(Autor: Professor Caviar)
Evidentemente, o protótipo dos "vendilhões do templo" é mais apropriado nas igrejas evangélicas neopentecostais, enquanto no "espiritismo" brasileiro o que se vê são as versões modernas dos "escribas" e dos "fariseus" , que são os "médiuns" e, em certos casos, palestrantes comuns.
Mas isso não significa que o mercado de publicações "espíritas" não se exerça com sua ganância financeira, aliada à outra ganância, própria das paixões religiosas, que é "alcançar os tesouros do Céu".
Desde que Francisco Cândido Xavier, o esperto pastichador de livros (lembrando: ele não fazia sozinho, mas comandava o espetáculo), virou semi-deus graças a um lobby envolvendo FEB, mídia hegemônica e outros envolvidos estratégicos, o mercado de publicações "espíritas" no Brasil é uma grande farra que provoca estragos e transformar o leitor brasileiro médio num indivíduo que até pode gostar de ler, desde que a leitura não seja uma busca de Conhecimento, mas um entretenimento analgésico e confortante.
A hipocrisia é tanta que tivemos uma publicação como "Visão Espírita", da Editora Seda, do falecido palestrante "espírita" Alamar Régis Carvalho, como um exemplo. Ele desenvolvia a revista apostando na precarização do trabalho, pagando muito mal os funcionários - geralmente só a grana do almoço - e explorando-os usando a falácia de que "todos têm que trabalhar aceitando as condições oferecidas, em nome da caridade".
Mas esse mercado já começou com os livros fake de Chico Xavier, cujo estrago maior foi a reputação de Humberto de Campos, escritor que havia sido muito popular em seu tempo e hoje é desprezado. O autor maranhense, por ironia, só "sobrevive" hoje com suas obras fake, que estão longe de refletir o estilo pessoal que marcou o escritor em vida. E isso pode ser comparado com uma simples leitura comparativa, daí que o lobby da FEB decidiu pressionar para manter os livros originais de Humberto fora de catálogo, para não prejudicar a literatura fake tida como "espiritual".
"EMOÇÃO" COMO MERCADORIA
O aspecto mais cínico que se vê no mercado de livros e revistas "espíritas" é o verniz "intelectualizado" que nem de longe consegue convencer as pessoas, se elas tivessem razoável nível de informação.
Mas como a maioria das pessoas é desinformada - elas absorvem dados em quantidade, dando a crer que estão sendo "super bem informadas", mas em qualidade elas não só são inferiores, como envolvem mentiras e mistificações - , o mercado "espírita" vende gato por lebre, creditando como "literatura inteligente voltada ao Conhecimento" um engodo mistificador que só serve para alimentar a catarse emocional das paixões religiosas.
O próprio caso de Chico Xavier é ilustrativo, porque sua imagem adocicada de pretenso filantropo, "mensageiro da paz" (só se for a "paz sem voz", o que é verídico, pois Chico sempre pedia para as pessoas aceitarem infortúnios em silêncio) e "símbolo do amor e da fraternidade", feita com uma narrativa que mais parece "contos-de-fadas para adultos", revela a hipocrisia e a leviandade desse "comércio da emotividade humana".
A comoção humana se rebaixa a uma mercadoria, não necessariamente uma mercadoria que se compra e vende, embora isso ocorra, mas uma mercadoria que se consome. O consumo da comoção humana, que consiste numa "masturbação com os olhos", revela o cinismo do "espiritismo" e seitas ou religiões similares de estimular as pessoas a se divertirem às custas do sofrimento alheio.
Nada disso contribui para tornar as pessoas mais sábias e inteligentes, antes as deixe escravas de uma emotividade mórbida e viciada, alimentada também em eventos como reuniões "espíritas", sessões "mediúnicas" e outros que se tornam verdadeiras orgias da fé e do misticismo.
Só a maneira como se comercializam os livros de Chico Xavier - verdadeiro motivo para essa propaganda que motivou a adoração ao "médium" é o dinheiro, o lucro que alimenta os dirigentes "espíritas" e os empresários associados - mostra o quanto o nosso mercado literário não é comprometido com a promoção do saber. Pelo contrário, a maioria dos livros que fazem sucesso no mercado, independente da temática religiosa, é bem menos comprometida com o Conhecimento, colocando o entretenimento e o caráter analgésico em primeiro plano.
Chico Xavier está inserido nesse contexto. Embora haja todo um blablablá dizendo que ele "simboliza o verdadeiro saber", nós sabemos (olha o trocadilho) que isso não passa de conversa para boi dormir. Xavier é uma das figuras mais mistificadoras e cujo compromisso com o saber é nulo: tanto que o "médium" não gostava da liberdade do debate e do questionamento, definindo-os maliciosamente como "tóxico do intelectualismo".
As pessoas é que se deixaram levar por uma narrativa perigosamente maliciosa, montada pela Rede Globo a partir do roteiro de Malcolm Muggeridge. Essa narrativa deixa as pessoas vulneráveis às tentações das paixões religiosas, e aí a figura de Chico Xavier torna-se uma armadilha eficaz, porque ele está associado a supostas virtudes que correspondem a qualidades que as pessoas não querem ter por iniciativa própria.
É como se elas, para serem boas e fraternas, precisassem de um entorpecente para estimular seus instintos. Esse entorpecente é Chico Xavier, envolto numa mistificação que o faz exercer influência traiçoeira e manipuladora das pessoas.
E isso é muito grave. Junta-se a vocação hipnótica de Chico Xavier, que adorava circo na sua juventude e era fissurado por técnicas de hipnose e manipulação mental das pessoas, com a recente iniciativa da mídia hegemônica e da FEB em usar o roteiro do "fabricante de santos" Malcolm Muggeridge para tornar a figura do "médium" ainda mais "mágica".
O mercado literário, de livros e revistas, é um gancho para alimentar essa perigosa paixão, essa tentação traiçoeira que não apresenta os ganchos materiais das drogas, do sexo e do dinheiro, mas os apelos simbólicos do misticismo e da idolatria religiosa.
As pessoas, hipnotizadas pela figura traiçoeira de Chico Xavier, são tentadas a sair de seus barcos da vida cotidiana para mergulharem na perdição da fé neste deturpador que mais desfigurou os postulados espíritas. E isso acaba alimentando as vendas de livros, revistas e outros artigos que incluam a lembrança do "médium". Mas, em vez das pessoas ficarem mais inteligentes, elas se emburrecem ainda mais, sobretudo por causa do apelo narcótico dos "olhos do coração", quando colocados em perigosa supremacia a qualquer questionamento que se busque uma verdade dolorosa, porém autêntica, por trás desse ritual de mistificação e adoração cega a um "médium".
E tudo isso é creditado à "promoção da caridade". Balela. Se isso fosse verdadeiro, o Brasil já teria sido um país desenvolvido há muito tempo, se levarmos em conta a suposta grandeza dos "médiuns" e seu suposto brilhantismo na "dedicação ao próximo". Mas como isso não aconteceu, isso significa que essa adoração é uma farsa e só é feita para dirigentes "espíritas" faturarem com o entretenimento da devoção a Chico Xavier e similares. Triste.
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