(Autor: Professor Caviar)
Oficialmente, acredita-se que Francisco Cândido Xavier e Jair Messias Bolsonaro são figuras antônimas, o primeiro representando o "amor", o segundo o "ódio". Esquecem os brasileiros que ambos se tornaram ídolos sob as mesmíssimas condições do imaginário brasileiro, que cultua arrivistas e, contraditoriamente, passa pano nos defeitos humanos mas é defensor de um moralismo rigoroso e punitivista para os outros, é claro. Para a própria pessoa, bem de vida, não há como pedir que se aceite calado o sofrimento.
Existe uma página no Facebook chamada "Movimento Brasil à Direita", no qual se publicou a postagem sobre Jair Bolsonaro, então em campanha presidencial em 2018, estar segurando o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, que recebeu de presente da Federação "Espírita" Brasileira. Para desespero de muitos brasileiros, não é montagem Jair Bolsonaro estar segurando um livro de Chico Xavier, assim como não é preciso ser semiólogo, no nível do professor Wilson Roberto Vieira Ferreira, do Cinegnose, para notar uma similaridade simbólica entre os lemas "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" e "Brasil, Acima de Tudo, Deus Acima de Todos".
Se Chico Xavier e Jair Bolsonaro são antônimos, por que o "mítico" presidente não saiu do poder? Por que Jair Bolsonaro parece estar mais protegido por Chico Xavier do que Juscelino Kubitschek, que depois de ter sido amigo do "médium" e ter homenageado ele e a FEB, em 1960, passou a viver uma maré de azar que refletiu no Brasil inteiro e culminou na morte do político que inaugurou Brasiília?
Isso se deve porque Chico Xavier era um moralista religioso tão ortodoxo quanto Gustavo Corção, que foi um reacionário católico, com a única diferença de adotar palavras mais dóceis, uma maneira de dizer que traz a falsa impressão de "ideias progressistas" quanto elas, em verdade, são profundamente conservadoras.
Chico Xavier espinafrou os movimentos proletários e camponeses, diante de um público gigantesco dentro e fora dos estúdios da TV Tupi, durante o programa Pinga Fogo. No mesmo programa, o "médium" esculhambou o movimento dos sem-teto, para depois, em busca de promoção pessoal, fingir que estava assistindo eles. Além disso, Chico Xavier defendeu a ditadura militar, com tanta convicção que a Escola Superior de Guerra, que não daria um saquinho de jujuba para quem não colaborasse com o regime ditatorial, quanto mais uma homenagem, concedeu prêmios e espaço de palestra para o "médium".
E como ninguém diz que ele foi um "espírita de direita", bem mais radical que Carlos Vereza? Como não ver ideias análogas ao projeto golpista pós-2016, de precarização do trabalho, de "cura gay", da crininalização do prazer humano, da depreciação da qualidade de vida, da servidão e do rigor hierárquico que perdo os abusos dos privilegiados, tudo isso presente nos livros de Chico Xavier e nos depoimentos dele em muitas e muitas ocasiões? Dizer que o Sol nasce no dia seguinte da tempestade não é desculpa para creditar algo progressista na Teologia do Sofrimento de Chico Xavier.
E aí reproduzimos uma das mensagens na referida postagem do Facebook, com gente elogiando igualmente Chico Xavier e Jair Bolsonaro, só faltando dizer que as milícias são os "centuriões" da atualidade. Uma leitora, que se identificou como Suzy Halfoun (não é responsabilidade nossa, o Facebook é que mostra isso), escreveu um texto que, além de legitimar a obra fake, acima citada, como "realmente" de autoria de Humberto de Campos, veio com alegações moralistas como dizer que o Brasil é o "hospital das almas".
Vemos Amazônia e Pantanal ardendo em chamas, a Covid-19 matando sem controle, pessoas geniais morrendo de infarto, trabalho sendo precarizado, pobreza aumentando etc etc, e o pessoal achando que Chico Xavier é "progressista" por causa de sua conversa para boi dormir, prometendo bonança depois dos grandes estragos de uma catástrofe. Devemos nos convencer que a agenda de Chico Xavier é reacionária de que seu direitismo não é uma questão de interpretação opinativa, mas um fato do qual não cabe um pingo de dúvida. Vejamos o que a leitora escreveu:
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Mensagem de Suzy Halfoun
Da Comunidade Movimento Brasil à Direita - Postagem Jair Bolsonaro Presidente 2018 - Facebook
No excepcional livro de Humberto de Campos (Irmão X) "Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho", nós encontramos muitas respostas sobre o porquê deste país nos dar a impressão de ser o oposto do que o título da obra sugere.
Ocorre que o Brasil, escolhido por Jesus exclusivamente por ser receptivo às mais variadas religiões e, portanto, um ótimo berço de renovação espiritual, é como um hospital para os enfermos do espírito.
Segundo a obra citada, muitos dos espíritos que participaram das Cruzadas, Nazismo e do comércio de escravos reencarnam no Brasil, pois eles encontram aqui condições favoráveis, que não encontrariam em países mais desenvolvidos, onde a inexistência de problemas sociais e econômicos não iriam proporcionar terreno fértil para os resgates.
Tal explicação serve para os enfermos, como já explicado, como para os espíritos do bem, reencarnados no Brasil para amparar os irmãos doentes.
Este livro é o menos compreendido e o mais deturpado pelos espíritas, pois muitos acreditam que o título da obra sugere que o Brasil seja um "país abençoado", gerando assim ufanismo e xenofobia, além de ter a missão de evangelizar o mundo.
Na verdade, não há privilégios, tampouco mordomias, em ser a pátria do evangelho como muitos pensam, mas responsabilidade e sacrifício, tanto que não há nenhuma menção na obra que sugere algum tipo de benefício ao Brasil.
O fato de viver em um país onde a criminalidade reina e a justiça é falha, serve como um grande teste para todos, enfermos e sãos: resistir ao mal e persistir no bem.
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