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Marcha fascista nos EUA põe em xeque tese da Data-Limite

(Autor: Professor Caviar)

A marcha dos supremacistas brancos, na cidade de Charlottesville, Virgínia, EUA, é um fato bastante sombrio que contraria as previsões otimistas sobre o século XXI e que haviam sido esperadas em 2012, até pelos "espíritas". A ideia de que a sociedade iria se tornar mais moderna, altruísta, sensata e prudente foi posta em xeque diante do ascendente movimento neo-nazista de uma cidade norte-americana, que chamou a atenção do mundo.

A manifestação foi motivada porque o prefeito de Charlottesville, Mike Signer, planeja retirar a estátua do comandante confederado Robert E. Lee, derrotado na Guerra da Secessão e defensor do regime escravo, combatido pelas autoridades estadunidenses. Lee era considerado um herói pelos fascistas daquela cidade, tratado como se fosse um "mártir", embora ele não tivesse sido assassinado na referida guerra que ocorreu entre 1861 e 1865 entre os Estados do Norte, abolicionistas, e os do Sul, escravagistas.

Outra manifestação paralela ocorreu, com os grupos anti-fascistas que formaram uma "parede humana" no campus da Universidade da Virgínia. Os dois grupos entraram em conflito e um motorista de inclinação neo-nazista atropelou os anti-fascistas, ferindo várias pessoas e matando a jovem ativista Heather Heyer, de 32 anos. O rapaz, James Alex Fields Jr., de 20 anos, foi preso.

A manifestação é um dos vários incidentes no Primeiro Mundo que revelam retrocessos sociais profundos. De repente, uma considerável parcela de jovens passou a se identificar com ideias fascistas ou grupos terroristas, radicalizando a onda ultraconservadora que tomou o planeta em 2016.

Aparentemente, isso não contraria a suposta profecia do "médium" Francisco Cândido Xavier sobre a "data-limite", que já admitia retrocessos sociais no Primeiro Mundo. A "profecia", cheia de graves erros de abordagem sociológica e geológica, tinha como objetivo justificar a utopia do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" que consagraria mundialmente o "espiritismo" brasileiro. Uma utopia inspirada em Jean-Baptiste Roustaing, por mais que o "movimento espírita" tente a todo custo se proclamar "absoluta e rigorosamente fiel a Allan Kardec".

No entanto, a manifestação de Charlottesville põe em xeque, sim. Afinal, o episódio foi muito bem recebido por internautas brasileiros, que nas redes sociais elogiaram a atitude dos fascistas e clamaram, mais uma vez, seu desejo de ver Jair Bolsonaro chegar à Presidência da República, uma ameaça que não pode ser subestimada pela sociedade que, infelizmente, anda muito alienada e deslumbrada com o perigoso momento atual em que vive o Brasil, com o desmonte de direitos sociais gradualmente estabelecido pelo presidente Michel Temer.

Jair Bolsonaro, sabe-se, acumula encrencas e crimes graves, relacionados a ofensas seriíssimas contra negros, mulheres e judeus, para não dizer os movimentos sociais. Ele fez apologia à tortura quando, na votação de abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, fez seu voto favorável a esta medida evocando a memória do torturador Brilhante Ustra, que a tinha como presa política, quando Dilma era apenas uma estudante e militante política. Bolsonaro também fez ofensas graves à colega na Câmara dos Deputados, a petista Maria do Rosário, fazendo apologia ao estupro.

Bolsonaro, que chega ao ponto de reclamar até de ter tido filha - embora esta também fosse uma reacionária - , só consegue condenações leves, como multas, e o caso Maria do Rosário só rendeu uma multa de R$ 10 mil. Os crimes que Bolsonaro cometeu são suficientes para cassação do mandato e prisão em regime fechado. A multa determinada é relativamente fácil de pagar e até os fanáticos fãs de Bolsonaro são capazes de fazer vaquinha para recuperar o patrimônio financeiro de seu ídolo.

Jair tem dois filhos no Legislativo, Flávio e Eduardo, ainda mais agressivos. Eduardo Bolsonaro é acusado por uma ex-namorada de fazer ameaças por mensagens de celular. Os fãs de Bolsonaro também são um fenômeno muito perigoso, pois nas redes sociais não medem escrúpulos para difundir ofensas pessoais graves e publicar baixarias suficientes para que suas contas fossem canceladas pelos provedores.

A ascensão de fascistas no Brasil é um efeito das mesmas tendências que, lá fora, estão associadas a grupos obscurantistas como a Klu Klux Klan e terroristas como o Estado Islâmico. A situação brasileira é preocupante: há poucos dias, neo-nazistas fizeram uma manifestação no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Infelizmente, eles estão muito animados com os rumos do país hoje e posam de triunfantes e acreditam estarem vitoriosos.

A catarse coletiva dos jovens, que veem ideias obscurantistas e movimentos fascistas como "novidades", é uma perigosa tendência e fruto das deficiências educacionais e familiares motivadas pela sociedade de mercado, um problema que as religiões se limitam a reclamar, mas pouco contribuem para que seja superado.

O próprio "espiritismo" anda muito complacente com o atual momento. Evidentemente não vai aprovar os movimentos fascistas, mas consente, por exemplo, com as pautas retrógradas do governo Michel Temer, que ameaçam a vida dos trabalhadores, com a perda dos direitos e da proteção da lei.

Tantos textos "espíritas" foram publicados fazendo apologia ao sofrimento humano. Chegaram mesmo a dizer que o indivíduo tem que "combater o inimigo que existe em si mesmo", uma contradição para uma religião que diz condenar o suicídio. Afinal, ninguém se suicida por diversão e a ideia do "inimigo de si mesmo" acaba se tornando, acidentalmente, uma apologia ao suicídio.

Os apelos "espíritas" são muitos: "ame o sofrimento", "aceite as desgraças", "abra mão de seus desejos", "se conforme com as adversidades do caminho", "reveja seus pensamentos", "reveja suas habilidades", o que parece uma campanha subliminar de apoio ao governo Temer e à sua pauta de reformas que pouco a pouco irão reduzir os direitos trabalhistas, muitos duramente conquistados, a quase nada.

A pouco mais de um ano para a chegada de 2019, e há exatos dois anos após a fixação da "data-limite" - lembrando que determinar datas prévias para evolução da humanidade é uma prática reprovada por Kardec, que via nisso "indício de misfiticação" - , o Brasil está longe de atingir sequer as condições potenciais de se tornar "coração do mundo" e "pátria do Evangelho", embora, em atitude precipitada, o periódico "Correio Espírita" tenha anunciado que a "pátria evangelizadora" já foi inaugurada.

Melhor que não fosse. É certo que o Brasil não será "coração do mundo" porque retomou, com os retrocessos sócio-políticos de 2016 até agora, a situação humilhante que tinha antes frente à comunidade das nações: um país subalterno, desnorteado com os rumos do planeta, preocupado com o próprio umbigo e refém de seu próprio atraso.

No entanto, ver o Brasil como "nação poderosa" no âmbito da religião e da política, como sonhava Chico Xavier com sua ufanista denominação, é um perigo gravíssimo e que, na obra kardeciana, pode-se inferir ser uma ideia improcedente e arriscada.

Experiências históricas mostram que um país que se proclama "centro do mundo" e "modelo de doutrinação religiosa", como quer o projeto "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", se torna não um exemplo próspero de progresso moral e espiritual, mas antes uma ameaça totalitária representada por um misto de teocracia e imperialismo.

O Catolicismo medieval também se valeu das mesmas argumentações "fraternais", "pacificadoras" e "unificadoras" da "pátria do Evangelho", mas resultou num domínio sangrento que praticou graves genocídios contra quem não professasse a "fé cristã".

No âmbito político, a Alemanha nazista também tinha um projeto de ser o "centro do mundo", e, para uma parcela de seu povo, prometia a mesma supremacia evolucionista que era ameaçadora apenas para quem estava fora do círculo de beneficiados, como pode ser o caso dos "não-espíritas" num futuro contexto do Brasil como "coração do mundo".

É bom alertar que os "espíritas" já comprovaram o risco de justificarem holocaustos como "resgates coletivos" e aceitar a desgraça humana sob a desculpa de "reajuste espiritual". O "espiritismo" tem a estranha postura de não condenar o homicídio com a mesma intransigência com que condena o suicídio, em certos casos encarando o homicídio doloso como se fosse culposo, "motivado" por "dívidas morais" e atribuindo culpa à vítima.

Os próprios "médiuns" Chico Xavier e Divaldo Franco têm casos de juízos de valor muito cruéis. Chico Xavier acusou as humildes multidões vítimas do incêndio em um circo em Niterói, em 1961, de terem sido "romanos sanguinários". Divaldo Franco acusou os refugiados do Oriente Médio que tentam voltar à Europa de terem sido "tiranos colonizadores". Com base nisso, para que o projeto "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" se transforme numa tirania sanguinária, é questão de tempo.

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