(Autor: Professor Caviar)
Que Chico Xavier é o único brasileiro a receber uma blindagem absoluta, isso é verdade. E é preocupante. Afinal, um estranho católico paranormal, realizador de grotescos pastiches e plágios literários, passa por cima de todos os obstáculos e atinge uma reputação divina como se estivesse apenas abaixo de Deus na hierarquia religiosa, é um problema muito grave dos quais muitos, até com um certo orgulho, se recusam a resolver.
Sabemos que existem manobras tendenciosas e traiçoeiras que protegem Chico Xavier. Ele era a "galinha dos ovos de ouro" da FEB, já que era capaz de lançar livros que vendiam que nem bala em porta de escola, fazendo a fortuna de seus dirigentes roustanguistas. Mais recentemente, a imagem de "filantropo" associada ao "médium" mineiro, definido por muitos como anti-médium por não ter a função intermediária que deveria haver num médium, foi reconstruída com a ajuda da Rede Globo de Televisão, com base num documentário inglês sobre Madre Teresa de Calcutá.
As pessoas não entendem coisa alguma e aceitam tudo de bandeja. Veem toda aquela encenação marqueteira, com Chico Xavier pegando bebê no colo, cumprimentando velhinhos doentes na cama, abraçando velhinhas miseráveis, sendo acolhido pela multidão, e ninguém desconfia que tudo isso é um roteiro de autoria do inglês Malcolm Muggeridge, que deveria ser creditado como reinventor de Chico Xavier, porque essa invenção se deu explicitamente com base no documentário que o jornalista britânico fez sobre Madre Teresa, Algo Bonito Para Deus (Something Beautiful For God).
Chico Xavier foi o maior deturpador da Doutrina Espírita de todos os tempos. Agiu de forma bem pior do que o próprio Jean-Baptiste Roustaing, primeiro que empastelou a causa kardeciana. Afinal, pelo menos Roustaing nunca foi carismático e caiu no esquecimento, enquanto Chico Xavier ampliou a farsa de maneira descontrolada, seduzindo tudo e todos e praticamente se tornando o "senhor absoluto da verdade" entre todos os brasileiros. E essa imagem tenebrosamente impune já está sendo repassada, da mesma forma, a outro deturpador, Divaldo Franco.
A blindagem é preocupante. Nem os familiares de Humberto de Campos puderam deter o mais traiçoeiro usurpador, pois apesar do ceticismo inicial, Humberto de Campos Filho, que era para reduzir Chico Xavier a nada com sucessivos processos judiciais, foi depois seduzido pelo "médium" e forçado a acreditar que as supostas cartas do pai eram verídicas.
Há blindagens de todo tipo, além de aspectos bastante surreais como a adesão de setores de esquerda e do ateísmo a Chico Xavier, já que ele era um deísta entusiasmado, um beato católico temente a Deus, e ideologicamente conservador. Chico Xavier apoiou o golpe de 1964, defendeu a ditadura militar, apoiou Fernando Collor em 1989 e, se vivo estivesse, ainda teria defendido o "Fora Dilma", sob a desculpa de que a "chefe do Executivo não cumpriu sua missão de fraternidade em favor do povo brasileiro".
Enquanto esquerdistas elogiam Chico Xavier, se esquecem que a ideologia que ele defendia era medieval de tão conservadora. Imagine sofrer desgraças sem reclamar! Esse era o ideal de Chico Xavier, adepto da Teologia do Sofrimento. E o comentário duro de Chico Xavier no Pinga-Fogo, pedindo para "orarmos em favor dos generais" naquele período de torturas intensas, deveria chocar os esquerdistas. Imagine dizer que o coronel Brilhante Ustra estava construindo um "reino de amor"?!
E quanto ao ateísmo, enquanto setores ateístas se incomodam quando alguém critica Chico Xavier e Divaldo Franco, os discípulos desses dois pregadores religiosos, como Richard Simonetti, adotam visões depreciativas aos ateus, acusando-os de estimular o suicídio, demonstrando uma clara discriminação social. Os ateus elogiam os ídolos "espíritas", mas estes esculhambam os ateus.
Chico Xavier causou muita confusão com sua pretensa psicografia. Se envolveu, com gosto, em fraudes de materialização, apoiando tudo nos bastidores e assinando embaixo, forjando atestados de falsa autentificação. Uma fraude muito mais vergonhosa do que a corrupção que se supõe ter sido cometica pelo PT.
No entanto, muitos idiotas tentam argumentar que Chico Xavier havia sido vítima, era perseguido por caluniadores que vinham feito "leões furiosos" contra o "bondoso médium", e superestimam as imagens dele na velhice, com cara de chorão. Isso é que é ser arrivista pelo coitadismo!
Enquanto esperamos que alguém lance, nas livrarias ou na Internet, o precioso livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, indispensável trabalho de investigação jornalística de Attila Paes Barreto, originalmente lançado em 1944 em poucas cópias e depois nunca mais relançado, bobagens em favor do "médium" são lançadas mesmo quando não possuem unanimidade sequer entre os chiquistas.
É o caso do "pacote messiânico" que envolve o combo Não Será em 2012, Data-Limite Segundo Chico Xavier (documentário e livro) e palestras "filosóficas", que envolveram a jornalista Marlene Nobre (já falecida, mas que chegou a cometer uma gafe quando inventaram que o "espírito" André Luiz "previu" descobertas científicas, festejando como se fosse um milagre religioso), Geraldo Lemos Neto, Juliano Pozati e Laércio Fonseca, entre outros.
Eles compõem uma corrente na qual Chico Xavier teria previsto, através de um sonho de 1969 revelado em 1986, a Terceira Guerra Mundial. O sonho, risível, mostrava Jesus Cristo se reunindo com os "grandes governantes" do Sistema Solar ou do Universo, com a presença de Emmanuel e Chico Xavier, e que discutiram a ameaça de um novo conflito, que seria gerado pela corrida espacial causada pela viagem de um grupo de astronautas à Lua, naquele 1969.
Há quem duvide que Chico Xavier tenha tido as "profecias" lançadas por Geraldo Lemos Neto e realimentadas por Juliano Pozati. Aparentemente, o relato foi dado por Geraldo, sem comprovação de um registro pessoal na voz de Chico. Mesmo assim, a "profecia" condiz com muitos escritos lançados pelo "médium".
Apesar disso, não há unanimidade. Outro "médium", Ariston Teles, baiano radicado em Brasília, chegou a lançar uma suposta psicofonia, aparentemente reproduzindo a voz de Chico Xavier, dizendo que ele nunca havia dito as coisas que estavam presentes em "determinado livro" (Não Será em 2012). Segundo essa "psicofonia", Chico desmentiu que tenha previsto coisas tão graves e garantiu que o mundo se comportará como sempre se comportou.
O mais grave: mesmo na "profecia" anunciada por Geraldo Lemos Neto, há a mensagem de Emmanuel dizendo que "profecias existem para não serem cumpridas", o que faz do catastrofismo da "Data-Limite" ser uma grande piada, não fossem os diversos erros de abordagens geológicas e sociológicas trazidos pelos relatos de Geraldo, e o próprio aspecto estranho de haver tantos detalhes na interpretação do sonho.
É bom lembrar que Chico Xavier usava os sonhos para tentar convencer as pessoas das atitudes oportunistas do suposto médium. Pode ser que ele nunca tenha sonhado tais enredos tão detalhados ou urgentes, era desculpa para Chico impressionar as pessoas e convencê-las das atitudes do "médium".
Foi com um suposto sonho com Humberto de Campos que Chico Xavier, para se vingar de uma resenha pouco generosa do autor maranhense, resolveu se apropriar do prestígio do escritor, que havia falecido pouco antes. O simplório sonho de um suposto Humberto de Campos vindo de uma multidão para cumprimentar Chico Xavier era uma desculpa que o "médium" usou para usurpar seu nome.
O caso Humberto de Campos tornou-se o único em que a apropriação oportunista de um autor morto por terceiros tornou-se não apenas impune, mas abertamente estimulada e apoiada pela sociedade, atraindo até a rendição do antes cético Humberto de Campos Filho.
Como um dos piores aproveitadores do Brasil, Chico Xavier também tornou-se o mais aberrante caso de impunidade absoluta. Cometendo, pelo menos, três grandes irregularidades - deturpação da Doutrina Espírita, realização de falsa mediunidade e exploração do sofrimento das pessoas - , Chico Xavier nunca foi punido e hoje é transformado até em falso cientista e pseudo-filósofo através de novos aproveitadores. A usurpação também se transfere de pessoa para pessoa.
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