.

Como toda criança de seu tempo, Chico Xavier gostava de circo. No entanto, pela sua paranormalidade, manifesta precocemente, ele, no entanto, pela sua invigilância e pelo fato de ter sido sempre um católico e nunca o "espírita exemplar" que muita gente acredita que ele tenha sido, acabou também se inclinando às mágicas e ao ilusionismo, talvez pensando como alguém poderia manipular as mentes das pessoas.

Talvez Chico observasse processos como a hipnose, a mágica e até mesmo outros espetáculos de ilusionismo. Há indícios de que ele se inclinava para o ilusionismo e para a hipnose, seja pelo semblante pesado que ele apresentava numa foto olhando de frente e divulgada em 1935 pelo jornal O Globo, seja pela participação dele em alguns espetáculos de suposta materialização, principalmente no famoso caso de Otília Diogo.

De forma equivocada e sem qualquer relação com Allan Kardec, o jovem Chico Xavier assimilava práticas de magnetismo na forma da hipnose e outros métodos ilusionistas. Nenhum estudo sobre Mesmer, nenhuma inclinação científica, apenas a inclinação mais próxima dos aristocratas franceses que viam nas tábuas Ouija e nos fenômenos sobrenaturais um motivo para diversão. 

Chico Xavier também virou um manipulador das palavras, dissimulando pastiches e plágios literários com recados igrejistas, uma forma de tranquilizar as pessoas e evitar suspeitas, pois, em tese, ninguém iria desconfiar de uma "mensagem de amor".

Observa-se, na obra de Chico Xavier, essa metodologia circense, que foi a maior pegadinha que se fez para um país inteiro, como o Brasil, e pegou muita gente desprevenida que hoje prefere ficar deslumbrada com sua figura. Consiste em formas de manipulação das mentes humanas que exploram suas fraquezas emocionais com eficácia.

LITERATURA

A obra literária combinava pastiches literários e eventuais plágios que pareciam habilidosos. Afinal, num país com pouca leitura e que desestimula a livre expressão do raciocínio humano, não dava para considerá-los plágios, e tinha as desculpas relacionadas à "comunhão de pensamentos" e à "linguagem universal do amor".

A isca era colocar mensagens aparentemente positivas de algum apelo religioso. Caprichar nas citações de passagens cristãs, no aparato da humildade, nos contos de amor e fraternidade, nas lições morais herdadas das estórias intantis.

Bingo. Os livros de Chico Xavier exploravam a religiosidade e o moralismo de forma que combinassem tanto evocações bíblicas, dogmas católicos e fantasias infantis, uma junção de ingredientes considerados fabulosos que dissimulavam o caráter plagiador ou imitador das obras que usam os nomes de autores falecidos.

Os pastiches correspondiam a uma superficial imitação dos estilos dos autores falecidos, cuja semelhança a estes soa, à primeira vista, verossímil, mas que, com uma observação apurada, revela-se a fraude. Os plágios, por sua vez, eram parciais e correspondiam a trechos reescritos em que apenas há uma mudança sutil nas posições das palavras, frases, parágrafos e até ideias.

Chico Xavier era tendencioso, mas tinha cautelas nas fraudes. Ele não plagiava livros inteiros nem copiava trechos da forma como eram escritos, mas plagiava apenas alguns trechos pequenos, sempre tomando o cuidado de reescrever com reposicionamento de palavras e frases, como um redator que apressadamente reescreve um boletim trazido por uma agência de notícias.

MEDIUNIDADE

Indo para o foco da mediunidade em geral, mas saindo do âmbito dos livros, nota-se que as cartas ditas "psicográficas" seguem outra prática ilusionista, a "leitura fria", através dos colaboradores de Chico Xavier nos "centros espíritas".

A "leitura fria" é um processo quase sempre feito nos "auxílios fraternos" dos "centros espíritas" em todo o país, e é um recurso em que o entrevistador faz um interrogatório intimista, para envolver emocionalmente o entrevistado, possibilitando a ele dizer detalhes mais particulares sobre a vida de alguém falecido, de forma a fornecer informações sutis e dados subliminares transmitidos até mesmo por gestos e maneiras de falar.

Desse modo, a "leitura fria" colhe "material" que servirá para as supostas "psicografias". A conversa intimista, dada em tom amistoso, é feita de forma que a pessoa nem tenha ideia que suas informações foram colhidas para a suposta psicografia do falecido e, assim que recebe a mensagem do ente falecido, se comove como se essa mensagem fosse autenticamente mediúnica.

Chico Xavier se serviu de colaboradores que faziam essa tarefa e, por isso, é constrangedor que um grupo de acadêmicos de Juiz de Fora faça uma pretensa monografia alegando que 98% da "psicografia" de Xavier era "verídica" e mal conseguiram explicar por que "apenas 2%" não era.

Quanto à materialização, nota-se que havia o mesmo espetáculo ilusionista pouco sutil: modelos cobrindo corpos com lençóis ou vestes brancas, colando sobre suas cabeças encapuzadas alguma fotocópia do falecido, o que soava tão grotesco que as supostas materializações eram classificadas de "cabeças de papel", em alusão a uma famosa marchinha infantil.

No caso da suposta materialização de Emmanuel, o "mentor espiritual" de Chico Xavier, em 1954, usou-se uma maquete cujo corpo lembra o do Cristo Redentor, com um molde na cabeça que permitisse colar a famosa gravura do jesuíta do além, que se observa hoje na Internet. Nesse processo, um locutor fazia a voz em off de Emmanuel. 

Como a prática já estava sendo denunciada como fraude - quem iria mesmo acreditar nas "cabeças de papel"? - , o suposto Emmanuel "aconselhava" Chico Xavier a encerrar naquela ocasião os trabalhos de materialização, limitando seus trabalhos nos livros e cartas.

Não se sabe por que cargas d'água Chico Xavier foi novamente se envolver com fraudes de materialização. Foi em 1963, quando ele acompanhou, ao lado de Waldo Vieira, seu discípulo e parceiro, os preparativos para a fraude, que, mais uma vez, lembra o espetáculo circense do ilusionismo. Otília Diogo "personificou" vários supostos falecidos, além de se passar pela Irmã Josefa, religiosa já falecida.

Como na mágica circense, a "Irmã Josefa" usava o truque da pessoa presa em correntes e em uma cela, e o ilusionismo consistia em fazer as pessoas crerem, através de um truque habilidoso, que o espírito materializado se desfez das correntes e atravessou as grades da cela. Ela também usava barba postiça para se fazer passar por um médico falecido materializado. Mais uma evocação circense, a da "mulher barbada".

O caso foi depois denunciado na imprensa, entre 1964 e 1970. Um desfecho foi feito pela reportagem de O Cruzeiro, quando um repórter conseguiu encontrar uma mala contendo os diversos trajes de Otília Diogo, além de colher depoimentos diversos, transmitir informações como o fato de Otília ter feito cirurgia plástica e reconstituir a fraude usando uma atriz, para explicar o ocorrido.

Se Otília Diogo não pôde escapar da punição (ela foi presa e depois solta, mas caiu em desgraça até o fim da vida), Chico Xavier atravessou as grades do escândalo, como um hábil ilusionista. Cúmplice da farsa e tendo claramente acompanhado os bastidores, Chico teve a sorte de não ter sido considerado culpado, e passou incólume por esse incidente, apesar de sua evidente participação na farsa.

Diante de tantos incidentes e escândalos envolvendo Chico Xavier, ele parecia seduzir as pessoas que em princípio o contestaram com bravura. Não é uma questão de um homem bom que desarmava detratores, mas um espertalhão que se passava por "bonzinho", com todos os estereótipos possíveis, e seduzia a opinião pública para aderi-lo explorando seus pontos fracos.

Desse modo, Chico era um grande hipnotizador. Um sedutor de almas, um manipulador de mentes, um sujeito que fazia fraudes, pastiches e era um religioso ultraconservador, mas que passou a ser visto como um semi-deus acima de tudo e de todos, acima da lógica e do bom senso, um "dono da verdade" que as circunstâncias de um povo menos esclarecido e emocionalmente fraco permitiram sua ascensção.

É curioso que um homem que adorava tanto circo fosse, no meio do caminho, fazer um cruel juízo de valor nas vítimas do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, de Niterói, no final de 1961. Chico escreveu em livro uma invencionice de que as vítimas teram sido cidadãos sanguinários da Gália. Mas aí até ele foi habilidoso no seu severo juízo de valor, que contradiz aos apelos dele para não julgar "quem quer que fosse": à acusação leviana contra as pobres vítimas, ele botava responsabilidade no coitado do espírito de Humberto de Campos, muito mal disfarçado pelo pretenso apelido de "Irmão X".

Dessa forma, Chico Xavier transformou a Doutrina Espírita numa grande palhaçada. Com suas fraudes e pastiches, ele, com seu caráter hipnotizador, sua capacidade de manipular as palavras e sua astúcia em participar de qualquer fraude e escapar impune dela, tornou-se semi-deus com o apoio da grande mídia, mas também às custas de sua habilidade em seduzir as pessoas com sua "boa aparência".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Provas de que Chico Xavier NÃO foi enganado por Otília Diogo

 (Autor: Professor Caviar) Diante do caso do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., que divulgou uma farsa alimentícia durante o evento Você e a Paz, encontro comandado por Divaldo Franco, o "médium" baiano, beneficiado pela omissão da imprensa, tenta se redimir da responsabilidade de ter homenageado o político e deixado ele divulgar o produto vestindo a camiseta do referido evento. Isso lembra um caso em que um "médium" tentava se livrar da responsabilidade de seus piores atos, como se ser "médium espírita" permitisse o calote moral. Oficialmente, diz-se que o "médium" Francisco Cândido Xavier "havia sido enganado" pela farsante Otília Diogo. Isso é uma mentira descarada, sem pé nem cabeça. Essa constatação, para desespero dos "espíritas", não se baseia em mais um "manifesto de ódio" contra um "homem de bem", mas em fotos tiradas pelo próprio fotógrafo oficial, Nedyr Mendes da Rocha, solidário a

Publio Lentulus nunca existiu: é invenção de "Emmanuel" da Nóbrega! - Parte 3

OBS de Profeta Gandalf: Este estudo mostra que o personagem Publio Lentulus, utilizado pelo obsessor de Chico Xavier, Emmanuel, para tentar dizer que "esteve com Jesus", é um personagem fictício, de uma obra fictícia, mas com intenções reais de tentar estragar a doutrina espírita, difundindo muita mentira e travando a evolução espiritual. Testemunhos Lentulianos Por José Carlos Ferreira Fernandes - Blog Obras Psicografadas Considerações de Pesquisadores Espíritas acerca da Historicidade de Públio Lêntulo (1944) :   Em agosto de 1944, o periódico carioca “Jornal da Noite” publicou reportagens investigativas acerca da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.   Nas suas edições de 09 e de 11 de agosto de 1944, encontram-se contra-argumentações espíritas defendendo tal mediunidade, inclusive em resposta a uma reportagem anterior (negando-a, e baseando seus argumentos, principalmente, na inexistência de “Públio Lêntulo”, uma das encarnações pretéritas do

Um grave equívoco numa frase de Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar) Pretenso sábio, o "médium" Francisco Cândido Xavier é uma das figuras mais blindadas do "espiritismo" brasileiro a ponto de até seus críticos terem medo de questioná-lo de maneira mais enérgica e aprofundada. Ele foi dado a dizer frases de efeito a partir dos anos 1970, quando seu mito de pretenso filantropo ganhou uma abordagem menos confusa que a de seu antigo tutor institucional, o ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas. Nessa nova abordagem, feita sob o respaldo da Rede Globo, Chico Xavier era trabalhado como ídolo religioso nos moldes que o jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge havia feito no documentário Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God) , em relação a Madre Teresa de Calcutá. Para um público simplório que é o brasileiro, que anda com mania de pretensa "sabedoria de bolso", colecionando frases de diversas personalidades, umas admiráveis e outras nem tanto, sem que tivesse um