(Autor: Professor Caviar)
A coluna Diálogos da Fé, da revista Carta Capital, é um rodízio de articulistas religiosos. É nesta coluna que o "espírita de esquerda" Franklin Félix difunde suas confusas ideias, que juram defender os ensinamentos originais da Codificação mas passam pano nas obras igrejistas dos deturpadores, como Francisco Cândido Xavier.
Mas um texto de um articulista católico, o teólogo Waldir Augusti, é que chama a atenção sobre os aspectos negativos do Cristianismo, marcados pela Teologia do Sofrimento que sempre pede aos oprimidos suportarem as piores desgraças, sob a desculpa de encurtarem o caminho para o Céu.
A ideia hipócrita de que os miseráveis e os deserdados da sorte tenham que aceitar o pior sofrimento ou, quando muito, terem que sofrer ainda mais para superá-lo, é seguida, para desespero de muitos, na obra reacionária de Chico Xavier. O "espiritismo" brasileiro tanto fala num "Deus infinitamente misericordioso e bom", mas prega que os sofredores aguentem sua desgraça em silêncio, "sem queixumes" (palavras do próprio Chico Xavier), ou seja, os oprimidos têm que se comportar como crianças boazinhas, para que Papai do Céu lhes desse as bênçãos prometidas. Ainda que essas "bênçãos" sejam, na verdade, mais desgraças, escondidas em falsas oportunidades.
Sim, as palavras podem ferir e não é o sabor de mel que dá a medida do caráter das palavras. Quantos venenos possuem gosto saboroso e de fácil ingestão, embora sua digestão seja de certo modo mortal! E o Catolicismo medieval redivivo no "nosso espiritismo" serve suas cicutas (ou "chicutas") para que as pessoas enfrentem desgraças que se acumulam, crescem e se tornam sem controle, sob o pretexto de que a "felicidade eterna" chegue um dia, não se sabe quando (talvez daqui a 200 anos, não é mesmo?).
Alguns trechos que Waldir Augusti descreve sobre oportunistas católicos e evangélicos, que certa vez se reuniram com o presidente Jair Bolsonaro, de maneira surpreendente, se encaixam nas críticas que se deveria fazer ao moralismo punitivista de Chico Xavier, que os "espíritas", com suas traves nos olhos - eles se ocupam em criticar os argueiros nos olhos dos neopentecostais - , ignoram totalmente. Tais trechos são contundentes e poderiam se voltar contra Chico Xavier, que não cansava de dizer, aos oprimidos, que "o sofrimento é uma dádiva de Deus":
Trechos do artigo Estamos diante de um “mercado da fé”
Por Waldir Augusti - Diálogos da Fé - Carta Capital - 25 de junho de 2020.
Dias atrás, dialogando com alguns amigos, nos vimos falando sobre os atuais acontecimentos sócio-político-religiosos com os quais estamos sendo brindados. Vemo-nos envoltos por uma discórdia odiosa disseminada entre as pessoas por homens e mulheres inescrupulosos que se dão ao direito de brincar com a fé e a esperança dos menos favorecidos, convencendo-os de que profetas e arautos do Senhor estão em seu meio trazendo a “verdade” que deve ser seguida sem pestanejar.
Servindo-se de uma retórica -até certo ponto-, aprimorada e repleta de argumentos capazes de mexer com o emocional de muitos, tornam-se “pastores, gurus, guias espirituais” capazes de movê-los em distintas direções, desde que lhes atenda em seus objetivos, não se importando com o mal que estão causando. O medo, a imposição de regras desumanas, a chantagem emocional, a inclusão de “amuletos e objetos mágicos” por eles apresentados e vendidos como “milagrosos”, aliados a apresentações de “testemunhos” arranjados e repletos de encenações muito bem ensaiadas, são agregados à suas pregações e completam a pintura de um triste quadro social-religioso.
Não bastasse, tais “pastores, gurus e guias espirituais”, munidos de informações cuidadosamente estudadas, aliam-se a líderes políticos ainda mais inescrupulosos e ávidos pelo poder, formando um séquito desprovido de qualquer honra ou caráter, nos âmbitos religioso, político ou social. As dificuldades enfrentadas cotidianamente por milhares de seres humanos, que por imposição de uma sociedade excludente e injusta, veem-se obrigados a viver em condições miseráveis de habitação, saúde, educação e segurança dentre outros. São homens e mulheres apontados e vistos meramente como números em uma contagem estatística fria e desumana.
(...)
Outrossim, são aqueles que insistem em impor às pessoas que aceitem sua condição de miserabilidade como vontade de Deus para suas vidas e que as mazelas vividas no cotidiano, são frutos do “pecado” por elas cometidos. Implica dizer, que o simples fato de não aceitarem passivamente a miséria, a dor e a fome a que foram condenados, os exclui da graça de Deus e como castigo, devem “purgar”.
Servindo-se da argumentação de que o que “importa é a salvação da alma”, sentem-se à vontade para -com suas pregações-, conduzir aos mais humildes a um estado de letargia capaz de lhes transformar em objetos de fácil manipulação".
(...)
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