(Autor: Professor Caviar)
Mais uma personalidade sucumbe à mistificação diabética das mensagens de Francisco Cândido Xavier, cujo mito tenta ser realimentado de maneira desesperada, a meses de completar 20 anos de morte, que será em 30 de junho de 2002.
A cantora e compositora Rosa Passos, se somando a outros desserviços de quem fica espalhando nas redes sociais as mensagens infelizes de Chico Xavier, transformando esses espaços em verdadeiras igrejas, impedindo a liberdade de pessoas exercerem um entretenimento laico sem a subjugação da fé, veio com esta frase publicada no Instagram:
"Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorrir, sorria hoje. Se tiver que chorar, chore hoje. Pois o importante é viver hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha".
Essa mensagem reflete uma gravíssima contradição do pensamento de Chico Xavier, que sempre defendeu a Teologia do Sofrimento, que é a corrente mais radical do Catolicismo professado na Idade Média e que, na idade contemporânea, foi resgatado por Teresa de Lisieux e popularizado por Madre Teresa de Calcutá, no exterior, e por Chico Xavier, no Brasil.
Chico Xavier sempre apelava para os sofredores extremos, aqueles que enfrentam desgraças, obstáculos e tragédias sem fim, que se acumulam e se agravam com o tempo até atingirem graus extremos de prejuízo humano irreparável, a aceitarem tudo isso calados, resignados ou, quando muito, a enfrentar dificuldades ainda mais pesadas para superar os infortúnios anteriores. A desculpa usada pelo "médium", no seu moralismo punitivista, é que se deve aguentar dificuldades extremamente pesadas, mesmo as que desafiam os limites das capacidades pessoais, visando obter o prêmio das "bênçãos da vida futura".
Ou seja, a pessoa tem que prejudicar a si mesma e aceitar até mesmo viver de sobressaltos e humilhações, para que no futuro possa conhecer a bonança, de acordo com esse recado de Chico Xavier. É aquele discurso hipócrita que diz "Dia de desgraça, véspera de bênçãos".
Só que Chico Xavier cai em contradição, quando se fala em "viver o hoje", porque "o amanhã talvez não venha". Como o amanhã não vem? Ele não é um divulgador do Espiritismo? Sabemos que não, mas nem para conseguir enganar as pessoas Chico Xavier consegue, se ele consegue assediar as pessoas a se tornarem apoiadoras dele, é porque estas estão terrivelmente desinformadas de tudo, como a nossa classe média prisioneira e escrava de suas fantasias e ilusões.
E isso revela uma perversidade muito grande no pensamento moralista de Chico Xavier, mesmo quando expresso em palavrinhas bonitinhas. Afinal, ele defende que os oprimidos suportem suas desgraças "sem queixumes", expressão favorita da retórica do "médium". Só que, juntando as peças, se observa que a desgraça humana não tem fim mesmo na tal "vida futura", porque "o amanhã, podendo não vir", simplesmente representa o abismo a ser encarado pelo sofredor extremo.
Isso é positividade tóxica. Pedir para o sofredor aguentar sua desgraça e, ainda por cima, pedir para ele "viver o hoje, porque o amanhã pode não vir", é de um sadismo muito grande que o balé das palavras "espírita" disfarça muito bem, a ponto de pessoas que estão bem de vida espalharem por aí as mensagens mistificadoras de Chico Xavier, transformando as redes sociais, que já são antros de ilusão e fantasia desmedidas, em igrejas digitais.
Para quem vive a situação de pessoas que têm que suportar a miséria, o desabrigo, a doença grave, as desgraças sem fim, as humilhações cotidianas etc, claro que não vai apreciar as mensagens tóxicas de Chico Xavier, o seu "tóxico do espiritualismo".
Mas quem está de bem com a vida e está remediado em quase tudo, é fácil despejar nas redes sociais as mensagens mistificadoras e obscurantistas do "bondoso médium", quando deveria cultuá-lo dentro do lar, em vez de forçar os algoritmos de plataformas como Instagram e YouTube invadirem contas de gente laica com vídeos e postagens de Chico Xavier, incomodando aqueles que usam as redes sociais para atividades fora dos cercadinhos religiosos da fé mistificada.
E é isso que faz com que Chico Xavier não seja o "médium dos pés descalços" que muitos alardeiam por aí. Ele é o "médium" da classe média, da burguesia com mania de Assistencialismo barato, voltada a um moralismo conservador que, do lado delas, consiste em veicular mensagens de positividade tóxica, mesmo num momento em que se vive tempos distópicos no Brasil.
Só mesmo uma burguesia desprovida de qualquer senso de discernimento para apreciar e admirar Chico Xavier, porque essas pessoas não são dotadas de um grau informativo, cognoscitivo e crítico para desconfiar do misticismo obscuro do "médium" e nem se dar conta de como as ideias dele são medievais, não tendo uma vírgula de modernidade, futurismo ou progressismo nas mesmas.
Falando mais claro: só mesmo pessoas que estão bem de vida e não possuem a consciência real da realidade nua e crua em que vivemos é que vão adorar e admirar Chico Xavier de toda forma, seja do fanatismo religioso mais sectário, seja do distanciamento "isento" de quem, em tese, não quer se envolver formalmente na religião "espírita". Chico Xavier só é mestre nos terrenos onde a burrice e a fantasia encontram cenário propício.
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