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E se as esquerdas forem adotar Olavo de Carvalho?


(Autor: Senhor dos Anéis)

Muitos estranham o "novo normal" dos últimos tempos, mas a verdade é que carregamos um "novo normal", há mais de 45 anos, tão bizarro quanto o de hoje, ou, talvez, até mesmo pior do que imaginamos.

Somos um país com medo de se informar que feminicidas também morrem e, sob a desculpa do perdão e da ressocialização, nos apegamos mais a feminicidas do que a entes queridos, assim como nos conformamos mais quando artistas e intelectuais de grande valor morrem cedo e têm sua trajetória bruscamente interrompida. 

Mas jogamos as leis da Natureza para as favas e recusamos a admitir que a masculinidade tóxica pode abreviar a vida de muitos machistas que mataram suas mulheres que, também, consomem cigarros em quantidades industriais, ocasionalmente consumiram cocaína e se embriagaram. Pedimos uma longevidade surreal de 110 anos para corpos machistas que mal suportam metade disso.

Queremos uma cultura popular amestrada pelo mercado e ainda falamos em "liberdade das periferias". O que, aquela bregalização cultural, com velhos banguelas fazendo papel de tolos em programas de auditório e o antropólogo de plantão achando isso maravilhoso? E as mulheres-objetos, subproduto de nosso machismo, muitos creem serem "feministas" porque não têm maridos, namorados e mal possuem uma paquerinha distante nas redes sociais.

Mas nesse "novo normal" mais antigo, surgido na Era Geisel, em que nossos ícones cult são, estranhamente, Gretchen, É O Tchan e Chitãozinho & Xororó, todos do establishment do mainstream, também surta na mobilidade urbana, medindo a qualidade do sistema de ônibus pela mesmice de pinturas.

É a tal pintura padronizada, uma doença herdada de uma mente militarizada para o setor, com trabalho exaustivo para os rodoviários e diferentes empresas de ônibus exibindo um mesmo visual, enfatizando o logotipo da prefeitura ou do governo do Estado, servindo de outdoor político e complicando a vida dos passageiros. Tem muita gente já ocupada em pagar contas e compromissos de trabalho e estudos e ainda têm que prestar atenção para não pegar o ônibus errado.

Somos um país em que as mulheres que sabem ser solteiras são muito bem casadas e as mulheres que dependem de um marido ficam não só irremediavelmente solteiras como sentem horror em imaginar como seria a vida de casadas.

Somos um país de um esquerdismo caolho, mais festivo e lúdico do que trabalhista, preferindo defender, primeiro, as causas identitárias para, depois, ver se vai ou não reverter os retrocessos trabalhistas dos últimos cinco anos.

E isso vem de um "novo normal" vindo da Era Geisel e contaminado pela histeria do "milagre brasileiro", que habita o inconsciente não só de neuróticos bolsonaristas mas pega de surpresa até mesmo os petistas e psolistas mais dedicados, além dos "isentões" que dizem nada terem a ver com isso. 

E são valores tão estranhos e pitorescos do que aqueles que ameaçam a se formar hoje, com pessoas ao mesmo tempo enroladas na bandeira do Brasil defendendo a supremacia dos EUA no mundo, com "gente de bem" defendendo o rearmamento da população. Mas é o nosso país que trata os nossos feminicidas como "coitadinhos", só porque eles possuem boa aparência e boa posição social.

ESQUERDAS CULTUAM UM APOIADOR RADICAL DA DITADURA MILITAR

Um dos aspectos desse "novo normal" é o fato das esquerdas sempre cultuarem algum direitista perigoso, mas dotado de algum jeito malemolente, como uma raposa sorridente abanando o rabinho. Na política, é notório que nossas esquerdas adotem o masoquismo de cultuarem nomes como José Sarney, Fernando Collor e Eduardo Paes, na esperança deles trazerem de volta (?!) a "revolução bolchevique" para o Brasil.

E isso quando sonham que a nossa reforma agrária tenha como trilha sonora não mais a dupla Zezé di Camargo & Luciano, que aderiu abertamente ao bolsonarismo, mas aos tucanos Chitãozinho & Xororó e suas "Evidências" do bolsonarista (!) José Augusto, que ainda soam como acalantos para setores débeis dos esquerdistas de plantão.

O apoio ao "funk", que trata o povo pobre como débil-mental e foi um ritmo tramado por DJs gananciosos, que armaram toda a imbecilização cultural e, quando se enriqueceram, se esconderam - hoje um punhado de MCs, supostamente ativistas, atua como "laranjas" desse mercado voraz - , mostrou o quanto as esquerdas surfam no espírito do tempo pós-Geisel, que montou um país pitoresco para a posteridade.

As esquerdas, que deveriam moldar um Brasil mais progressista, embarcam em qualquer direitista que aparecer com um pobre negro aparentemente sorrindo, ainda que fosse tratado como um animalzinho doméstico. E é isso que faz, no "espiritismo" brasileiro, com que um sujeito que havia sido radicalmente direitista fosse cortejado, ainda que às escondidas, por setores das esquerdas.

Quem imagina se tratar de Francisco Cândido Xavier, acertou. Se os brasileiros hoje se assustam com o direitismo "espírita" do ator Carlos Vereza, fervoroso adepto do "espiritismo à brasileira", achando tudo apavorante, deveriam prestar atenção ao "médium" mineiro. O reacionarismo de Carlos Vereza irá parecer chilique de criança pequena.

Embora hoje Chico Xavier esteja envolto numa bolha de fantasias, sendo interpretado conforme o pensamento desejoso de seus diversos seguidores, incluindo os "isentos" que se dizem mais realistas que o rei, seu passado reacionário foi de arrepiar, com um direitismo tão radical que, em seu tempo, rendeu críticas severas ao "médium", diferente dos malabarismos fantasiosos que tentem desmentir o óbvio.

Nesse "novo normal", ficamos acostumados com a narrativa que mostra Chico Xavier como uma "princesinha de Walt Disney", com uma narrativa de contos de fadas momentaneamente quebrada por algum "espírita" supostamente isento ou esquerdista que não rompe com a essência dessa fantasia, apenas tentando desmentir, superficialmente.

Essa "galera" chiquista, ocasionalmente, tende a dizer, à maneira de Franklin Félix sobre Adolfo Bezerra de Menezes, que Chico Xavier "nunca foi fada-madrinha nem princesa" e que ele tinha a "firmeza de um líder". Um discurso que finge romper com tais fantasias, mas não rompe, porque se apega, de certa forma, às abordagens idealizadoras que cercam o "médium".

Na verdade, Chico Xavier virou um personagem de novela, como se Ivani Ribeiro adaptasse o roteiro de Malcolm Muggeridge feito para Madre Teresa de Calcutá. Viraria uma novela chamada Um Lindo Exemplo de Amor, adaptação de Algo Bonito Para Deus (Something Beautiful For God), com Chico Xavier fazendo o papel de Nelson Xavier no papel de velhinhos simpáticos das novelas das nove.

Chico Xavier é o único homem no qual a realidade não toca. Considerado "dono da verdade", num contexto de privatização simbólica das virtudes humanas, ele não pode ser entendido com realismo, o que faz com que aspectos sombrios de sua personalidade sejam relativizados por discursos estranhos, surreais, que não passam de desculpas vergonhosas para blindar uma pessoa.

Assim, o apoio que Chico Xavier deu para a ditadura militar, extremamente convicto, usando o nome do abolicionista Castro Alves em pseudo-psicografia exaltando um regime político que defende a escravidão, foi "relativizado", através de uma vergonhosa tese acadêmica, por causa da "santidade" do "médium". Uma tese sem pé nem cabeça.

E aí Chico Xavier expôs seus ataques hidrófobos às esquerdas, foi condecorado pela Escola Superior de Guerra - que, naquele radicalismo repressivo do AI-5, em nenhum momento iria homenagear aqueles que não colaborarem com o regime ditatorial - e, no entanto, quatro décadas depois, gente que se declara "comunista" e "esquerdista da gema" fica paparicando o "médium". "Novo normal"...

Como a campanha encomendada pela ditadura militar, promovida pela Rede Globo que, através do Globo Repórter, adaptou o roteiro de Muggeridge para glorificar Chico Xavier, chegou a conquistar o respaldo das esquerdas, é algo que precisa ser explicado.

É necessário até um estudo para ver como as manobras psicológicas da Rede Globo, que, ao menos, entre a ditadura militar e o golpe político-jurídico de 2016, jogam para as esquerdas seu legado cultural de direita, voltado para a domesticação das classes pobres, como o "funk" que imbeciliza as classes populares e o paternalismo assistencialista proto-Caldeirão do Huck do "movimento espírita".

Que milagres de narrativa devem ter havido para promover Chico Xavier, que manifestava seu total repúdio a João Goulart e aos movimentos proletários e camponeses, como uma pretensa "alma gêmea" do ex-presidente Lula, evocando supostas coincidências referentes, em tese, às ideias de "paz", "amor ao próximo" e "melhorias para o Brasil"?

Talvez tenhamos que pensar em pessoas infiltradas nas esquerdas, nas forças progressistas, "penetras" que invadem o vagão de trem para irem depois para a sala do maquinista frear o comboio, de forma a evitar que ele chegue ao destino necessário. E, assim, com Chico Xavier e os funkeiros, se evitem a emancipação real das classes populares, ao serem estas anestesiadas pelo assistencialismo religioso e pelo entretenimento libertino e alienante.

E nesse "novo normal" em que até as esquerdas apostam nos "seus direitistas favoritos", ficamos imaginando se os malabarismos ideológicos puderem fazer o mesmo com Olavo de Carvalho e ele se tornar um ídolo "indiscutível" das esquerdas futuras, através das habilidades das retóricas mentirosas, mas que penetram fundo nas emoções humanas.

O reacionário Chico Xavier recebeu "exércitos" de supostos biógrafos, todos empenhados em relatar (ou, talvez, inventar) supostas "lindas histórias", à maneira dos loroteiros que relataram "experiências íntimas" com Madre Teresa de Calcutá.

A manobra ideológica de produzir vários livros "amaciando" a imagem de um reacionário religioso e moralista retrógrado pode, no futuro, oferecer o risco de "descobrir atividades filantrópicas" de Olavo de Carvalho e vendê-lo como um "progressista nato", com apelos emocionais envolventes a seduzir, se não os esquerdistas de hoje, os esquerdistas de amanhã.

Foi muito fácil explorar a imagem de Chico Xavier carregando bebês pobres e acariciando pessoas miseráveis e alegando que ele "peregrinava pelas ruas". Se for assim, nosso Luciano Huck também é "peregrino", faz as mesmas coisas que Chico Xavier, de quem o apresentador se considera admirador (potencial discípulo?), e nem por isso nossas esquerdas acolhem para si o marido de Angélica.

Eis um Assistencialismo de fachada, desses que o "benfeitor" não colabora, mas se promove às custas dos donativos de seus seguidores. Donativos que incluem, entre doações normais, roupas estragadas, alimentos com validade vencida, remédios mais vencidos ainda e objetos obsoletos, como se os pobres fossem o "depósito de lixo" das elites paternalistas.

E isso quando as pessoas, tomadas de cegueira emocional, confundem "aliviar a dor do sofrimento" com "transformação de vidas". Aliviar a dor não é transformação, tudo fica na mesma, apenas a dor é reduzida, mas a pessoa continua aguentando a barra pesada. Transformar vidas é diferente, mexe nos privilégios das elites, cortando até a "viagem a Nova York" das dondocas espevitadas.

E se, no caso de Olavo de Carvalho, surgisse um novo Ronaldo Terra relativizando a opção armamentista do "guru da Virginia", dizendo que "seu apreço às armas deve ser entendido como algo condizente mais a sua missão pacifista, entendendo o filósofo menos como um apoiador de guerras civis do que de como um admirador de filmes die ficção como os bangue-bangues e filmes policiais"? O malabarismo das palavras pode fazer mentiras descaradas virarem verdades indiscutíveis.

Daí que, se fizerem o mesmo com Olavo de Carvalho o que fizeram com Chico Xavier - que foi o "Olavo de Carvalho" da época da ditadura, um pretenso mensageiro, ultraconservador, com personalidade pitoresca - , numa narrativa bastante engenhosa, veremos então o que é o Brasil que trabalha "novas normalidades" a partir de coisas surreais.

É por isso que devemos rever nossos inconscientes "normais" que surtam e mostram os tresloucados, paranoicos e neuróticos que estão ocultos em nós. Um autoconhecimento, não na forma como diz defender o "espiritismo" brasileiro, é necessário.

Afinal, se temos medo de feminicidas morrerem, achamos que o "funk" é a cultura popular por excelência e as políticas progressistas devem priorizar a liberação da maconha para fins recreativos antes de melhorar as condições de vida de nosso povo, então devemos parar para pensar para ver se nós não estamos errados.

Depois vamos falando mal dos bolsonaristas que, com suas agendas psicóticas e seu terraplanismo furioso, querem dominar o Brasil. Esquecemos do bolsonarismo oculto nas próprias esquerdas, e sobretudo nos tais "espíritas de esquerda", resíduos que, de uma forma ou de outra, aparecem discretamente no nosso cotidiano, adormecidos até, talvez, uma nova e violenta erupção, em mais uma "aventura" do "novo normal" dos próximos anos.

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