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O padrão da Justiça que inocentou Chico Xavier

(Autor: Professor Caviar)

O padrão do que entendemos como Justiça no Brasil é bastante tendencioso. Salvo honrosas exceções, o que se observa são atuações sordidamente seletivas, nas quais o prestígio social de alguma forma é moeda de troca para a impunidade, pois torna-se medida para culpados se livrarem de determinadas punições.

Não dá para entender por que setores das esquerdas estabelecem paralelos entre Lula e o "médium" Francisco Cândido Xavier, pessoas de perfil bastante antagônico, ideologicamente opostas. A imagem de "caridoso" que muitos, mesmo os esquerdistas, atribuem a Chico Xavier, é enganosa, porque o "médium" nada fez senão pedir aos outros que doassem objetos ou fossem voluntários em atividades culinárias ou hospitalares. É como a cigarra que pede para as formigas trabalharem e, depois, se promove com o trabalho alheio.

A Justiça que condenou o ex-presidente petista é a mesma que inocentou Chico Xavier do caso Humberto de Campos. Até os critérios das sentenças são inversos. Se, no caso do ex-presidente Lula, as acusações criminais - como a que envolve um triplex no Guarujá - são desprovidas de provas consistentes, mas que lhe valeram a prisão, ordenada pelo então juiz Sérgio Moro, no caso do "médium" havia provas fortíssimas de fraudes literárias e as "psicografias" abertamente mostravam problemas em relação ao estilo original que Humberto, mesmo em obras postumamente publicadas, nos havia deixado em vida. As "psicografias" destoavam até do estilo debochado de pseudônimos satíricos do autor maranhense!!!!

Só faltou mesmo mostrar os diálogos, que possivelmente teriam ocorrido, entre Chico Xavier e o seu tutor terreno e dublê de empresário, o presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, falando mal da resenha de Humberto de Campos. É provável que a "psicografia" teria sido adotada por revanche e Wantuil teria orientado Chico Xavier a inventar um sonho com o autor maranhense para "justificar" a apropriação de seu nome em supostas obras espirituais.

Não havia técnicas de grampeamento telefônico conhecidas na época, e, além disso, o telefone, analógico e rigorosamente fixo (ligado por fiação elétrica) era um artigo de luxo. Mas a relação do conselho de Humberto, ainda vivo, para que Chico Xavier não investisse mais em obras "mediúnicas" para evitar concorrer com escritores vivos, com a apropriação de seu nome - enquanto Chico teria evitado nomes como os de Machado de Assis e Rui Barbosa nas "psicografias", apesar da autoproclamada grandeza literária que envolveu o "médium" - em supostas obras espirituais, estabelece essa suspeita.

COVARDIA "ESPÍRITA"

Afinal, por que Chico Xavier, tão associado à atração dos mais renomados autores literários, que a ele teriam recorrido para difundir mensagens edificantes, não recebeu Rui Barbosa e Machado de Assis, e recebeu apenas Olavo Bilac, como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras? E por que a ênfase num nome que, embora respeitado e muito talentoso, tinha uma projeção pública menor, como foi o também membro da ABL Humberto de Campos?

Esses são pontos duvidosos que os "espíritas", covardemente e blindados pela carteirada religiosa, se recusam a resolver. E isso mostra o quanto certos crimes precisam repousar na falta de provas ou, se as mesmas existem, na recusa em admiti-las. Alexandre Caroli Rocha, acadêmico "espírita", é um exemplo de como a covardia pode tomar as pessoas, e seu medo em admitir a fraude na série que leva os nomes de "Humberto de Campos" e "Irmão X" o faz apostar no método falacioso no qual se recusa o exame simples do raciocínio lógico, justamente a ferramenta maior de Allan Kardec:

"Vimos que não é pertinente a pressuposição de que, por meio apenas de fatores textuais, seja possível autenticar ou refutar a alegação do médium. Mostramos que os textos colocam à tona a discussão a respeito do post-mortem, tema que, nos ambientes acadêmicos, costuma ser relegado a domínios metafísicos ou religiosos. Concluímos, pois, que os veredictos taxativos para a identificação do autor são possíveis somente com a assunção de uma determinada teoria sobre o postmortem ou sobre o fenômeno mediúnico. Quando, no debate autoral, ignora-se a relação entre teoria e texto, percebemos que a apreensão deste é bastante escorregadia, mesmo entre leitores especialistas".

Alexandre Caroli Rocha - Complicações de uma estranha autoria (O que se comentou sobre textos que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos) Revista Ipotesi, Universidade Federal de Juiz de Fora, v.16, n.2, p. 25-36, jul./dez. 2012.

Isso é mais ou menos como dizer que é impossível que dois mais dois sejam igual a quatro, alegando que, para se chegar a esse resultado, seria necessário, primeiro, recorrer a uma complicada equação matemática, em diversas etapas, para se chegar ao resultado desejado.

Escorregadio é o que Alexandre Caroli Rocha quer que prevaleça nas obras "psicográficas". E ele tenta argumentar, visivelmente para blindar Chico Xavier, que as obras do suposto Humberto "não podem" ser avaliadas pela simples questão textual. Caroli prefere deixar o assunto em "aberto", até que, segundo ele, fossem avaliadas, primeiro, as "relações entre espírito e médium e a natureza do espírito na vida após a morte".

Só que existe um problema. Para que esses critérios "exigidos" por Caroli Rocha fossem apreciados, deveriam ser retirados do mercado e indisponibilizados pela Internet, sob pena de apreensão criminal de cópias pela força policial, das obras "mediúnicas", porque se supõe que o exame solicitado pelo acadêmico, ao depender de análises complexas, exigiria a retirada imediata dos livros no mercado, porque se pressupõe uma incerteza, porque, se as obras "mediúnicas" não são consideradas "falsas", elas também não podem ser consideradas "verdadeiras", e, por isso, elas não podem estar disponíveis ao grande público diante desse aspecto de dúvida.

Mas, em vez disso, o que temos? A falácia, se não dita por Caroli, mas, inferimos, é defendida e compartilhada no "meio espírita", de que os livros "mediúnicos" são aceitos ou não pelos leitores como "autênticos" dependendo da fé de cada pessoa. Quanto cinismo. O descaramento dos "espíritas" é tal que é permitido ofender a memória dos mortos sob a desculpa da "liberdade da fé". E, pasmem, rejeitar isso ainda é visto, erroneamente, como "intolerância religiosa". Pode isso?

O MUNDO É O MESMO

O mundo de João Frederico Mourão Russell - o juiz suplente, à maneira da paranaense Gabriela Hardt, na Operação Lava Jato, hoje, pois ele desempenhou tal tarefa, há 75 anos, na 8ª Vara Criminal Federal - , que inocentou Chico Xavier num empate jurídico, pois creditou o processo judicial como "improcedente", não é muito diferente de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e de tendenciosos como Luiz Fux, que os dois astros da Lava Jato consideravam "confiável".

Do mesmo modo, o mundo desses juízes, procuradores, promotores e policiais tendenciosos não é diferente do mundo dos juristas "espíritas" Haroldo Dutra, escudeiro de Divaldo Franco, e José Carlos De Lucca, um dos que paparicam Chico Xavier em livros. Como também não é diferente do mundo em que vive José Medrado, funcionário de um fórum em Salvador. 

José Medrado tem tantas acusações no lombo: sua Cidade da Luz é acusada de ser instalada de forma irregular, sua "mediunidade" tem indícios de fraude em pinturas, esculturas e livros e ele ainda é acusado de tratar mal as crianças que vivem na instituição e, como se não bastasse, em suas palestras (que, aos poucos, perdem público e só resta seu clubinho de 200 burgueses baianos que sempre vão onde ele vai divulgar suas atividades) o risonho "médium" faz piadas ofensivas contra pessoas gordas, louras em geral (mesmo as que são louras artificiais, pela tintura no cabelo) e contra sogras.

Além disso, José Medrado também havia dado, há um tempo, a recolher dinheiro dos fiéis, como a vizinha Igreja Universal do Reino de Deus, situada a poucos metros, naquela área do Pituaçu, faz, recolhendo o dinheiro "para a caridade", embora sabemos em que o dinheiro é aplicado, pois um modesto funcionário público que é o "médium" sempre entra no local com seu potente carrão esportivo, que, oficialmente, deve ter sido pago por Jesus Cristo sob as súplicas do espírito do frei Carlos Murion, ligado ao "médium".

Ficamos perguntando por que os "médiuns" brasileiros gostam tanto de juízes e magistrados em geral. Dois deles são palestrantes "espíritas", De Lucca e Dutra. Será porque os "médiuns" cometem tantas irregularidades - como as "psicografias" que apontam conteúdo fake, prática ilícita observada até no "renomado" Chico Xavier - e precisam da blindagem da Justiça na Terra?

É muito, muito estranho. E ninguém no "movimento espírita" protesta contra os salários e mordomias exorbitantes que nossos magistrados recebem de maneira vitalícia, eles que se aprofundam nos gozos materiais com apetite desmedido. Há casos de juízes e procuradores que cometeram feminicídio e gozam da mais absoluta impunidade. Outros, que realizam impunidades a outros feminicidas ou a fazendeiros e pistoleiros, ou a políticos corruptos em geral, também são típico casos. E não há um "espírita" com pulso firme, apenas com o papo mole de que "sim, existem irmãos que cometem esses erros lamentáveis, mas a Justiça de Deus, maior que a de todos os homens, chegará com sua conta, cobrada de maneira irrevogável aos infratores da Terra".

Conversa fiada. Como fiado também é a vida desses "infratores da Terra", que empurram suas encrencas com a barriga, enquanto o contraditório moralismo "espírita", que culpabiliza as vítimas de infortúnios e tragédias, lhes dá uma moratória de uma encarnação inteira mesmo quando os criminosos ou pecadores graves permanecem num mero "turismo" existencial.

Esse é o mundo em que Lula é condenado sem provas por uma mal-contada estória sobre o triplex na cidade paulista de Guarujá. E é o mesmo mundo em que Chico Xavier ficou impune num caso em que claramente há irregularidades na "psicografia", envolvendo uma grave usurpação de um nome famoso visando a venda de livros e comprovadamente associada a uma trajetória de circunstâncias suspeitas. Chico Xavier é o Aécio Neves que deu certo e, agora, na onda dos "médiuns que erram", ele é um dos poucos que puderam errar demais, com graves consequências, e não só não ser responsabilizado por isso, mas não deixar de ser idolatrado como um semi-deus, embora num fanatismo muito mal disfarçado na "adoração simples a um homem humilde e bom". Como é fácil usar o prestígio religioso em causa própria, no Brasil, sob as bênçãos da Justiça dos homens.

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