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"Sociedade do amor" do Brasil atual é marcada pelo egoísmo

 (Autor: Professor Caviar)

Com o fim do bolsonarismo, pelo menos no que se refere à condição do protagonismo político, chegou ao poder um tipo de sociedade que se autoproclama "do amor e sem ódio". No entanto, essa sociedade, que é a "nata" dos apoiadores do governo Lula, não é tão generosa quanto parece e demonstra estar mais voltada para a curtição, o consumismo e o fanatismo pelas três paixões tóxicas dos brasileiros - cerveja, futebol e religião - do que para combater as injustiças sociais e ajudar o próximo.

Embora tenhamos apoiado a vitória eleitoral de Lula, crucial para reconduzir o Brasil a um rumo de progresso socioeconômico, vemos que o presidente não tem o mesmo fôlego que o fez fluir no segundo mandato. Querendo fazer todas as coisas ao mesmo tempo, Lula não mediu prioridades e está cometendo erros vergonhosos, como enfatizar sem necessidade a política externa, cometendo gafes no exterior - como o seu intrometimento na guerra entre Rússia e Ucrânia, visto como uma "ingenuidade" - , e fazer alianças com o Centrão, o que derrubou uma das poucas pastas com algum trabalho técnico, que é o Ministério dos Esportes. Já se fala que Lula se vendeu para a oposição, para obter vantagens no Congresso Nacional.

Por sorte, quem predomina no uso da Internet é uma classe média ao mesmo tempo alienada e cheia da grana, que não suporta ler críticas ao atual governo. Agora uma elite "purificada", essa classe média tenta esconder sob o tapete seu passado que envolve os ancestrais escravocratas da Casa Grande e dos antigos bandeirantes que matavam índios e negros, dos fazendeiros revoltados com a Lei Áurea e integrados na farra político-econômica da Repúbica Velha e das famílias golpistas que pediram a queda de João Goulart, a efetivação da ditadura militar, o AI-5 e os benefícios seletivos para esta elite através do "milagre brasileiro".

O pessoal ainda pediu a queda de Dilma Rousseff e a eleição de Jair Bolsonaro, mas antes disso já estava sossegada, pois culturalmente a música brasileira engajada e sofisticada foi deixada para trás em prol de um cancioneiro medíocre, piegas e constrangedor que envolve tudo que é brega, dos ídolos mais canhestros dos anos 1970 até a gourmetização de canções vergonhosas, como "Um Dia de Domingo", de Michael Sullivan e Paulo Massadas, e "Evidências", sucesso de Chitãozinho & Xororó, mas que é uma composição do cantor José Augusto.

No âmbito da Educação, as universidades privadas surgiram para abafar a influência das universidades públicas que não foram privatizadas. Mas até estas foram sabotadas por uma burocracia acadêmica que baniu o pensamento crítico nos cursos de pós-graduação e se beneficiam por narrativas complacentes que convertem problemáticas em patrimônios fenomenológicos (em termos mais claros, uma ideia deixa de ser problema para se tornar um valor a ser zelado, mantido). 

Até Chico Xavier, um ultraconservador de direita estranhamente blindado pelas esquerdas lulistas, tem seu tráfico de influência no Núcleo de Saúde e Espiritualidade na Universidade Federal de Juiz de Fora, cidade mineira onde ocorreu a tal "fakeada", de Jair Bolsonaro (que o "médium", se ainda vivesse, teria apoiado de maneira bastante radical).

Com uma cultura musical deteriorada e a maioria do ensino superior banindo o pensamento crítico, temos uma sociedade cordeirinha de pessoas "felizes demais", tão "felizes" que não conseguem enxergar que existem pessoas querendo dormir cedo para trabalhar no dia seguinte, não cabendo a barulheira dos torcedores de futebol ou de pessoas embriagadas contando piadas sem valor e rindo de forma estridente, às vezes ao som de canções popularescas recentes, como a canhestra cena do trap brasileiro, ritmo que é uma espécie de hip hop mais tosco e brega.

O governo Lula, na sua confusão de tentar arrumar tudo ao mesmo tempo, sem se dar conta de seu ritmo frenético e sem medir prioridades, criando um risco de um fracasso retumbante com 99% de chances de ocorrer, comete o erro de priorizar a classe média movida pelo egoísmo hedonista, mais preocupada em torrar o opulento dinheiro que ganha com cigarros, cervejas, carrões e festas, enquanto pessoas que vivem com contas a pagar e precisando de alimentação mais saudável, infelizmente, veem o dinheiro se esgotar sem que uma grana extra viesse para abastecer suas finanças.

De que adianta a "nata" dos apoiadores de Lula se definir como "uma sociedade que não prega mais o ódio, mas o amor", se ela age como um bando de valentões de escola, quando a conveniência lhe permite? Esculhambar não só os concorrentes não-bolsonaristas da campanha presidencial, só para manter na marra o favoritismo de Lula, é um exemplo. Outro é esculhambar da Bossa Nova aos solteiros inveterados, a ponto dos lulistas não tolerarem sequer ver homem com mais de 35 anos morando com a mãe doente porque precisa cuidar dela.

Lula acaba favorecendo essa sociedade de classe média abastada, cujo risco real é se tornar um bando de novos super-ricos, tomando o lugar da aristocracia ortodoxa dos super-ricos atuais. Pessoas bem de vida, que não estão aí para ajudar o proximo, que mantém preconceitos meritocráticos mas que se mascaram pelo apoio obsessivo ao Lula. Acham que ter dinheiro para comprar seu cigarro de todo dia é mais importante do que ver o outro sem dinheiro tendo que resolver as dívidas financeiras e comprar alimentos saudáveis para poder viver com dignidade.

Infelizmente, os apoiadores de Lula estão bem de vida, preferem viver do puro hedonismo, achar que no Brasil está tudo bem, bastando evitar circular pelo Centro de São Paulo para não esbarrar na plebe revoltada e furiosa da Cracolândia, o novo quilombo dos excluídos sociais que destoa das festas identitárias do desbunde brega de Trancoso e Jurerê Internacional. Porque, fora das bolhas sociais da classe média hipócrita que esconde sua fortuna com sua falsa postura de pobreza, o povo pobre da vida real, diferente das comédias do cinema e da TV, não fica a madrugada toda pensando em piadas e campeonato de futebol, mas em algo para comer e um lugar para dormir.

É muito fácil, para essa elite, amanhecer publicando uma frase de Chico Xavier no Facebook ou no Instagram e anoitecer tomando rodízio de cerveja nos bares da moda. E, quando recebe prêmios pomposos em dinheiro, torram com o carrão do ano, com as viagens supérfluas e sem prazer e com as festas intoxicantes que servem mais para lotar seus estômagos de álcool e gordura saturada. 

Todos feito anjinhos nas redes sociais apelando para "ninguém criticar o governo Lula", mas vomitando preconceito quando algum endividado lhes pedem ajuda e são agredidos por bordões que vão do Fingido "não tenho dinheiro" (apesar dos R$ 100 no bolso para o estoque de cigarro) ao violento "vai trabalhar, seu vagabundo".

Estamos sob o jugo de uma velha sociedade, que parece ainda estar vivendo nos tempos da ditadura militar, e temos que desmascarar essa elite que se passa por invisível, atuando como um camaleão social, assumindo a forma que as conveniências do momento lhe indicarem para evitar serem desmascaradas. Por isso essa "sociedade do amor" é uma sociedade de máscaras, de gente que sempre foi bem de vida e agora posa de pobrezinha para lacrar bonito nas redes sociais, disfarçando seu egoísmo assustador.


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