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"Espiritismo" brasileiro se comporta como a Igreja Universal há 25 anos


(Autor: Professor Caviar)

Alguém notou que o "espiritismo" brasileiro, com seu discurso falsamente moderno, com seu vitimismo, com seu moralismo simplório, repete o discurso que os movimentos evangélicos neopentecostais, destacando a Igreja Universal do Reino de Deus, fizeram há 25 anos.

Esse discurso se fundamenta em uma interpretação leviana de pautas como a rejeição ao vício das drogas. Ou a uma interpretação por demais rigorosa do combate ao aborto, reprovado mesmo em casos de estupro e riscos à saúde da gestante. Ou, então, à ideia equivocada de tratar o suicídio e o aborto como mero entretenimento, como se mulheres abortassem e pessoas em geral se suicidarem por uma simples diversão.

Há também o patrulhamento dos fanáticos religiosos para rebater tudo. "Vocês dizem que nós somos conservadores, mas viemos aqui com uma nova proposta para a humanidade, talquei?", escreveram os neopentecostais de outrora e hoje escrevem os "espíritas".

No "Correio Espírita" deste mês, uma manchete ilustrando jovens batendo palmas mostra a condenação "espírita" do suicídio - dentro do equívoco, não costa repetir, de pensar que as pessoas se matam por pura diversão - , usando o lema "Viver é a melhor opção". Mas o "espiritismo" é a religião da Teologia do Sofrimento, é muito cômodo dizer para a pessoa continuar vivendo e, em outro momento, forçar a pessoa a aguentar calada as desgraças que se amontoam em suas vidas.

Como os "espíritas" são muito contraditórios, de vez em quando vemos palestrantes e "médiuns" - como Nelson de Moraes, botando, de maneira irresponsável, as ideias pessoais dele na conta de Raul Seixas, que não está aí para reclamar (e nem para cantar "Eu Também Vou Reclamar") - falando na ideia ultrarreacionária (digamos até ultrabolsonarista) do "combate ao inimigo de si mesmo" que, se fez parte das "filosofias orientais" do passado, é porque veio de correntes dotadas de uma visão militaresca e belicista.

ANTES RIVAIS, HOJE ALIADOS

Mas aí, vocês perguntam: o "espiritismo" brasileiro não herdou ideias do Catolicismo medieval? Ele não se desenvolveu como uma forma catolicizada do Espiritismo francês? Sim, é verdade, e a catolicização se deu sobretudo quando Francisco Cândido Xavier, conhecido popularmente como Chico Xavier, acolheu o padre jesuíta Manuel da Nóbrega, o Emmanuel, como seu mentor, confirmando o conteúdo medieval do "espiritismo" brasileiro.

É também fato que o "espiritismo" brasileiro foi adotado pela Rede Globo de Televisão e pela ditadura militar por interesses estratégicos: barrar a ascensão de Lula adotando Chico Xavier como um "ativista" conservador, um mito fabricado para anestesiar os brasileiros e tentar salvar o governo ditatorial, que vivia sua grave crise. E é fato, da mesma forma, que a Rede Globo, por seus interesses próprios, escolheu Chico Xavier como um ídolo religioso, pretensamente "ecumênico" (capaz de seduzir até ateus), para concorrer com a ascensão de pastores evangélicos neopentecostais, como Edir Macedo e R. R. Soares, que arrendavam horários em emissoras de TV concorrentes.

Devemos chamar a atenção de que, para promover Chico Xavier, a Rede Globo, através de seus jornalísticos (Globo Repórter, Fantástico e Jornal Nacional), abordou a imagem do "médium" com base num método de "forjar santos" bolado pelo jornalista católico conservador, o inglês Malcolm Muggeridge, para blindar Madre Teresa de Calcutá, depois revelada o antônimo da "bondade" à qual ela virou um pretenso símbolo. Em outras palavras: o "método Muggeridge" reinventou Chico Xavier.

Só que os tempos passam e o conservadorismo católico, se continua existindo, está bastante enfraquecido. Claro, ele se apoia no Catolicismo de Madre Teresa de Calcutá, porque ela foi uma reacionária de carteirinha que, de tão "bondosa", preferiu inocentar os empresários da Union Carbide pela tragédia de Bhopal, na Índia, em 1984, do que se solidarizar com os mortos e feridos direta ou indiretamente pelo vazamento de gás ocorrido naquela época.

Enquanto isso, a embalagem "progressista" que sempre escondeu, no "espiritismo" brasileiro, o conteúdo preocupantemente medieval - sobretudo reaproveitando conceitos retrógrados descartado pelos católicos - , está amarelando, para desespero daqueles que pensavam que Espiritismo, no Brasil, era a combinação do Espiritismo francês com a Teologia da Libertação católica. Quanta ingenuidade, não é mesmo?

Como o Catolicismo está se tornando gradualmente progressista, o "movimento espírita", que tem como base a obra de Chico Xavier, se aproximou dos antigos rivais, os evangélicos neopentecostais. Como filhotes de cachorros que, adotados por uma família que cria filhotes de gatos, os "espíritas" e os neopentecostais agora coexistem em pautas ultraconservadoras, sobretudo a rejeição radical ao aborto e a culpabilidade da vítima por certos infortúnios da vida.

Mas aí vocês perguntam: os "espíritas" defendem a Teologia do Sofrimento, e os neopoentecostais, a Teologia da Prosperidade. Como eles podem estar afins? Simples. Teologia do Sofrimento é para os pobres e desaventurados, a Teologia da Prosperidade é para os privilegiados e nascidos em berço de ouro. São duas faces de uma mesma ideologia: a Meritocracia, o que faz com que Chico Xavier e Edir Macedo sejam duas faces da mesma moeda.

Isso é tão certo que os palestrantes "espíritas" têm que ter a habilidade de criar temas diferentes para os públicos aventurados e desaventurados. Quando vão para seminários em hotéis de luxo ou centros de convenções, esses pregadores usam como temas coisas do tipo "Como ser feliz?", "Como viver feliz na prosperidade?", "Para que desespero? Sorria para a vida!".

Mas quando vão para as "casas espíritas" frequentadas por pessoas mais humildes, o tema é outro: "Sofrimento humano e as formas de aceitação e sacrifício", "Como superar dificuldades aceitando a dor e a luta", "O mundo está contra você, mas Deus está a seu favor!", "A lição de Jesus crucificado" e por aí vai.

Para os ricos, os palestrantes "espíritas" já pregam a Teologia da Prosperidade, que tem como adepto assumido o "médium" baiano José Medrado. Para os pobres, continua valendo a Teologia do Sofrimento, com a falácia de tentar acreditar que "dia de desgraças é véspera de bênçãos" para forçar as pessoas desaventuradas a continuar sofrendo dentro daquele princípio de "quanto pior, melhor".

Aos poucos, quando passar o furacão do bolsonarismo, neopentecostais e "espíritas" passarão a se unir com o Renova BR, quando SBT, Record e Globo se unirão em fraternidade reconhecendo Luciano Huck como discípulo de Chico Xavier e Jorge Paulo Lemann como o patrocinador da Pátria do Evangelho. Não se sabe se Divaldo Franco estará vivo para ver tal empreitada, mas saberemos que os palestrantes "espíritas" exaltarão Tábata Amaral como uma nova missionária, e movimentos como Renova BR, Agora, Acredito e similares como executores da "missão fraterna" de Chico Xavier, ao lado do Vem Pra Rua e do Movimento Brasil Livre.

Isso será quando os neopentecostais e os "espíritas" oficializarem sua conciliação, acolhendo o que há de mais conservador no "ecumenismo religioso" - incluindo setores conservadores "marginalizados" pela Igreja Católica e o "espiritualismo" da Legião da Boa Vontade - para defenderem um Brasil neoliberal e igrejeiro. E aí, Igreja Universal, Assembleia de Deus, Federação "Espírita" Brasileira, Legião da Boa Vontade, católicos conservadores e setores solidários vindos de outras religiões irão conceber uma supremacia religiosa eclética, mas igualmente obscurantista, causando surpresa a muitos que não imaginaram que os "espíritas" estivessem tão dentro de tais empreitadas.

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