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A ilusão da meritocracia


(Autor: Senhor dos Anéis)


Um pai de família, irritado com o filho escrevendo e gravando vídeos na Internet, dá uma bronca furiosa:

- Você fica o tempo todo no computador e devia arrumar um trabalho! Eu fico gastando o tempo todo e você não arruma renda? Cadê a busca de emprego, você não dá o mínimo passo!

- Pai, eu dei passos sim! Mas não consegui arrumar emprego!

- Não interessa! Arrume emprego do nada! Se vira! Meta a cara e dê murro em ponta de faca que você consegue! Abra mão dos seus desejos, vivemos num mundo cão e faça até o que não sabe para vencer na vida!

É fácil um pai, moralista de sofá, dizer isso, no seu comodismo meritocrático, defendendo valores da chamada "vida adulta" extremamente rígidos para os jovens. Fica fácil pedir ao outro que "meta a cara", em ato comparável ao de alguém exibindo de um tetraplégico que se levante e corra, porque "a vida é essa mesmo e não tem como escapar". Fácil cobrar de quem não tem e não pode.

As pessoas falam muito da tal "velhofobia", o horror aos velhos, mas se esquecem que os velhos, um pouco antes da velhice propriamente dita, é que sofrem de "juventofobia", ressentidos com o prazer da vida juvenil e cobrando, dos jovens, que dediquem toda a fase de vigor físico apenas para o trabalho e, quando muito, com apenas breve período de descanso, só para respirar, dormir e ver algum entretenimento na TV.

Ah, que moleza cobrar dos outros aquilo que eles não podem fazer. A meritocracia, a "doutrina do vencer na vida", tem também suas ilusões, embora ela venda uma falsa imagem de "objetiva", "racional" e "irrevogável". Quem prega a meritocracia se acha sempre com a razão. Os mais jovens têm mais é que aceitar e obedecer e sufocar todos os prazeres da juventude que, supostamente, só serão recuperados depois dos 50 anos.

Mas isso é conversa. Sabemos que surge outra teoria, a de que os prazeres juvenis são substituídos por prazeres adultos que apenas "ritualizam" as festas, a descontração humana e até o consumo de bebidas alcoólicas, antes uma "aventura" juvenil, depois uma "obrigação" adulta. São "prazeres" ainda mais arriscados, diante de um corpo físico já sem o vigor de antes.

E os dois prazeres, o juvenil e o adulto, entram em colisão na vida adulta plena, a partir dos 50 anos, porque o sufocamento da juventude em nome de uma jornada voraz de trabalho cobrará seu preço diante dos prazeres reprimidos. 

Por isso é que, no lazer, o mesmo adultão meritocrático e severo se comporta como um abobalhado, um pedante, também com suas "brincadeiras" nas conversas entre amigos, nas quais se exibe uma bagagem cultural inexistente, mas "montada" para uns parecerem melhores do que os outros.

Nos últimos anos, pessoas com mais de 65 anos são as que mais estão cometendo desastres, gafes, escândalos, escrevem o que não se deve escrever e apagam quando é tarde demais, após o massivo print screen espalhado pelas redes sociais. Jair Bolsonaro tem 65 anos. Nos EUA, casos como Harvey Weinstein e Roseanne Barr, o primeiro acusado de cometer abusos sexuais, a segunda por comentários racistas e reacionários, já ultrapassaram 65 anos e estão perto dos 70.

Imagine aquele adulto modelo, do "senhor de idade" de ares paternais, supostamente elegante, refinado e comedido, acusado de assediar secretárias, a ponto de apalpar traseiros num momento mais privativo. E quantos adultões gracejando da cultura juvenil, como se não vessem diferença entre uma banda de rock e um grupo de palhaços de TV?

A situação se complica quando sabemos que os piores chiliques que geraram trevas políticas, econômicas e até sanitárias, como as vitórias eleitorais de Jair Bolsonaro e Donald Trump, o sucesso da proposta Brexit ("British Exit", a saída da Grã-Bretanha da União Europeia) e a pandemia do coronavírus (surgida a partir de uma contaminação supostamente acidental num laboratório), vieram de iniciativa de "senhores de idade" supostamente amadurecidos.

Steve Bannon, o empresário da Cambridge Analytica, começou a trabalhar com fake news depois dos 55 anos, com um apetite que seria normal para gente com um terço de sua idade. Atualmente com 67 anos, Bannon, entre os 63 e 65 anos, espalhou notícias mentirosas, segmentadas conforme o perfil dos internautas - cujos dados pessoais foram roubados, com a ajuda de provedores de redes sociais - , para forçar o convencimento nas campanhas presidenciais e assim favorecer Trump e Bolsonaro.

E NO "ESPIRITISMO" BRASILEIRO?

Enquanto muitos acreditam no "espiritismo de contos de fadas" que artificialmente junta Allan Kardec e seus deturpadores (de raízes ideológicas roustanguistas), criando um "único espiritismo" em que as raposas brasileiras comandam o galinheiro francês, o buraco é mais embaixo e, por trás de uma religião atraente no seu suposto "espiritualismo moderno", temos uma seita obscurantista bem pior do que as evangélicas "neopentecostais".

Normalmente, os pais meritocráticos, com seu julgamento solipsista e um tanto geriocêntrico - motivo do qual os mais jovens respondem com a velhofobia - , acham que os jovens podem perder seus tempos sufocando o prazer em nome de um trabalho árduo, para, depois dos 50 anos, encararem o "verdadeiro prazer" das festas formais e da mesmice da música orquestrada qualquer nota.

E no caso dos pais serem "espíritas"? Eles cobram dos filhos um sacrifício acima do normal e mesmo dos limites e dos contextos adversos, como se pedisse a um peixe para subir uma árvore. Mas cultuam os "médiuns" que, esses sim, vivem na moleza, usando nomes de mortos para venderem livros e fazendo de conta que "trabalham pelo próximo", com projetos assistencialistas bancados por terceiros.

Vão, quase que dominados por instintos, ver aquele vídeo do Divaldo Franco com aquele mesmo papo de "paz", como se fosse possível teorizar demais sobre essa ideia abstrata. São pais que odeiam ver seus filhos digitando textos na Internet, mas glorificam um sujeito que fez turismo sob a desculpa de "espalhar a boa nova" pelo mundo, quando está, na verdade, ensinando o mundo tudo errado, distorcendo criminosamente os ensinamentos kardecianos.

O pai de família , tão rigoroso, também não quer saber quem é aquela senhora ou aquele sujeito com trejeitos de médico que falam em favor de Francisco Cândido Xavier. É só ver um título positivo com a palavra "Chico Xavier", outro que viveu de arrivismo e foi sustentado confortavelmente pela Federação "Espírita" Brasileira, sob o aparato da falsa pobreza. 

Ou seja, Chico Xavier era sustentado pela FEB como os filhos são sustentados pelo pai meritocrático. E o pai meritocrático não via problema em Chico Xavier, que achava seu "mestre". O pai se irrita quando um filho pede uma passagem de ônibus de ida e volta para ir ao Centro da cidade onde mora, mas aplaude, maravilhado, quando Chico Xavier, com o dinheiro da FEB e, quiçá, pelo desvio de verbas da "caridade" para viajar de Uberaba para São Paulo, para eventos cerimoniais.

Quanta contradição. Muitas vezes o jovem quer ir ao Centro da cidade para fazer pesquisas e comprar uma revista de cultura alternativa, para se informar melhor das coisas. O pai se irrita profundamente e dá o dinheiro da passagem resmungando que o menino deveria "meter a cara nos estudos" e "dar murro em ponta de faca, mesmo, para vencer na vida e arrumar um trabalho".

São os argueiros nos olhos dos filhos, diante dos moralistas com traves em um dos olhos, e talvez até nos dois. Mas a trave é o "terceiro olho" dos moralistas, que não conseguem ver o equívoco de um deturpador da causa espírita, que espalhou literatura fake com livros comprovadamente fraudulentos - sim, inescrupulosamente se revelou que, por exemplo, Parnaso de Além-Túmulo sofreu cinco modificações editoriais - e ainda viveu em situação confortável, passando por cima de encrencas.

Chico Xavier, se não fez viagens luxuosas, se não viveu de forma nababesca, se não era cercado de pompa ostensiva, mesmo assim viveu no mais absoluto conforto, obteve prêmios generosos na Terra, virou o "iluminado" das fantasias terrenas movidas pelas paixões religiosas de seus seguidores, perigosamente fascinados. O modus operandi de sua vida se compara a um membro da realeza britânica, que não tocava em dinheiro mas era satisfatoriamente sustentado.

Como a meritocracia é uma grande ilusão, que faz os pais serem tão desiguais no seu moralismo, se irritando à toa com filhos que não conseguem arrumar empregos porque, simplesmente, os empregadores se recusaram a dar, sabe-se lá com que frescuras, nesse mercado que parece ignorar que um emprego se concede conforme a vocação, pelo menos potencial, do candidato, e não por um estereótipo que combina a virilidade de Malvino Salvador com o humor sádico de Danilo Gentili.

E ainda mais quando os pais glorificam supostos líderes religiosos que vivem na moleza, em supostas ações filantrópicas das quais eles não mexem um dedo e só se preocupem com a promoção pessoal (apesar, no discurso, de desmentirem tanto; é aquele ditado: "desmentimento em excesso é confissão").

Talvez se os filhos, em vez de fazer aqueles "blogs vagabundos" e se informarem "com bobagens", tivessem investido em literatura fake, escolhendo o morto do momento para produzir arremedos de psicografias, fossem mais respeitados pelos pais meritocráticos, além de obtiverem lucro financeiro certo e os aplausos da sociedade. Quantas traves não podem estar nos olhos dessa "gente correta"...

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