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Mito de Chico Xavier foi criado para vender livros

(Autor: Professor Caviar)

O mito de Francisco Cândido Xavier não foi construído de maneira espontânea, como acreditam os seus seguidores. Ele foi construído dentro de uma incansável campanha publicitária forjada pela Federação "Espírita" Brasileira, a partir da ambiciosa figura de seu então presidente, Antônio Wantuil de Freitas, para alimentar e fortalecer o mercado de livros para os cofres da entidade.

Chico Xavier era um católico paranormal, que tornou-se criador de pastiches literários em que capítulos e trechos de vários livros eram plagiados em alguns capítulos. Além disso, foi usado o nome de Humberto de Campos para obras que nem de longe lembram a do saudoso autor maranhense responsável por deleitosas páginas de prosa sofisticada mas acessível.

Se percebermos o "espírito Humberto de Campos" com sua escrita pesada, prolixa e cansativa, além de deprimente, nota-se o oportunismo que era usar o nome do autor maranhense em obras que se sabe terem sido feitas por Chico Xavier e Wantuil, porque lembra muito bem os estilos desses dois. O uso do nome Humberto de Campos, de forma tão indevida que chamou a atenção dos herdeiros do escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, foi feito por puro desejo sensacionalista de atrair mais compradores, através do nome consagrado de um morto.

É certo que poderia ser usado o nome de Machado de Assis, com prestígio maior ainda, mas aí seria ir longe demais e atrair uma desconfiança maior que a que há havia, de maneira intensa, em relação ao nome de Humberto de Campos, nome que havia sido popular em seu tempo, mas menos que Machado e Olavo Bilac, com um número de leitores comparável ao que João Ubaldo Ribeiro deixou dos últimos anos para a posteridade.

O mito do "caipira bonzinho", depois acrescido da do "velhinho bondoso" e criador de "frases de efeito" foi uma estratégia que Antônio Wantuil de Freitas fez em prol de Chico Xavier, que, se não fosse essa campanha publicitária toda, se limitaria a ser, hoje, um pálido verbete do Guia dos Curiosos, ou estaria perdido em algum almanaque presente em algum sebo no país.

Pois Wantuil foi o mentor terreno de Chico Xavier, atuando como se fosse um dublê de empresário, e em outra oportunidade enfatizaremos essa construção do mito de popstar do "médium" mineiro, que fez uma boa parte dos brasileiros ficarem reféns de seu mito, profundamente obsediados e apegados à imagem do "bom velhinho".

LIVROS DISPONÍVEIS "DE GRAÇA", DEPOIS DE VENDIDOS

Nos primórdios da bibliografia de Chico Xavier, os livros "psicográficos" eram vendidos com preços caros. Era uma forma de forçar o sucesso literário e, ao mesmo tempo, dar a falsa impressão de que eram obras "sofisticadas".

Havia a aparente variedade temática, com narrativas surreais como o espírito da mãe de Chico Xavier viajando para Marte, o médico André Luiz promovido a "espírito evoluído" oito anos (do calendário terrestre - no mundo espiritual não se mede tempo) após viver no "umbral" (equivalente "espírita" do inferno católico), de um patético pseudo-Humberto de Campos narrando feito pároco uma passagem em que um suposto Jesus Cristo, choroso e debiloide, perguntava a um tal de Helil onde se localizava o Brasil. Enfim, coisas hilárias!

Tudo isso era feito para vender muitos e muitos livros. E fortaleceu o poder da Federação "Espírita" Brasileira que pôde arrumar seu marketing para fortalecer o mito de Chico Xavier e deixá-lo passar por cima de qualquer escândalo ou controvérsia.

Wantuil, esperto marqueteiro, com seu faro publicitário voraz e habilidoso, enfrentou até mesmo os mais sérios críticos literários e investigadores jornalísticos para deixar intato o mito de Chico Xavier, cujo auge, como pupilo do então dirigente da FEB, foi nos anos 1950 e 1960.

Não que Chico Xavier fosse um primor de coerência e bom senso humanos. Aliás, muitas das qualidades positivas atribuídas ao anti-médium mineiro são falsas, e ele nem foi um super-médium como muitos tentam até hoje alardear.

Ele tinha apenas uma paranormalidade relativa, que o fazia conversar com entes mortos, como sua falecida mãe, Maria João de Deus, e o padre jesuíta Emmanuel, na verdade um espírito traiçoeiro que havia sido o perverso padre Manuel da Nóbrega, tirânico jesuíta bastante conhecido pela nossa historiografia.

No entanto, na medida em que Chico Xavier, que nunca tinha a concentração necessária para ficar psicografando livros aqui e ali, resolveu fazer pastiches e plágios literários, já a partir de Parnaso de Além-Túmulo, de 1932. 

Se sua incipiente paranormalidade poderia ter atraído espíritos bons, estes se afastaram, horrorizados, quando Chico Xavier produziu o infame livro poético, conhecido como a "obra acabada da espiritualidade" que foi alterada cinco vezes (!) em cerca de duas décadas e meia (!!).

Enquanto isso, Chico Xavier passava a atrair para si espíritos zombeteiros e mistificadores, e aí deu no que conhecemos hoje como o "movimento espírita", que em termos de mentiras, valores retrógrados e desculpas esfarrapadas chega a ser mais grave do que as piores seitas neopentecostais.

Obstáculos não faltavam para esse mito tendencioso. Críticos literários sérios alertavam para as fraudes literárias de Chico Xavier. Autores como Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Auta de Souza, Humberto de Campos e outros estavam associados a "obras espirituais" que contrariavam severamente os estilos desses escritores.

Houve um processo judicial movido por herdeiros de Humberto de Campos, que deu em nada por uma atitude melindrosa dos juízes, que não entenderam a petição e ficaram intimidados com a imagem "bondosa" do "caipira mineiro". E houve reportagens investigativas sobre as denúncias que o sobrinho Amauri Pena, misteriosamente falecido, prometia dar sobre as falcatruas do próprio tio.

Todos esses incidentes eram voltados contra a "figura bondosa e meiga" do "médium" de Pedro Leopoldo? Não. Os incidentes preocupavam o "movimento espírita" porque, desqualificando Chico Xavier, não se desqualificava uma "figura do bem", que ele, no fundo, nunca foi pra valer, mas um ídolo responsável por grandes sucessos literários.

Eram, portanto, interesses comerciais que estavam em jogo, e as pessoas tão tolamente acreditavam que certas pessoas sentiam raiva, por si só, por um homem "que só fazia bem" ao próximo, quando o que estava em jogo era o fracasso dos livros, se as denúncias de fraude prevalecessem.

Durante anos Wantuil tentou sustentar o mito de seu pupilo Chico Xavier, como um empresário ambicioso de um astro pop. E, em seu tempo, os livros de Chico Xavier tornaram-se a fonte de muita renda que ia para os bolsos dos dirigentes da FEB, foratlecendo o patrimônio financeiro das lideranças "espíritas" e dando a Chico Xavier um conforto igual ao que Christopher Hitchens denunciou a respeito de Madre Teresa de Calcutá.

Se, recentemente, os produtos "espíritas" passaram a ser "gratuitos" - há livros disponíveis para carregamento gratuito em PDF, e filmes inteiros com acesso de graça pelo YouTube - , não é porque os interesses comerciais foram deixados de lado ou "nunca existiram".

Afinal, essas obras tornaram-se iscas para o público "espírita" aderir em massa. Se um filme como Data-Limite Segundo Chico Xavier é disponível gratuitamente, é para que possa atrair seguidores em grande quantidade para os "centros espíritas", hipnotizados pelo tendencioso mito de Chico Xavier.

Dessa maneira, o público "espírita" é que vai pagar pelas atrações "digrátis" baixadas na Internet, pagando carnês e financiando seminários "espíritas" que acabam fazendo parte das receitas que garantem o enriquecimento e o poder dos dirigentes dessa doutrina brasileira.

Com isso, há também o grande lobby de políticos, barões da grande mídia, empresários, latifundiários e tantos outros detentores do poder que veem no "espiritismo" brasileiro uma forma de manipular as mentes das pessoas e promover o conformismo que garante o sossego dos poderosos e privilegiados, através da adaptação "espírita" da Teologia do Sofrimento católica.

E aí vai Divaldo Franco viajando pelo mundo com o dinheiro da "caridade", como um político usando dinheiro público para fazer viagens pessoais. E, da grande quantidade de bens e dinheiro arrecadados para "a caridade", apenas uma pequena e inexpressiva parcela se resulta em pálidos donativos e parcos investimentos para atender aos necessitados.

Portanto, é bom tomar cuidado quando certas instituições ficam "felizes demais" quando os montantes que arrecadam, em dinheiro e bens, é feito sob o pretexto da "caridade". É muito estranho admitir que, de fato, pessoas se alegrem muito quando as fortunas e os muitos bens que arrecadam possam ir realmente para os necessitados. É bom demais para ser verdade. Mas como o "espiritismo" se alimenta de mentiras, o pessoal aceita tudo numa boa.

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