Se Francisco Cândido Xavier é questionado por suas irregularidades diversas e seus erros graves e seus seguidores reagem com revolta e indignação, então temos também que questionar esses seguidores e buscar saber o que leva essas pessoas a se apegarem tanto a um ídolo religioso.
Sim, porque, com toda a certeza, Chico Xavier foi um dos maiores deturpadores da Doutrina Espírita e, portanto, a personificação do perigo dos "inimigos internos" que o espírito Erasto tentou nos alertar nos tempos de Allan Kardec.
É certo que Chico Xavier veio "de fora" - ele sempre foi um católico fervoroso e até de valores bastante ortodoxos, embora tenha sido excomungado por sua paranormalidade - , mas ele virou "inimigo interno" porque todo esforço foi feito para puxá-lo para dentro do "movimento espírita", representando erroneamente a doutrina de Allan Kardec a ponto de inventarem uma tese absurda de que o "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba era reencarnação do professor francês.
E o mito de Chico Xavier cresceu de maneira bastante perigosa que o fanatismo em torno dele chegou a ultrapassar seus limites religiosos. Ateus e esquerdistas, na sua boa-fé, ficaram complacentes com seu mito, e reagem indignados às críticas e denúncias contra o anti-médium mineiro, sem perceber da consistência de muitas dessas informações sobre o lado sombrio de Chico Xavier.
É necessário ver quem são os defensores de Chico Xavier e, sobretudo, aqueles que se incomodam com as críticas a seu ídolo. Não são pessoas dotadas de evolução espiritual e, muito pelo contrário, se revelam bastante inseguras e retrógradas, em muitos aspectos, e podem ser facilmente desmascaradas como moralistas enrustidas, conservadoras envergonhadas e apegadas a paradigmas da antiga fé religiosa e seus estereótipos ligados a "amor e bondade".
Embora de perfis aparentemente ecléticos, essas pessoas têm um ponto em comum: a educação conservadora, paternalista e patriarcalista, com todas as suas fantasias e restrições morais, que provoca nessas pessoas uma nostalgia de tempos em que a submissão era o motor da vida humana.
As pessoas que acreditam nisso não entendem o conceito de liberdade, e, embora tivessem surtos de modernidade - uns são tropicalistas, outros petistas, outros roqueiros, outros concretistas, outros psicodélicos e outros ativistas políticos etc - , sempre mostraram alguma raiz conservadora, por mais sutil que esta seja.
Chico Xavier é o que existiu de mais retrógrado e conservador entre as personalidades brasileiras. Mas ele foi endeusado por representar paradigmas de "amor e bondade" que evocam valores antigos, que simbolizam utopias moralistas de uma sociedade abastada que sente nostalgia de uma época com "menos tensões sociais", época em que elas podiam zelar pelos seus privilégios num contexto de desigualdade social resignada.
Era a época em que os sofredores e miseráveis ficaram mais sofredores e miseráveis, sem que se precisasse se incomodar com isso. A "filosofia" de Chico Xavier, que expressa princípios da mesma Teologia do Sofrimento que fez a Madre Teresa de Calcutá ser conhecida como "anjo do inferno" pelos seus opositores, sempre apelava para uma estabilidade social em que quem estava "no lado de baixo" não precisava protestar nem lutar.
Nos tempos de conservadorismo social, os desafortunados só precisavam esperar que as elites as ajudassem, acreditando numa entidade chamada "Deus" e ficar se ocupando com preces e com a devoção religiosa.
Os desafortunados podem ser pessoas que não têm dinheiro, nem moradia, e mal conseguem se alimentar, como também podem ser pessoas dotadas de algum conforto mas que buscam uma qualidade de vida e uma diferenciação, mas que encontram barreiras pesadas na vida e não estão incluídos na "divisão do bolo" em várias situações da vida.
E aí temos a "boa doutrina" da desigualdade resignada. E as pessoas defendem Chico Xavier porque não querem ser incomodadas com excluídos de qualquer espécie. Estes é que tenham paciência e recebam os farelos do bolo que não comeram. Eles que fiquem com os restos do que não foi aproveitado pelos privilegiados da sorte e da fortuna. Eles que se contentem com os pálidos e frouxos arremedos daquilo que não puderam ter.
E é realmente isso que as pessoas querem quando defendem Chico Xavier e se incomodam com qualquer questionamento feito contra ele. É porque Chico Xavier representa o moralismo oculto dessas pessoas, um porta-voz do conformismo e da acomodação mental, compensada pelo ideal da servidão e da submissão como "trabalhos" e "esforços" para buscar alguma superação, mesmo que o prêmio a ser obtido sejam supostas bênçãos a serem obtidas postumamente.
Em outras palavras, as pessoas defendem Chico Xavier porque são conservadoras. Defendem Chico Xavier porque ele é o ideólogo em favor da desigualdade social, a ser parcialmente resolvida pela caridade paliativa feita sem incomodar as estruturas dominantes e desiguais da sociedade. Ideólogo da Teologia do Sofrimento, Chico Xavier nunca poderia ser ativista nem progressista e ele se afirmava o contrário disso tudo, quando defendia que tínhamos que "sofrer em silêncio e sem mostrar nosso sofrimento para os outros".
Portanto, consideramos que Chico Xavier foi uma das pessoas mais conservadoras e retrógradas que existiu em toda a História do Brasil. E se alguém se sentiu incomodado com isso, é porque ainda mantém ideias conservadoras e retrógradas, mesmo quando mal disfarçadas com alguma atividade, atitude ou pensamento considerado moderno.
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