
(Autor: Professor Caviar)
Por que o Brasil é tão apegado a tanta mediocridade? Por que o país é considerado um dos mais ignorantes do planeta? Por que as pessoas se apegam ao abjeto, ao ridículo, ao ultrapassado, ao piegas? Por que o Brasil é um balneário de espíritos grosseiramente inferiores? Por que o Brasil é um paraíso de arrivistas? Por que, no Brasil, erros graves se tornaram a receita do sucesso?
O coquetel de absurdos que já existia no Brasil, pelo menos num contexto mais moderno, desde o período de 1974 a 1979, atingiu seu ponto máximo com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, algo que está em plena conformidade com a "data-limite" sonhada por Francisco Cândido Xavier e com seu lema "futurista" que diz "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", que no fundo era uma previsão do lema bolsonarista "Brasil, Acima de Tudo, Deus, Acima de Todos", praticamente uma adaptação do antigo lema do "médium" mineiro para a linguagem simplória dos usuários das redes sociais.
O Brasil tornou-se um país absurdo. É um país em que os feminicidas, com todas as pressões emocionais que recebem, em tese não podem morrer antes dos 85 anos, pelo menos aos olhos da sociedade moralista sem moral. Mas atores de teatro de vanguarda, quadrinistas e artistas de MPB podem morrer de infarto antes dos 60 anos. É o país do jeitinho, da memória curta, do pensamento desejoso, onde não se pensa mais com o cérebro, mas se "pensa" com o coração ou com o fígado, dependendo do humor da pessoa.
Seu "filósofo" é Olavo de Carvalho, que combina asneiras com críticas à imbecilidade e à mediocridade bem naquele estilo "reclamar do argueiro do olho alheio sem ver a trave no próprio". Sua "cultura de vanguarda" é o "funk", um engodo sonoro sem músicos, sem qualidade musical e com grosserias comportamentais. Sua "música tradicional" é o "sertanejo", uma caricatura de country music iniciada por Chitãozinho & Xororó e que culminou na geração "universitária" que nada tem a ver com a verdadeira vocação cultural das universidades autênticas.
Este é um país que aprecia subcelebridades, nas quais a fama pesa mais que o talento, ou seja, a fama se torna o fator primordial, e o "talento" só vem depois, geralmente para encher linguiça ou buscar públicos mais exigentes. E, ainda assim, talento só serve como uma linha de montagem para forjar algum suposto motivo para prorrogar a fama do ídolo medíocre de ocasião.
Tudo isto está sob medida para uma nação que considera Chico Xavier "ativista", dentro de um cenário de outras mediocridades. Um sujeito que foi capaz de usurpar grandes escritores oferecendo "psicografias" que não estavam à altura do talento original dos autores falecidos, e que assinava atestados tentando legitimar falsas práticas de materialização, tornou-se "semi-deus" num processo de adoração difícil de ser desfeito, porque ídolos religiosos são dotados de um poder descomunal, já que multidões os associam a virtudes elevadas que, em verdade, nunca existiu neles.
E por que as pessoas pensam assim, nessa valorização à mediocridade, nessa rendição fácil à aparência do discurso, à beleza da embalagem, a tudo que estimule a catarse humana, a pessoas sem caráter e cheias de contradições? Por que no Brasil há um considerável número de pessoas que dá alguma consideração aos criminosos Guilherme de Pádua e Suzane Von Richtofen, que se promovem a pretensos símbolos da rebeldia humana e do cinismo triunfante?
CONFUSÃO MENTAL E EMOCIONAL
Um ponto que se deve considerar é que os brasileiros raramente tiveram, nos últimos 45 anos, uma educação formal (escola) e social (famíliares e amigos) que rumasse para a dignidade, para a lógica, para a coerência e que valorizasse o respeito humano e a honestidade. Apenas uma parcela pequena da população teve essa oportunidade, dentro de um meio em que escolas entravam constantemente em greve e familiares não podiam cuidar dos filhos porque precisavam se dedicar ao trabalho, os mais pobres para arrumar renda para sobreviver, os mais ricos para acumular dinheiro para obter luxo e o maior número de privilégios.
Isso criou uma série de distorções perceptivas e emocionais que culminou na imbecilização generalizada dos últimos tempos. As pessoas já deixaram de querer o melhor, se apegando neuroticamente ao "razoável". Deixaram de valorizar a si mesmas, e isso faz com que até mesmo a questão das virtudes e dos defeitos humanos se tornasse algo bastante confuso e irregular. Passam a ter uma perspectiva "mais pragmática" da vida, e em vez de pedir coisas melhores, preferem pedir coisas "mais ou menos" que parecem ter um apelo mais sensacionalista.
Essas pessoas deixaram de ter a noção de discernimento, não sabendo mais distinguir realidade e ficção, certo e errado, verdadeiro e falso. Chegam a considerar mentiras como "verdades indiscutíveis" se elas apresentam aspectos agradáveis. Se a verdade dói, ela vira "mentira descarada".
O mais assustador é que essa confusão mental e emocional pega desprevenidos, em algum momento, indivíduos que parecem esclarecidos e lúcidos. Mesmo as pessoas ideologicamente de esquerda sucumbem a fenômenos de cunho conservador, como o "funk" e o próprio "espiritismo" de Chico Xavier, ele mesmo um reacionário convicto que é estranhamente admirado por setores das esquerdas. O pior é que essas esquerdas não relativizam reacionários como Regina Duarte, por ter interpretado feministas, ou Sílvio Santos, por ter sido um camelô, mas fazem questão de manter pensamentos desejosos que desenham em Chico Xavier um progressismo que nele nunca existe.
As pessoas acabam corrompendo desejos, visões de mundo, perspectivas, percepções e noções de qualquer coisa. É como se uma epidemia de burrice pegasse qualquer um em dado momento, mesmo aquele que parece ter algum esclarecimento, mas "pisa no tomate" em certas abordagens e percepções.
Em casos extremos, as pessoas chegam a uma noção esquizofrênica na qual elas se sentem preparadas em aceitar a morte prematura de uma personalidade admirável, mas em compensação tremem de medo quando um feminicida de cerca de 50 anos sofre um infarto fulminante ou apresentam indícios de um câncer em estado irreversível.
São pessoas que se perdem num engodo que mistura uma permissividade e uma repressão extremas. Falam palavrão, burlam as leis, xingam as pessoas, criam blogs para ofender desafetos, mas pedem mais censura, liberação de armamento, mais religião, etc. São ao mesmo tempo pornográficos e fanáticos religiosos. Um país que exalta Alexandre Frota, Guilherme de Pádua, Eduardo Costa e outros é perdido nesse lamaçal de sentimentos extremamente confusos e contraditórios.
É um Brasil medíocre, que recebe chacota do restante do mundo. É um país que parece voltado a atingir o topo dos países mais ignorantes do mundo, a cada dia superando adversários como nações africanas ou centro-americanas que viviam períodos ditatoriais ou governos ultraliberais. O Brasil vê escapar, como água entre os dedos, sua reputação de país emergente, tornando-se novamente o país subdesenvolvido e sadomasoquista com uma juventude que aceita retrocessos sociais sob a falácia de que isso é "o que há de mais novo (sic)" na política e nas medidas econômicas.
No Brasil em que se imagina que, para haver crescimento econômico, precisa reduzir os salários dos trabalhadores, boa parte das pessoas prefere preencher seu corpo de tatuagens do que aprimorar seus intelectos, mas em compensação reagem fazendo ginástica mental e apelando para o discurso chato do "direito ao corpo" para se apegarem a tatuagens ridículas, que deixam o corpo humano com jeitão de "mural". E o pior é que especialistas já alertam para o fim do modismo das tatuagens, hoje cada vez mais associadas a indivíduos envolvidos em ocorrências criminais ou ligados a fenômenos culturais cafonas e ultrapassados.
Mas no país em que rejeitar o brega é "preconceito" (como se essa pretensa cultura não expusesse o povo de maneira tão preconceituosa), vale tudo nesse estranho hedonismo com cheiro de mofo, nesse Brasil que mais parece um exílio de velhos fantasmas de tatuados e macartistas dos EUA dos anos 1950. E é um país em que um arrivista como Chico Xavier vira "santo", com uma blindagem de fazer inveja a um tucano, por causa de uma tola adoração à sua imagem representada por apelos muitíssimo piegas e conservadores. Ele se tornou "patrono" desse país aberrante que hoje temos e que será oficialmente inaugurado amanhã.
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